Na morte do Papa

Como não podia deixar de ser, estamos já a ser envenenados pela variedade de leque de comentadeiros e politiqueiros que nos enchem as televisões e que não se cansam de vaticinar de que o próximo Sumo Pontífice deverá sair das fileiras progressistas.

Como católico apostólico romano tenho o dever ético e moral de aceitar a escolha de Deus para  Seu primeiro representante na Terra, sem questionar a autoridade do eleito.

Esta obrigação não me vincula, naturalmente, a concordar com todas as suas decisões nem a me rever na sua personalidade, mas tão só a obedecer às suas orientações eclesiásticas, ainda  que, eventualmente, discordando de algumas delas.

Tive a benção de ser contemporâneo de dois dos maiores Príncipes da Igreja, os Santos Padres João Paulo II e Bento XVI, com cujos pontificados, orientados para a primazia da Fé cristã, sempre me identifiquei.

Navegando um pouco contra a corrente dominante, que nos tempos de hoje se move sempre no sentido do politicamente correcto, sou forçado a confessar que nunca me senti verdadeiramente próximo do Papa que agora nos deixou, reconhecendo, no entanto, o seu incansável apelo pela paz, em particular indo ao encontro dos povos mais atormentados pela insensatez humana, bem como todos os seus constantes esforços na procura da reparação das injustiças sociais, este, muito provavelmente, o seu maior mérito.

Mas de um Papa espera-se, sobretudo, a defesa intransigente do catolicismo, sem qualquer tipo de cedência aos interesses obscuros empenhados em destruir a Igreja por dentro, e, também, ouvir sempre a sua voz e saber das suas diligências em defesa dos cristão perseguidos e martirizados às mãos dos inimigos de Cristo.

O mundo está hoje perante várias das mais temerosas ameaças à sua existência, tal como o conhecemos, sendo que as mais visíveis, mas não necessariamente as mais ameaçadores, são as guerras que se travam em solos ucraniano, russo e palestiniano.

Francisco empenhou-se até à exaustão na procura de uma solução para esses conflitos, mas não lhe podemos reconhecer igual determinação na denúncia de alguns dos crimes que actualmente põem em causa a sobrevivência do cristianismo.

Sobre a Europa, berço da cristandade, pairam hoje nuvens sombrias que nos deixam antever, num futuro demasiado próximo, mudanças catastróficas na forma de viver dos seus povos, fruto da gradual islamização de grande parte do continente europeu.

A invasão descontrolada de hordas de migrantes oriundos de culturas e costumes opostos aos da civilização milenar que os acolhe, conduzirá, inevitavelmente, caso persista a insana política de manter as fronteiras europeias abertas a todos quantos as pretendam cruzar, ao desaparecimento dos seguidores de Cristo, substituídos pelos adoradores de Alá.

De Francisco não se vislumbrou nenhuma repulsa por estas investidas dos soldados do Islão, bem pelo contrário, veio sempre a terreiro criticar os poucos que têm tido a coragem de se levantar contra esta loucura e apregoar que temos a obrigação de dar guarida a quem nos quer destruir!

Em diversas zonas do globo os cristãos estão a ser martirizados de igual forma como o foram os primeiros discípulos de Jesus, em particular na Síria, cujo novo poder, que foi alegremente sancionado pelo Ocidente, está apostado em fazer desaparecer todos quantos não professam o islamismo; no Bangladesh, em que a minoria cristã está a ser dizimada por milícias muçulmanas; e em vários países africanos, como a Nigéria, o Sudão e até em Moçambique, em Cabo Delgado, onde os católicos são mortalmente perseguidos, mas deste Papa não foram audíveis palavras sentidas de denúncia e de condenação destes massacres, nem sequer de solidariedade por quem prefere a morte a renegar a sua Fé em Deus.

Também a família, principal pilar da civilização cristã, está a ser vítima de uma perseguição sem quartel, com a ideologia do género a impor-se no seio das sociedades ocidentais, sendo que da parte de Francisco, para além de umas tímidas condenações do aborto e da eutanásia, muito pouco se viu na defesa inabalável dos valores consignados na doutrina social da Igreja que regem a vida em comunidade, agora ostracizados e desprezados pelos poderes instalados na grande maioria das chancelarias do Ocidente.

Mais vezes se ouviu Francisco a criticar com veemência o reduzido punhado de governantes apostados em preservar a civilização em que crescemos e a elogiar os que se posicionam no outro lado da barricada, exactamente aqueles que têm em mente suprimir todos os vestígios ainda restantes da sociedade crente em Deus.

Não é por acaso que entre os fervorosos simpatizantes e defensores deste Papa estão, precisamente, aqueles que mais se têm empenhado na proliferação das ideias que estão a minar a civilização cristã, ateus convictos e que não se deixaram converter pela bondade de Francisco, antes permanecendo inimigos da Igreja, mas que agora choram lágrimas de crocodilo.

Como não podia deixar de ser, estamos já a ser envenenados pela variedade de leque de comentadeiros e politiqueiros que nos enchem as televisões e que não se cansam de vaticinar de que o próximo Sumo Pontífice deverá sair das fileiras progressistas.

Espero, para bem da humanidade, que o Espírito Santo aconselhe sabiamente os cardeais eleitores e que do próximo conclave saia um Papa tradicionalista que, à semelhança de S. João Paulo II, consiga converter ateus à Fé cristã, e não um progressista que encha de contentamento os descrentes mas os mantenha longe de Deus.

É tempo de a Igreja se reerguer!