A galeria dos horrores e a galeria dos heróis

Na imutável previsibilidade destas ‘cornetas do diabo’ urbanas, o monstro nacional, ‘o Ventura’. Oh… o Ventura!

Pesado tributo pago pela vida que escolhi é o que se prende com a necessidade de folhear os jornais da pátria. A previsibilidade das notícias e da forma como são abordadas; a platitude repetitiva das colunas de opinião; a indigência das supostas reportagens que nada reportam para além dos pressupostos ideológicos dos jornalistas são de ir às lágrimas. Com poucas exceções, caso deste Nascer do SOL (onde sempre escrevi o que quis) e uma pequena parte do Observador. Acrescente-se a esta short list alguns – muito poucos – mais, caso da Clara Ferreira Alves na revista do Expresso, e – tem dias – o João Miguel Tavares, no Público.

Vamos à usual galeria dos horrores desta imprensa e que nunca falha: Desde logo, o Grande Demónio Laranja, esse execrado Donald Trump que, da primeira à última página, desde há três meses perde todas as batalhas em que entrou na véspera sem nunca se relatar, no dia seguinte, que esses batalhas que se deram por perdidas foram, afinal, vencidas. Esse ‘bronco’, eleito por broncos e apoiado por broncos. há três meses que morre politicamente todos os dias nas páginas dessa ‘séria’ e ‘rigorosa’ Imprensa sem que alguma vez se anunciem as suas obviamente imprescindíveis ressurreições. Segue-se o ‘crápula’ da Tesla, o Musk, que em seis meses foi empurrado dos píncaros da genialidade para o abismo da mais crassa idiotia e que todos os dias, desde há seis meses, perde dezenas de biliões mas continuando, milagre! Tão rico como dantes. Seguem-se os inenarráveis idiotas da plastificada Hollywood, esses kens e essas barbies embalsamados em cocaína dentro de banheiras cor-de-rosa que todos os dias abandonam, sem abandonarem, as suas piscinas com crocodilos amestrados na degradada Califórnia em direção à Europa por causa ‘do Trump’ e ‘do Musk’ e ‘do Vance’. Que ternura.

Segue-se, na imutável previsibilidade destas ‘cornetas do diabo’ urbanas, o monstro nacional, ‘o Ventura’. Oh… o Ventura! Esse espertalhão, nipo-nazi-fascista, acolitado por um exército de grunhos racista e xenófobo. No sobe e desce dos jornais, todos sobem, mas André Ventura sempre desce. Desprezado, ele e o seu partido, por um certo tipo de personagens que se imaginam Carlos da Maia mas que não passam de cópias factícias do imortal Damasozinho Salcede, forma e arquétipo de todos eles. É gente chic a valer, ‘com ideias’, ‘com projetos’, com propostas, dizem eles de si e os jornais e revistas proclamam-no. Esquecendo que foram as ‘ideias’ e os ‘projetos’ deles que nos arrastaram, a todos, até esta terra de ninguém e de toda a gente que é o Portugal de hoje.

Quanto à galeria dos heróis, o grandiloquente relato, pelos mesmos jornais, das suas magníficas aventuras não consegue esconder, ou mesmo disfarçar, o guarda-roupa fruste com que se pavoneiam, as espadas de pau com que ameaçam e o cenário pelintra onde se agitam mas, principalmente, a desorientação com que se movem no palco europeu. Macron rodopia dentro do Eliseu com grandes frases e pequenos meios. Von der Leyen promete pazadas de centenas de biliões que não existem nem vão existir. Talvez na Pfizer? Merz, atual chanceler e ex-Blackrock reúne um parlamento fantasma para endividar os alemães até à quinta geração. Tusk, o velho guru de Bruxelas, prende, na Polónia, adversários políticos. Mas aqui a comédia vira tragédia, fica para a próxima semana.