Como podemos ajudar os adolescentes?

Não devemos entrar em pânico ou pensar que todos os adolescentes estão em perigo, que são todos incels, vítimas ou mauzões.

Nas últimas semanas os adolescentes têm estado na boca do país e do mundo. Não só pela minissérie Adolescência, que deixou muitos pais em sobressalto, mas também pelos acontecimentos perturbadores que nos vão chegando com maior regularidade do que desejaríamos, seja através dos meios de comunicação ou mesmo do relato dos mais novos quando chegam a casa.

Uma coisa é certa. Alguns adolescentes parecem aflitos.

Sem dúvida que a internet e as redes sociais têm um papel impulsionador de certos comportamentos. Não só ao nível da divulgação, mas sobretudo do alheamento relacional e da inércia de que muitos jovens se vão tornando reféns. Não é igual estar com os amigos – e inimigos – pessoalmente ou através das redes sociais. É na relação que crescemos, que experimentamos, que nos conhecemos e descobrimos, que aprendemos a gerir conflitos, a lidar com imprevistos e frustrações. E se por um lado os pais tendem a pensar que o perigo está na rua, tornando-se, muitas vezes, demasiado protetores ou controladores – o que pode tender a fragilizar e a tornar os mais jovens menos aptos –, a preocupação não é tanta em relação ao que fazem nos seus telemóveis durante dia e noite. Se não nos agrada que os nossos filhos andem com más companhias, não pensamos que as más influências possam chegar, sem filtros, constantemente através do aparelho que trazem na mão.

Embora os pais façam um esforço hercúleo para estarem mais presentes e disponíveis na vida dos filhos, aquilo a que assistimos é que os adolescentes estão muito entregues a si próprios. Num país em que os dias passam demasiado depressa, o trabalho e a escola se prolongam muito para lá do razoável e os jovens têm muitas vezes atividades ao final do dia, o tempo de qualidade, genuína partilha e convivência, extingue-se entre obrigações e tempo para descomprimir.

Não devemos entrar em pânico ou pensar que todos os adolescentes estão em perigo, que são todos incels, vítimas ou mauzões. Mas convém parar para pensar nos jovens que, muitas vezes, entre o receio e o desejo de crescer, e face a todas as mudanças por que passam, se sentem um pouco perdidos ou desamparados. Fecharem-se no quarto para se afastarem dos pais faz parte do processo de autonomia. Quem não se lembra do som dos CD’s e do rádio em ‘altos berros’ que fazia uma barreira entre os adultos e o quarto dos adolescentes? Do nosso quarto. Mas hoje a música é diferente.

A sociedade está a enfrentar mudanças estruturais profundas e as crianças e os jovens precisam de uma família estruturada, atenta e participativa no seu desenvolvimento, que possa ser um exemplo e um porto de abrigo.

É perigoso deixá-los desde tenra idade absortos nos meandros incontroláveis da internet. Devemos adiar este encontro o mais possível, controlá-lo e limitá-lo. E estar presentes e disponíveis. Conversar, aproximarmo-nos, promover momentos prazerosos em família, de partilha, por exemplo à mesa, reunidos à hora do jantar, sem televisão ou telemóvel. Estarmos, realmente, uns com os outros.

Embora nem sempre seja fácil chegar aos adolescentes, nem sempre pareça que nos queiram ouvir ou seguir, não devemos desistir de plantar as sementes da nossa presença, do nosso apoio e dos nossos valores. Poderão demorar mais tempo a germinar, mas um dia, certamente, irão florescer e dar frutos que perdurarão.