Abre-se uma passagem…

A vida relatada nas Escrituras não é muito diferente daquela que vivemos nos dias de hoje…

Tenho pensado algumas vezes na relação que estabelecemos na Igreja da história revelada nas Escrituras e a história contemporânea. Impressiona-me, muito, a historia do livro do Êxodo. Um povo, durante quatrocentos anos, é escravo do Faraó e geme as dores da escravidão.

Imagino como se sentiam os escravos. Imagino em cada manhã alguém levantar-se da cama – se é que dormiam em camas – e pensar: «Lá vou eu fazer tijolos novamente». Todos os dias, os hebreus, subjugados pelo poder do Faraó faziam tijolos, amassavam o barro, com palha, com água e iam fazendo as grandes construções. 

Esta história para ser uma história do passado. Porém, podemos perceber que estes escravos do Faraó não estão assim tão longe de nós. Em cada manhã, os homens levantam-se e pensam: «Cá vou eu fazer tijolos novamente!!!».Isto é, Cá vou eu novamente para o trabalho. Cá vou eu para a creche levar as crianças. Cá vou para o trânsito até chegar ao trabalho. Cá vou eu comer o pão que o diabo amassou. 

A vida relatada nas Escrituras não é muito diferente daquela que vivemos nos dias de hoje… a vida das Escrituras fala da vida concreta dos homens: dos seus sofrimentos, dos seus trabalhos, das suas alegrias, das suas celebrações, das suas angústias. E, ao lermos as Escrituras, abre-se para nós um mar de consolações, tal como os hebreus viram o Mar Vermelho abrir-se à sua frente.

É curioso o que diz Deus quando chamou Moisés: «Ouvi a angústia do meu povo no Egipto». Deus ouviu a angustia do povo… e não ficou indiferente. Também a Escritura diz: «Do Egipto chamei o meu filho». E na realidade, no início da sua vida, também Jesus Cristo e a Sagrada Família descem ao Egipto fugidos do massacre dos inocentes levado a cabo pelo Rei Herodes. 

O que tem isto a ver com a vida de hoje? Não estamos no Egipto, nem temos Faraós…

É verdade! Mas também é verdade que fazemos a experiência de escravidão e todos temos um Faraó que nos subjuga. Todos… Todos… Todos… Todos temos angústias… 

Durante quatrocentos anos, os hebreus não tinham uma coisa fundamental para que homem se realize: a esperança! Não é tanto a liberdade, mas esperança! Porque até podemos estar mal e viver debaixo de um Faraó, sem liberdade, mas se temos dentro de nós esperança de um dia sairmos desta situação, então o futuro começa a dar algum sentido ao sofrimento presente. 

Acredito que depois de quatrocentos anos, os hebreus já não tinham memória do que seria viver a liberdade e já não esperavam que algum dia pudessem vir a vivê-la… 

Ao ouvir aquela voz que vinha da Sarça Ardente, Moisés escutou que Deus não estava ausente do sofrimento do povo… Deus ouviu a angustia e quer intervir e virá libertar o povo… O Jubileu que celebramos, seguramente, irá dar uma luz, uma esperança, aos sofrimentos do tempo presente… parece que tudo está perdido, mas sabemos que na próxima semana vem a Páscoa. Que os mortos ressuscitam… e se os mortos ressuscitam!!! Boa Páscoa!