No próximo dia 07 e maio, estarei no Auditório do Institute of Chartered Accountants of England and Wales (ICAEW) em Moorgate, Londres, para participar de um debate ao estilo de Oxford. Defenderei a moção apresentada a debate pela Quoted Companies Alliance que é encapsulada na seguinte declaração: «As empresas em crescimento prosperam melhor em mercado de capitais público». Ensaiar argumento para esta moção num mercado vibrante tanto público como privado como é o de Londres, é tarefa árdua, sobretudo quando na sala estarão mais de 300 pessoas com experiências diversas na matéria. Mas, e em Portugal? Se a mesma moção fosse colocada, como seria? Numa altura em que se repete obsessivamente a ideia de fazer crescer as PMEs portuguesas para que «passem de pequenas a grandes, e de grandes a globais», em que mercado – público ou privado – as PMEs portuguesas encontrariam melhores condições para crescer de forma sustentada?
Em Portugal, o mercado de capitais para empresas em crescimento não tem funcionado, o que é bem demonstrado pelo reduzido número de Ofertas Públicas Iniciais (IPOs, na sigla inglesa). No website da Euronext indica-se que foram realizados 689 IPOs em todos os mercados entre janeiro de 2020 e a data em que escrevo este artigo. Destes, apenas 10 foram feitos em Lisboa, dos quais 9 são Real Estate Investment Trusts (REITs)! As empresas de bens transacionáveis, de elevada investigação e desenvolvimento, com potencial de escalar, as tecnológicas, não parecem querer nada com o mercado público português. O que leva as empresas familiares e os empreendedores portugueses a optar por vender a private equity e a raramente considerarem um IPO? Casos como a Logoplaste, ou mais recentemente a FairJourney Biologics são ilustrativos, mas existem outros.
Um estudo conduzido por Ludovic Phalippou, da Universidade de Oxford, demonstrou que os fundos de private equity utilizam bechmarks convenientes para demonstrar retornos superiores aos mercados públicos. Philappou mostrou que entre 2006 e 2019, o private equity gerou um retorno médio de 11% para os investidores. No mesmo período, as ações dos maiores títulos norte-americanos medidos por exemplo pela Vanguard S&P 500 index fund, geraram entre 10.1 e 10.6 por cento de retorno, ao passo que o retorno dos índices de títulos mais pequenos foi de entre 10.7 e 12.1 por cento. De acordo com Phalippou, os únicos que beneficiaram de forma desproporcional foram os CEOs das private equity: o número de multibilionários entre estes aumentou de 3 em 2005, para 22 em 2020.
A verdade é que a composição dos fundos de private equity são, em geral muito diferentes em termos do tamanho dos títulos, das indústrias que os compõe e, sobretudo, os portefólios privados são altamente alavancados, sendo por estas razoes difícil de comparar as coisas. Um estudo de Jean Francois L’Her e colegas, intitulado ‘A Bottom-Up Approach to the Risk-Adjusted Performance of the Buyout Fund Market’ mostra uma história bem diferente quando estes fatores são levados em linha de conta, demonstrando que na maioria dos casos, o desempenho tanto de fundos buy-out como de fundos de capital de risco varia, mas, em geral, é insignificativa ou ate mesmo negativa quando comparada com os mercados públicos.
Além do recurso a dívida para financiar as operações, o relatório 2025 de private equity da consultora Bain mostra que o desempenho destas empresas se deve em 93% ao crescimento das vendas ou expansão, e apenas 7% em média ao aumento de margens. A maioria destes fundos tem pouco interesse em inovação e criação de valor sustentável, e uma visão de longo-prazo reduzida.
Seria bom que as nossas PMEs pudessem ver na Euronext-Lisbon uma boa escolha para fazer crescer a sua empresa de forma sustentada e transparente, beneficiar de um ecossistema de aconselhamento, aumentar a sua credibilidade e visibilidade junto de clientes e parceiros, e manter as boas características de foco no longo-prazo e na criação de valor sustentado.
Desenvolver o mercado público para empresas de elevado crescimento afigura-se como uma importante prioridade em Portugal, que tarda em concretizar-se.
Professor de Governance, Henley Business School, Reino Unido, e Partner na AMROP