
Querida avó,
Já terminaram as tempestades? A Primavera tem estado muito envergonhada!
Conheço algumas pessoas que estiveram alguns dias sem luz, imagina, em 2025.
Sou do tempo em que em casa dos meus pais, e dos meus avós, existia um candeeiro a petróleo, para prevenir essas situações.
A iluminação nem sempre esteve ao alcance de todos. Creio que apenas no início do Séc. XX a eletricidade chegou à maior parte das cidades de Portugal.
Em minha casa, por exemplo, não tenho gás. Não imagino o que seria estar umas horas sem eletricidade, quanto mais alguns dias…
A evolução faz com que aquilo que era habitual há uns anos, hoje pareça pré-histórico.
Antigamente, máquinas de lavar roupa, ou loiça, era um sonho inalcançável para a maioria. As gerações mais novas “não vivem” sem robots de cozinha, fritadeiras de ar quente, ou aspiradores que aspiram sozinhos…
Recentemente, quando estivemos na Biblioteca Municipal de Pombal, recordaram as Bibliotecas Itinerantes e a importância que estas tiveram para as gerações mais velhas. Estávamos com uma plateia intergeracional. Os mais velhos sorriram com a recordação, os mais novos ficaram boquiabertos ao perceberem como os livros chegavam aos leitores.
Daniela Martins, a responsável pela Biblioteca, até referiu que «as pessoas vestiam roupas domingueiras para irem à Biblioteca Itinerante requisitar e entregar livros».
Alguns dos mais novos, provavelmente, até são netos de alguns avós que se conheceram neste Ponto de Encontro Cultural.
Mudam-se os tempos, mas não se pode mudar a vontade (e necessidade) de ler.
Temos a vida mais facilitada com as novas tecnologias e com a ajuda dos novos aparelhos domésticos. Era suposto termos mais tempo para ler (nem que fosse iluminados por um candeeiro a petróleo). Infelizmente nem sempre acontece.
Juntos somos mais fortes nesta “missão” que alguns podem verdadeiramente avaliar.
Bjs
Querido neto,
Tenho muita pena dos que se chamam “Martinho”. Mas não fui eu que dei este nome à tempestade que nos assolou, recentemente.
E que tempestade!
Um poste de eletricidade em frente da minha casa caiu – e fiquei sem net durante cinco dias. Como muita gente ficou na mesma situação e há poucos técnicos por aqui, ninguém nos pôde acudir logo. As mensagens que ia recebendo começavam todas da mesma maneira: «assim que pudermos…», «assim que nos for possível…»
Já imaginaste a tua avozinha? Sem net e televisão, durante 5 (longos) dias??? E eu a ter de mandar textos para ti e para os jornais e para as revistas onde escrevo? Claro que a culpa não foi minha – mas chegou tudo atrasado…
Foi terrível!
E nestes dias que fiz eu? Aquilo que me lembro de fazer quando era criança e ninguém imaginava que um dia iria haver uma coisa chamada televisão: Ouvir rádio…
E mesmo agora, acabada a tempestade Núria (esperemos que não venha mais nenhuma) a primeira coisa que eu faço logo de manhã é abrir a televisão e o computador para ver se tudo funciona.
Fiquei tão contente quando o técnico (brasileiro…) cá veio reparar tudo. Como forma de agradecimento até lhe dei um livro nosso. Assim fica a saber mais sobre Portugal e os portugueses.
Obviamente, para além de ouvir rádio, aproveitei para fazer malha e ler vários livros. Tinha alguns aqui por casa, que ainda não tinha começa a ler.
Como deves calcular, sou contemporânea das Bibliotecas Itinerantes da Gulbenkian, que almejava abranger todo o território nacional, incluindo os arquipélagos. Tinha como objectivos «promover e desenvolver o gosto pela leitura e elevar o nível cultural dos cidadãos».
É necessário que os hábitos de leitura sejam reinventados, para que se mantenham, e sejam conquistados novos leitores.
Bom fim de semana e boas leituras.
Bjs