NBA. Duelo de titãs

Enquanto Shai Gilgeous-Alexander parece caminhar a passos largos para receber o prémio de MVP da temporada regular, que termina este domingo, Nikola Jokić almeja a quarta distinção em cinco anos. Quem ganhará?

Que o basquetebol é um desporto colectivo, ninguém duvida. Que o sucesso da NBA ao longo do tempo foi sendo construído sobre os ombros de gigantes, também não. Foi através do talento extraordinário de jogadores como Larry Bird, Kareem Abdul-Jabbar, Michael Jordan, Magic Johnson, Bill Russell ou Kobe Bryant – só para nomear alguns – que a liga organizada pela National Basketball Association se transformou num dos maiores espetáculos desportivos do mundo. Também não surpreende, por isso, que o prémio de MVP (jogador mais valioso) seja uma das distinções mais importantes de cada temporada, um carimbo de excelência que garante a quem o recebe um lugar na História da NBA.

Até há poucas semanas, dois jogadores perfilavam-se como os mais prováveis candidatos a melhor jogador da temporada 2024/25, cuja fase regular termina este domingo, 13 de abril, seguindo-se uma liguilha para apurar os últimos apurados para a fase de playoffs, com arranque marcado para dia 19 do mesmo mês. São eles Shai Gilgeous-Alexander, o base canadiano dos Oklahoma City Thunder, e Nikola Jokić, o poste dos Denver Nuggets que já por três vezes conquistou a distinção (em 2020/21, 2021/22 e 2023/24). Mais recuado segue um pelotão de candidatos constituído por Giannis Antetokounmpo (Milwaukee Bucks), Anthony Edwards (Minnesota Timberwolves) e Jayson Tatum (Boston Celtics). «O melhor que a liga tem é o fato de haver sempre vários candidatos a MVP, é extraordinário», considera Carlos Barroca, referência no mundo do basquetebol, comentador e treinador, que em 2024 regressou a Portugal depois de 10 anos na NBA, período em que foi vice-presidente de Operações na Ásia.

Ainda assim, e embora tenha o seu preferido, Barroca não duvida: «Este ano é uma corrida a dois». Ou nem isso, na realidade, a julgar pelas cotações das casas de apostas. Nem todas as empresas de jogo aceitam apostas sobre o próximo MVP, mas as que aceitam são unânimes: o favorito é Shai Gilgeous-Alexander, e por larga margem – uma aposta certeira de 100 euros no jogador canadiano devolveria entre 101 e 104 euros, ao passo que no sérvio valeria entre 1000 e 1700 euros.

Barroca concorda com a avaliação: «Este ano, o jogador dos Oklahoma City Thunder, quer pela liderança da equipa, que está a ter um desempenho fantástico, quer pela performance individual ao longo da época, é, na minha opinião, o candidato número um». Com uma média por jogo de 32,7 pontos, 5 ressaltos e 6,4 assistências, Shai Gilgeous-Alexander é uma das razões da equipa de Oklahoma ter sido a melhor da Conferência Oeste durante a temporada regular. Mas não é de agora que o jogador de 26 anos de idade e 1,98m de altura dá nas vistas. «Também foi preponderante no Mundial de 2023, em que a seleção do Canadá conquistou o terceiro lugar, superando os Estados Unidos na luta pelo Bronze [a Alemanha derrotou a Sérvia na final]», lembra Barroca.

Uma máquina com 2,11m de altura

Nikola Jokić, por sua vez, está com uma média de 30 pontos, 12,8 ressaltos e 10,2 assistências por jogo. «É uma máquina», diz. «E é um jogador grande [2,11m de altura], mas completamente dominador: lança dos três pontos que é uma maravilha, passa que é uma maravilha, e, sobretudo, tem a capacidade de decidir nos momentos chave».

A 1 de abril, contra os Minnesota Timberwolves, Jokić marcou 61 pontos, ganhou 10 ressaltos e fez 10 assistências. Não foi o suficiente para evitar a derrota por 140-139, mas chegou para bater o recorde de pontuação de um jogador em contexto de triplo-duplo (acontece quando, no mesmo jogo, o atleta atinge a casa das dezenas nos pontos, ressaltos e assistências), estabelecer uma nova marca pessoal e alcançar a maior pontuação de qualquer jogador na presente temporada.

«É uma coisa absurda», desabafa Barroca. «Agora, o Jokić já ganhou o MVP por três vezes. O Shai nunca. Mas o Shai também nunca fez uma época como esta, nem nunca os Oklahoma estiveram na liderança do campeonato como estão agora. Há aqui uma série de fatores que podem influenciar».

MVP nunca será americano

O prémio de jogador mais valioso (MVP) é atribuído por votação e entregue no final da temporada regular, antes da fase de playoffs. Um painel de 100 jornalistas e comentadores de basquetebol dos Estados Unidos e do Canadá vota com base no desempenho individual do jogador, no seu impacto na equipa e no seu sucesso, e na consistência ao longo da época.

Umas vezes a escolha do MVP é consensual, noutras motiva controvérsia. Shaquille O’Neal na época 1999/00, em que levou os Los Angeles Lakers ao título, ou Stephen Curry em 2015/16, quando bateu o recorde triplos e liderou os Golden State Warriors a vencer 73 jogos (em 82) da temporada regular, são exemplos de jogadores que venceram o prémio MVP de forma quase unânime. Do lado da controvérsia surge, por exemplo, o ano em que Michael Jordan perdeu para Karl Malone apesar de ter estatísticas melhores e mais vitórias. Aconteceu em 1996/97 e especulou-se na altura que a decisão teria tido motivações políticas, porque Jordan já tinha conquistado o prémio por quatro ocasiões, e tudo o que é demais, cansa (para compensar, no ano seguinte ganharia uma quinta e última vez).

Ora, nos últimos quatro anos, Nikola Jokić foi considerado o jogador mais valioso por três vezes. Se ganhasse novamente, o que começa a parecer improvável, juntar-se-ia a um clube restrito de jogadores onde figuram Bill Russel – lenda dos Boston Celtics, com quatro vitórias entre 1960/61 e 1964/65 – e LeBron James, que igualou o feito entre 2008/09 e 2012/13. Por outro lado, pode entrar o fator fadiga. Uma coisa é certa: seja Jokić ou Gilgeous-Alexander, o MVP não será americano. «É algo que tem sido comum nos últimos anos, o que prova que o basquetebol internacional contribui cada vez mais em qualidade e quantidade para que a NBA seja cada vez melhor».