Num tempo em que o mundo assiste ao recrudescimento de conflitos, que a Europa está debaixo de pressões de vária ordem – guerras às portas da fronteira leste, ameaças à segurança energética, ciberataques e o ressurgimento de nacionalismos agressivos – num momento em que no País se assiste ao colapso da estabilidade governativa e à erosão progressiva da confiança nas instituições democráticas, as próximas eleições legislativas assumem-se de particular importância. Portugal enfrenta a necessidade urgente de redefinir as suas lideranças máximas, não só em São Bento como também em Belém. A degradação do discurso político, a mediocridade dos representantes eleitos e a banalização do cargo presidencial, criaram um caldo tal, que podem fazer com que as próximas eleições legislativas, a 18 de maio, não sejam mais que um passo rumo a novo impasse. Se desse ato eleitoral não sair uma solução consistente e maioritária de governação, quem poderá ser a figura aglutinadora, moderadora e mobilizadora das vontades dos Portugueses? Qual Presidente?
Será aquele que, a troco do mediatismo de jornalistas em sua perseguição, se diverte a entreter os telejornais entre uma batata frita rapinada na feira, uma visita teatral ao multibanco, uma “selfie” enquanto troca de calções na praia ou um “reels viral” enquanto assenta uma pedra na calçada? Ou será aquele que acredita — candidamente ou perigosamente — que pode “convencer” os partidos a abdicar das suas funções fiscalizadoras por escrito, alguém que entende que os partidos estão disponíveis para assumir por escrito não apresentarem moções de censura, moções de confiança ou pactos de regime entre o centrão de interesses, como se o Parlamento fosse uma associação de amigos e nalguns infelizes casos até de “bandidos”? Propor isso é antes de mais uma facada na democracia e é revelador de um total desconhecimento do sistema partidário instalado no País e, mais ainda, de total desprezo pela Constituição da República. Chega a ser comovente esta visão enternecedora de alguém que, na sua fação política nunca conseguiu alinhamentos reformistas, querer assumir-se como paladino da estabilidade e do caos conseguir criar harmonia. A História mostra que os “tiranetes” começam por ideais deste teor! Enfim, ambos são produto de fações e representam rotas conhecidas — e falhadas.
Também não se recomenda para Belém quem não prima pelo rigor na decisão. É, no mínimo, irónico acusar um militar de ambiguidade quando, no seu percurso enquanto comentador, alguém fez da ambiguidade quase uma assinatura pessoal. Se há algo que distingue um militar — sobretudo aquele que sabe que das suas decisões pode depender a vida dos seus soldados — é precisamente a recusa da ambiguidade. Está habituado a fundamentar cada escolha, ponderando todas as opções possíveis e optando, com responsabilidade, pela mais vantajosa para a missão e para os seus homens. Mesmo quando usa os ventos a seu favor, um marinheiro não se comporta como um catavento — escolhe os de feição, com rumo e sentido. Já quem na vida profissional se especializou em energias renováveis, olhando para o seu percurso, parece ter sido guiado mais por interesses momentâneos da facção do que por convicções sólidas. O passado fala por si — e, nesse caso, o acusador parece mais próximo do comportamento errático de uma ventoinha eólica ao sabor do vento, do que da firmeza do comando com destino do acusado.
Certo, é que só quem em Belém se imponha pelo respeito poderá exigir aos políticos que se respeitem e que, sobretudo, respeitem os Portugueses. A Presidência da República não pode ser, como tantas vezes tem sido, o culminar de carreiras partidárias gastas ou o palco final para ambições pessoais disfarçadas de serviço público. Só um Presidente de feição mais que um Presidente da fação o conseguirá! Portugal não precisa de mais um Presidente folclórico nem de um sonhador de manuais de Ciência Política. Precisa de uma nova atitude, de uma nova liderança, de alguém que seja expressão do que há de mais genuíno e mais firme no caráter português: sentido de dever, coragem, ponderação e amor à Pátria.
A Presidência da República não pode continuar a ser o “pódio final” de políticos esgotados ou figuras que os aparelhos partidários já não conseguem encaixar noutros cargos. A Presidência não é uma recompensa — é uma missão. É o ponto mais alto da representação nacional, não o último palco para ambições pessoais travestidas de serviço público.
O que o País precisa não é de mais um rosto consensual dentro dos corredores partidários, mas de uma figura consensual no seio do povo. Um Presidente realmente independente, sem dívidas políticas, com bom senso, alheio às “negociatas” e jogos do regime. Alguém que não entre em Belém com uma mochila cheia de alianças de conveniência, favores a pagar, apoiantes de “interesse” ou estratégias pessoais de sobrevivência. Um Presidente realmente livre, que inspire pelo exemplo, que seja respeitado e respeitador — sobretudo do povo português. A experiência política em excesso é, muitas vezes e quase sempre, sinónimo de paralisia, de inação e de cansaço de ideias. O futuro exige renovação, não repetição.
Alguns torcem o nariz quando se fala de um candidato oriundo das Forças Armadas. “Mas não tem experiência política!” — dizem. Pois é justamente por isso que pode ser a mudança de que tanto precisamos. A política, nas últimas décadas, tem-se revelado um ciclo fechado, repetitivo, em que os mesmos erros são reciclados com novas embalagens. Os chamados “experientes” têm sido os grandes protagonistas da decadência do Estado.
Os militares de carreira — sobretudo os que desempenharam cargos de comando e decisão — foram treinados para analisar com frieza, comparar cenários, avaliar consequências e decidir sob pressão, com risco real, com vidas em jogo. Conhecem o valor da disciplina, da honra, da hierarquia e da responsabilidade. Foram educados para servir, não para se servirem. Para proteger, não para dividir. Para pensar estrategicamente e agir com eficácia. Num mundo em convulsão, onde os desafios à segurança e soberania nacionais se multiplicam, um Presidente com experiência militar, formação estratégica, sensibilidade geopolítica e credibilidade internacional é um trunfo — não um luxo.
O que se exige agora é alguém que nos una — não alguém que apenas represente “os seus”. Que nos defenda — não que se defenda. Que traga dignidade ao cargo — não espetáculo nem ilusão. Um Presidente que olhe os portugueses nos olhos com verdade e que fale com os líderes internacionais com conhecimento de causa. Que saiba que a gravata, como uma medalha, representa responsabilidade. E que Belém não é o fim de uma carreira, mas o início de um serviço maior.
Um Presidente com feição de Pátria, não de partido. Um líder sem medo de inovar, de correr riscos ponderados, de romper com os círculos viciosos do regime.
A atualidade nacional e internacional não permite hesitações. A Europa está sob ameaça – económica, energética, militar e social. Portugal precisa de um Presidente que compreenda os desafios geoestratégicos, que fale com propriedade com aliados e parceiros, que inspire confiança dentro e fora de portas e, mais do que isso, precisamos de um Presidente livre. Livre das pressões dos partidos. Livre das armadilhas dos lóbis. Livre das tentações do populismo. Um Presidente que pense Portugal, não o seu lugar na História.
Neste momento decisivo, não é só o Presidente que está em jogo. É a forma como os portugueses se querem ver representados. É a confiança que queremos restaurar na liderança do país. É a oportunidade de dizer, alto e bom som: basta de fações. Queremos ação. Queremos alguém como nós, mas acima de nós pela responsabilidade.
É tempo de correr riscos. De ousar caminhos novos. De confiar em quem foi treinado a decidir com rigor, a agir com coragem e a servir com honra. Dos que estão já formalmente anunciados na corrida a Belém nenhum cumpre estes requisitos. Precisaremos que do povo simples, do apoio do cidadão anónimo surja aquele que de Belém a Bruxelas ou a Nova Yorque nos represente e não nos envergonhe. Alguém que use a Presidência com a dignidade de feição que ela merece e não alguém que a usa em favor da fação que representa. Portugal merece mais. Portugal precisa do melhor.
É tempo de virar a página. De confiar em quem sabe o que é servir. De abandonar a lógica da divisão e abraçar a ideia de que a força de um Presidente vem do seu caráter, não da sua cor partidária. Portugal está pronto para um Presidente novo, vindo do País real, livre de facções — e com coragem para liderar. Portugal precisa de um Presidente com feição de Pátria, não de partido.
Coronel