Apesar do debate público entre os líderes socialista e da AD, a verdade é que olhando para os programas, não são assim tantas as diferenças entre o que propõem os dois principais candidatos a formar governo. A diferença essencial reside no programa económico, onde os dois querem baixar impostos, mas divergem na forma e na expectativa de resultados. Enquanto os socialistas apostam numa redução fiscal que passa pelo IVA zero para o cabaz de produtos alimentares essenciais e na redução da fatura da eletricidade também por intermédio da redução da taxa de IVA para os 6%; A AD mantém a aposta na redução do IRS e do IRC. A grande diferença das duas opções, de acordo com os programas apresentados, é que os socialistas pretendem aliviar os rendimentos das famílias e a AD espera um crescimento virtuoso da economia por via da diminuição dos impostos sobre o trabalho e sobre as empresas. Os socialistas contabilizam a redução de impostos como aumento de despesa e a AD como via para o crescimento da economia.
É esta divergência na forma de olhar para a redução fiscal que está na origem das diferenças entre as duas forças políticas quando fazem previsões económicas, enquanto os socialistas, em linha com o Banco de Portugal e o Conselho de Finanças Públicas, preveem o regresso do défice já para 2026, a AD_garante que esse cenário não vai ocorrer.
Áreas sociais com propostas semelhantes
É em matéria de rendimentos que os dois programas são praticamente decalcados. O PS quer aumentar o salário mínimo para 1110€ até 2029, a AD falha por 10€ e prevê um aumento de 1100€ para a mesma data. A coincidência é total no objetivo de atingir os 2000€ de salário médio no final da legislatura.
Na habitação, um dos principais problemas que o país enfrenta, apesar de algumas diferenças, no essencial os dois concordam no incremento à construção de habitação pública a custos controlados com fundos europeus, na redução do IVA_da construção para 6%. Neste capítulo, como noutras áreas a grande diferença entre socialistas e sociais-democratas prende-se com a participação dos privados na solução do problema.
No capítulo da imigração não há praticamente diferenças, constando no programa do PS as principais medidas que o governo da AD já tem em execução. Há um ponto, no entanto, que continua a dividi-los, que é a recuperação de uma Unidade de Estrangeiros e Fronteiras, que venha a substituir o vazio deixado pela extinção do SEF, no governo de António Costa. Os socialistas enfatizam a importância da documentação de imigrantes «indispensável a promoção de migrações regulares, seguras e ordenadas», mas abstém-se de indicar medidas de segurança para controlo de entrada de fronteiras. Também no que diz respeito à segurança social, uma área em que a necessidade de reforma é urgente, PS e AD_não mostram grandes diferenças no que propõem ao país. O reforço do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS) é considerada pelos dois uma prioridade mas nenhum dos dois arrisca propor um caminho para lá chegar. A acusação de que a AD_terá na agenda a privatização do sistema não encontra eco no programa apresentado. A este propósito vale a pena recordar que antes de abandonarem funções os socialistas deixaram pronto um livro verde para a reforma da segurança social, documento que a ministra Maria do Rosário Palma Leal entregou a u grupo de estudo que ficou com a responsabilidade de propor soluções. Com a queda do governo, o processo ficou em suspenso, à espera de saber quem serão os próximos inquilinos em São Bento.
Educação e Saúde as maiores divergências
A saúde é o maior ponto fraco da governação de Luís Montenegro. Na última campanha o primeiro-ministro multiplicou-se em promessas que não foram cumpridas. Ana Paula Martins não conseguiu cumprir nenhum dos objetivos dos vários planos apresentados e a isso juntou uma série de demissões polémicas e de escolhas falhadas. Fernando Araújo, o primeiro diretor executivo do recém-criado SNS foi a primeira demissão e é agora o escolhido por Pedro Nuno Santos para tutelar a área caso chegue ao governo. No programa socialista para a saúde, constam as medidas preconizadas por Fernando Araújo para organizar o SNS, no programa da AD consta o recurso ao setor privado e social, como principal solução para resolver a crise no sistema.
Já na educação, onde as coisas correram bem melhor, apesar de o problema da falta de professores estar longe de estar resolvido, as propostas dos dois partidos convergem no recurso ao setor privado para encontrar as vagas em falta no pré-escolar e convergem também na proibição do uso do telemóvel nas escolas até aos 12 anos. É nas questões ideológicas que as duas forças mais se dividem em matéria de educação, com o partido socialista a voltar à carga com a necessidade de reforçar a disciplina de cidadania, nomeadamente com a reposição de manuais polémicos que o atual executivo retirou do programa da disciplina. Ao contrário do que aconteceu há um ano, a carreira dos professores ocupa um lugar secundário nas propostas.