Turismo religioso. Fé que percorre o mundo

Para muitos, a Páscoa significa férias, ovos de chocolate e reuniões familiares. Mas para outros, este tempo é muito mais que isso.

É tempo de fé, partilha e reflexão. E se fazê-lo em Portugal, junto da família é importante, bem como cumprir todas as tradições a que a Páscoa ‘obriga’, muitos não abdicam de perceber como é feito lá fora. Em Portugal e pelo mundo, a Páscoa celebra-se de várias formas e há quem aproveite esses dias de descanso para conhecer outras culturas e outras celebrações que vão desde o mais tradicional à autoflagelação ou a encenações de crucificações. No nosso país, o turismo religioso tem um grande potencial, mas é esse mesmo turismo que leva também muitos portugueses lá fora, com destaque para a Terra Santa, onde tudo aconteceu, ou ao Vaticano, onde está a figura máxima da Igreja Católica.

Terra Santa. A origem

Ainda que em tempos de guerra e com vários países a desaconselhar as viagens, Israel continua a preparar a Páscoa. Mas é possível que este ano seja um pouco diferente. Há quem diga que é a melhor altura para ir a Jerusalém. Toda a Páscoa vivida na Terra Santa terá um simbolismo diferente por serem retratados os exatos passos de Jesus. Na Sexta-feira Santa a Cidade Velha enche-se de peregrinos que seguem os passos de Jesus até o Gólgota, onde foi crucificado. A procissão tem o nome de ‘O Caminho da Cruz’ e começa às 11h30, partindo da Estação I na Via Dolorosa. Cerimónias como a Última Ceia ou o Lava-pés são recreadas e existe ainda missa na Basílica da Agonia, no Jardim de Gethsemane (no Monte das Oliveiras), para onde Jesus se retirou para rezar e meditar antes de ser entregue por Judas.

Vaticano. Semana de celebrações

O Vaticano recebe aquela que, provavelmente, é a maior e mais simbólica celebração da Semana Santa na Europa. Além das missas diárias, há ainda destaque para a cerimónia do Lava-pés (que acontece na Quinta-feira Santa), altura em que o Papa se ajoelha para lavar os pés a fiéis. O calendário varia de ano para ano, mas a Semana Santa começou com o Domingo de Ramos, onde se celebra a entrada de Jesus em Jerusalém, e culmina com a missa de Páscoa. Mas atenção: Para assistir a uma missa com o Papa é preciso reservar bilhete, que é sempre gratuito. E é melhor fazê-lo com antecedência. No entanto, este ano, devido às fragilidades na saúde do Papa Francisco, o Vaticano anunciou que a sua participação «nos ritos da Semana Santa ainda não está confirmada».

Fátima. O maior local de peregrinação

Fátima recebe peregrinos durante todo o ano mas a Páscoa – bem como a Semana Santa – é época alta no principal centro religioso do país. Além do Santuário, que é o maior local de peregrinação de Portugal, existe ainda o Museu da Cera e o famoso cenário dos Três Pastorinhos e do Milagre de Fátima. Passado o domingo de Ramos, a próxima grande celebração é a missa do Lava-Pés ou Última Ceia. Na Cova da Iria, para o rito do lava-pés são simbolicamente convidados 12 funcionários do Santuário de Fátima. À meia noite, está marcada uma Via-sacra no Caminho dos Pastorinhos, com início na Capelinha das Aparições. Sexta-feira, às 15h, é tempo da missa da Paixão do Senhor. Já o O Sábado Santo é um tempo de espera. «A Igreja permanece junto do sepulcro do Senhor, meditando a sua Paixão e morte, abstendo-se da Missa até à solene Vigília ou espera noturna da Ressurreição», indica o Missal Romano. A vigília Pascal é às 22h e Domingo há várias missas.

Lourdes. Fé e história

Em Lourdes, no sul de França, como em todas as igrejas católicas, a Semana Santa começa no Domingo de Ramos e inclui a Quinta-feira Santa, quando é celebrada a Última Ceia do Senhor, e a Sexta-feira Santa, com a Celebração da Paixão. Termina com a Vigília Pascal na noite do Sábado Santo para o Domingo de Páscoa. E há muitas celebrações na gruta de Massabielle, o local das Aparições de Lourdes e que está situada no coração do santuário. Algo que decorre durante todo o ano e que terá também lugar nesta altura é a procissão das tochas – acontecem em vários dias – obrigatória para todos os que passam por Lourdes, sejam eles peregrinos ou simples visitantes atraídos pela história e fama do lugar.

Filipinas. Extrema devoção

Durante a Semana Santa, as Filipinas têm muito para oferecer a quem se encontra no arquipélago. As procissões são o ex-líbris e há sempre muitas associadas às celebrações. Podem ocorrer em vários dias da semana. As províncias de Malolos, Bulacan e Rizal têm enormes procissões na Quarta-feira Santa, que começam por volta das 18h e continuam noite dentro. E contam com estátuas de Jesus, Virgem Maria, 12 Apóstolos, e outros santos. Mas a Páscoa nas Filipinas é levada à letra e mantém-se até hoje um ritual sangrento. Dezenas de pessoas saem às ruas e autoflagelam-se para lembrar a morte de Jesus, contrariando as indicações do Vaticano, que desaprova estas práticas. Os católicos das Filipinas representam os últimos momentos da vida de Jesus Cristo, com pessoas pregadas em cruzes de madeira ou em momentos de autoflagelação até derramar sangue em demonstrações extremas de devoção religiosa.

Polónia. Segunda-feira diferente

Na Polónia, depois da liturgia da Sexta-Feira Santa, é costume entre os católicos ficar junto de uma estátua de Jesus retirado da cruz dentro da Igreja. Trata-se de uma vigília simbólica que é marcada pelo silêncio e pela oração. Fora do comum é a segunda-feira de Páscoa, também conhecida por segunda-feira molhada. Segunda-Feira de Páscoa ou śmigus-dyngus é, sem sombra de dúvida, uma das mais famosas tradições. É uma brincadeira que consiste em atirar água a outras pessoas. Neste dia, costumava-se atirar água contra meninas jovens. Aquela que ficou chateada ou que não ficou molhada ficaria para tia. Era possível evitar ficar molhado (śmigus) pagando um tributo em forma de ovos pintados, doces ou dinheiro. Era o chamado dyngus. No entanto, hoje em dia, o śmigus-dyngus difere do seu significado original e diz-se que serve para dar sorte para o resto do ano. As agências de viagens contam com muitas opções para destinos como Cracóvia e Varsóvia. A título de exemplo, o Santuário de São João Paulo II, em Cracóvia, conta com várias celebrações para esta semana Santa.

Compostela. ‘Esplendor único’

O Caminho de Santiago é muito conhecido e estende-se por toda a Europa Ocidental. E todos os anos leva milhares de fiéis católicos à cidade onde se encontra a catedral de Santiago. E se assim o é durante todo o ano, durante a semana Santa este lugar ganha outro significado para quem crê. E mesmo para quem não crê. A Semana Santa conta com impressionantes procissões e a arquitetura dá à comemoração da Paixão de Cristo «um esplendor único e uma solenidade particular». Onze irmandades compostelanas caminham pela cidade histórica, acompanhadas pelo som agudo das cornetas e pelo ritmo baixo dos tambores, que ecoam nas ruas de pedra. Mas Espanha tem muitas outras cidades que levam a Páscoa a sério. 

Texistepeque. Tradição curiosa

A 84 quilómetros da capital de El Salvador, a cidade de Texistepeque tem uma tradição diferente e que tem de ser assistida com cuidado. Trata-se de um ritual, conhecido por talciguines, em que pessoas fantasiadas imitam uma luta entre Jesus e o diabo, sendo que o lado do bem vence sempre. Para quem quer visitar o local, o melhor é ter cuidado, uma vez que pode a qualquer momento levar com uma chicotada, mesmo que seja sem intenção. Esta tradição, que se repete todos os anos, começa numa missa. Depois saem os homens vestidos de demónios e um homem vestido de Jesus Cristo, que é perseguido. As chicotadas são consideradas um sacrifício.