IA em peso

Com os avanços da IA e num mundo em rede cada vez mais questionável, a educação dos mais jovens passa por uma espécie de guarda partilhada entre os pais e os gigantes tecnológicos

A Inteligência Artificial continua a dar provas do seu potencial em todas as frentes. E, consequentemente, dos seus perigos. Na última semana a IA voltou a dominar as conversas em setores bem distintos, mostrando que a sua presença ocupa cada vez mais espaço. E mais ainda: que não ser simplesmente removida mesmo quando for esse o desejo. 

A chegada do novo ícone ao WhatsApp, o círculo em tons de azul e roxo no canto inferior direito da aplicação, é só um dos mais recentes exemplos dos avanços tecnológicos. 

«Pergunte o que quiser à Meta AI» é o desafio lançado pela nova ferramenta da empresa responsável por plataformas como Facebook e Instagram que pretende assemelhar-se aos ‘chatsGPT’s’ da vida. 

Mas não é apenas no universo das aplicações e das redes sociais que a IA se manifesta em peso.

Do mercado livreiro à publicidade, os casos continuam a multiplicar-se e sem grandes probabilidades de o cenário inverter-se. 

Nos últimos dias, a notícia de um autor e filósofo chinês criado pela IA é mais um alerta para o fenómeno. Nascido em Hong Kong e com morada em Berlim, Jianwei Xun esteve na ordem do dia após a criação do termo “Hipnocracia” – conceito que deu título ao seu livro, lançado este ano. Na sinopse disponibilizada no site da Wook, a obra é apresentada desta forma: «Das figuras icónicas de Trump e Musk às arquiteturas das plataformas digitais, Xun desvenda os mecanismos pelos quais o poder molda a nossa perceção da realidade», induzindo um estado de «hipnose na consciência colectiva». O livro está traduzido em italiano, espanhol e francês, mas o autor não existe. Nos últimos dias, e após várias tentativas infrutíferas de contacto com Xun, a jornalista Sabina Minardi (da revista italiana L’Espresso) desvendou que o autor é, afinal, um pseudónimo de Andrea Colamedici. O filósofo italiano desenvolveu a matéria com a colaboração de plataformas de IA, ganhando expressão no meio e tendo mesmo sido citado por vários intelectuais. O caso concreto reacendeu mais uma vez o debate sobre os desafios que a Inteligência Artificial continua a colocar-nos.

Também durante a última semana um anúncio falso da KFC gerado pela IA começou a circular nas redes sociais. Com uma duração de 45 segundos, a promoção, com um custo de cerca de 350 euros, vem colocar o setor publicitário debaixo de fogo. Com a IA a aliciar as marcas com as suas capacidades, o grande desafio das agências de publicidade passa por perceber qual a melhor forma de tirar partido das novas ferramentas disponibilizadas, colocando-as como um meio e não como o princípio e fim do processo criativo. 

Num momento em que os conteúdos suscitam cada vez mais dúvidas e num mundo em rede cada vez mais problemático, a Meta decidiu bloquear a opção da transmissão de diretos no Instagram aos menores de 16 anos (até há dias a idade legal para casar em Portugal com consentimento dos pais).

Com a chamada de atenção dada pela série ‘Adolescência’ da Netflix, os alarmes voltaram a soar, e a educação dos jovens passa agora por uma espécie de guarda partilhada entre os progenitores e os gigantes tecnológicos. 

Que deixam, de resto, a possibilidade de os pais questionarem o seu papel na mais recente função disponibilizada…