Enquanto certos líderes, nacionais e internacionais, persistem no erro de pensar que ainda somos pessoas monoculturais, se é que alguma vez tal existiu, Portugal prepara-se para vários atos eleitorais determinantes para o seu futuro próximo, nuns casos por imposição legal e noutros por antecipação de calendários.
Perante esta última circunstância, no que respeita às eleições legislativas, ninguém deseja ficar com o epíteto de golpista e, face à inevitabilidade de atrasar as candidaturas ao PRR e a previsível perda dessas verbas reformistas, todos irão tentar retirar dos seus ombros essa responsabilidade e o temível ónus da instabilidade.
Um dos maiores desafios da classe política reside na leitura sobre o que um povo deseja num determinado momento e a perceção desse contexto continua a ser determinante para a obtenção de melhores resultados por parte dos partidos políticos.
Esse exercício de previsões circunstanciais, que distingue os melhores, não envolve ciências ocultas, mas só é possível a quem tem faro para tal. Ao longo da história da democracia portuguesa, temos vários exemplos dessas qualidades, contudo, nos tempos atuais, cada vez menos o conseguem.
Mesmo assim, existem algumas certezas inquestionáveis. As pessoas desejam e preferem a estabilidade, têm uma tendência para penalizar quem consideram ser os perturbadores da ordem institucional e, na dúvida, inclinam-se para quem menos contribuiu para a crise. Por outro lado, desde que se verifiquem os pressupostos anteriores, acabam por beneficiar quem está no poder.
Apesar de vários partidos não o reconhecerem, as eleições no arquipélago da Madeira trouxeram a lume essa lição, onde os seus eleitores ignoraram as questões judiciais e optaram por atribuir uma maioria a quem já governava a região.
Sem esquecer a obrigatoriedade de defender os legítimos direitos dos imigrantes, atendendo à fragilidade decorrente de apenas 3,3% se encontrarem recenseados, sendo essa baixa participação política o principal incentivo para os populistas anti-imigração, será curioso acompanhar a evolução dos acontecimentos, descobrindo através das sucessivas sondagens quem está a ser punido por estas eleições antecipadas, quem não conseguiu interpretar os sinais da população e, sobretudo, quem melhor se preparou para este momento.
O Governo em funções, através dos recentes aumentos salariais para certas classes profissionais e para os pensionistas, sendo estes os votantes habituais em maior número e, tendencialmente, na Esquerda, poderá ter marcado pontos decisivos, mas não há garantias de isso ser suficiente.
Com o multilateralismo em risco e não sendo possível replicar o cenário alemão, pela impraticável constituição de um bloco central como solução estável à subida da extrema-direita, resta-nos aspirar por um resultado eleitoral que traga um regular funcionamento das instituições, conferindo a Portugal a visão, a firmeza e o dinamismo necessários para responder a um mundo instável e marcado por guerras económicas vindas do outro lado do Atlântico.