Putin ataca, Trump cala

Programa sofreu reajustamento e presidente da comissão de acompanhamento reconhece que ‘a exigência da execução continua a ser muito significativa’. Ainda falta cumprir mais de 50% de todas as metas e marcos

Na madrugada fria de abril, mais uma cidade ucraniana acordou sob o som de sirenes e explosões. Sumy, localizada a poucos quilómetros da fronteira com a Rússia, foi violentamente atacada. O terror que voltou a cair sobre civis indefesos é mais uma prova, se ainda fosse necessário, de que esta guerra não é apenas um conflito territorial: é uma batalha entre democracia e tirania.

Conheço bem a Ucrânia. Visitei o país várias vezes antes da invasão de fevereiro de 2022 e estive em Kiev há dois anos, já em plena guerra. Vi com os meus próprios olhos o que a coragem ucraniana representa. Vi jovens que, em vez de cruzarem os braços ou fugirem, estavam a reconstruir escolas, a organizar campanhas de solidariedade, a resistir com esperança. Vi uma nação determinada em ser europeia, em viver em liberdade.

Por isso, quando Sumy é atacada, é a Europa que está a ser desafiada. Quando uma escola é destruída ou um hospital é atingido, os valores fundadores da União Europeia – paz, solidariedade, dignidade humana – são postos em causa.

Não nos podemos cansar da Ucrânia. Não nos podemos distrair, nem aceitar como ‘normal’ que um Estado soberano seja bombardeado semanalmente. Cada ataque é um lembrete brutal de que a paz nunca está garantida: conquista-se, protege-se, defende-se.

Infelizmente, assistimos a uma resposta desapontante de figuras internacionais que deveriam ser defensores da liberdade. Donald Trump optou por relativizar o ataque a Sumy, tratando-o como um episódio menor num conflito ‘distante’. Esta postura é não só moralmente indefensável, como estrategicamente perigosa. Minimizar a agressão russa é dar espaço a um regime que já provou que não respeita fronteiras nem acordos. Mas é também infelizmente revelador da agenda do atual inquilino da Casa Branca.

A Rússia continua, sem pudor, a ignorar qualquer apelo ao cessar-fogo e a mentir sobre as suas intenções. Declarações diplomáticas são esvaziadas de significado sempre que mísseis caem sobre bairros residenciais, sempre que o regime de Putin transforma em alvo aquilo que devia ser protegido pela humanidade: escolas, hospitais, famílias.

A resposta europeia tem de continuar firme e unida. O apoio militar e humanitário é essencial, mas não chega. Precisamos de um compromisso claro com a reconstrução da Ucrânia, com o seu futuro europeu, com os seus jovens. Porque o povo ucraniano quer viver em democracia, em liberdade, com oportunidades — como qualquer pessoa em Lisboa, Paris ou Varsóvia.

O ataque a Sumy não é apenas mais uma notícia nos jornais. É um apelo à ação. É um sinal de que a nossa luta pelos valores ocidentais continua. E, como sempre, cabe-nos estar do lado certo da História.