A missão que o líder da AD, Luís Montenegro, e o presidente do Chega André Ventura, tinham esta noite era a mesma convencer os eleitores de cada um a votar no outro.
Talvez essa ideia ajude a explicar que o debate tenha sido mais centrado na troca de acusações do que nas propostas que Luís Montenegro e André Ventura têm para o país.
O líder da AD abriu as hostilidades acusando o Chega de não ter “maturidade nem decência” para ser Governo e de ser “um catavento”.
“Quem está virado apenas para destruir e não consegue construir não tem vocação para governar”, defendeu Montenegro.
Ventura tomou a palavra e trouxe para o debate o caso de uma grávida que teve o parto numa ambulância.
“Enquanto vem aqui dar o seu ar de maturidade e sentido de Estado mais uma grávida teve um bebé à porta de casa porque as urgências do seu governo estavam fechadas”, disse o líder do Chega, acrescentando que o Executivo de Montenegro foi “um desastre nas várias matérias de saúde”.
E respondeu às críticas do líder da AD: “Diz que não se pode contar com o Chega porque não é de confiança”, mas, continuou Ventura, “você não quer contar com ninguém mas digo-lhe cara a cara: não contará connosco”.
Montenegro voltou à carga com as acusações de falta de coerência de Ventura, lembrando o seu passado no PSD, partido em que militou “70% da vida”, e sublinhando que quando desempenhou funções de conselheiro nacional e autarca nunca defendeu o que defende agora.
“Era colaborante com tudo o que o PSD defendia e andava de bandeirinha na mão. Achava que o melhor líder era aquele que está hoje à frente dele”, acusou Montenegro.
Sobre a grávida, o líder da AD disse que Ventura não sabia do que estava a falar e que o bebé nasceu na ambulância por que a senhora estava já numa fase muito avançada do trabalho de parto.
Mas Ventura não largou o assunto da saúde e acusou o primeiro-ministro de não saber o que se passa e desafiou: “Concorda com esta bandalheira na Saúde, sabe quantas urgências estavam fechadas na Páscoa? 10 e quem é o responsável por isso, o André Ventura?” questionou, dando depois exemplos dos tempos de espera dos utentes e passando ao de leve num dos temas que lhe é mais caro. “Tudo o que é imigrante passa à frente. O seu Governo é igual ao do PS”, disse.
Em relação ao seu passado como social-democrata, Ventura acusou Montenegro de se ‘colar’ a ele na campanha autárquica em Loures e de o elogiar. “Você disse que o André Ventura é o melhor talento que nós temos”.
Montenegro negou e disse que Ventura “nunca” terá um lugar no Conselho de Ministros. “É por causa desta sua postura”.
O primeiro-ministro voltou a centrar o debate na Saúde e admitiu que não está tudo bem, mas garantiu que a situação melhorou muito com o seu Executivo.
“Não estamos a dizer que está tudo bem. Estamos a recuperar a capacidade do SNS”, afirmou.
Ventura disse que Montenegro tinha de tirar “os óculos cor-de-rosa” para de achar “que tudo está tudo bem”
O que o Governo faz, acusou, é “maquilhar as urgências com a necessidade de ligar: faz algum sentido que uma grávida tenha de ligar? Podem estar a morrer, a ter filhos, a ter um acidente, mas ligue. Isso não é lealdade, isso é governar mal”.
O líder da AD acusou Ventura de “conviver mal com a verdade” e de gostar disso.
“A sua utilidade é a mesma quer tenha 1 deputado ou 50”, disse Montenegro e dirigiu-se diretamente aos eleitores que votaram Chega nas últimas legislativas: “Têm um caminho de esperança na AD”.
O presidente do Chega quis colar o PSD ao PS e acusou a bancada laranja de votar com os socialistas no tempo da gerigonça.
“Votar no PS ou no PSD é a mesma corrupção, são os mesmo boys, os mesmos salários miseráveis. É a mesma coisa”, disse.
“Consigo, há ainda mais tachos pelo país todo, é ainda mais grave do que com o PS”.
Depois de ter abordado o caso da grávida, Ventura voltou a trazer uma notícia do dia, esta relacionada com Mário Centeno, que alegadamente recebe mais de 19 mil euros por mês.
“Sabe qual é o valor da pensão mínima de velhice? 255 euros. Sabe quanto ganha um bombeiro no início de carreira? Um auxiliar de educação em início de carreira? Não sabe mas enquanto estes ganham miseravelmente, o seu governo permite que pessoas como Mário Centeno ganhem o valor que foi noticia hoje”, atirou.
“Voltámos a ter a mesma lógica do PS: sacar impostos e distribuir pelos coitadinhos: ciganos, imigrantes. Qual é a diferença para a António Costa? Só os olhos azuis, de resto é a mesma coisa”, disse sarcasticamente.
Montenegro respondeu na mesma moeda, aludindo ao facto de Ventura estar com uma gravata cor-de-rosa, cor associada ao PS, considerando-a “muito condizente” com a “ação política este ano” do Chega.
E admitiu que o Governo fez acordos com PS mas que o fez para “melhorar a vida das pessoas” e não por “birra política” como terá feito o Chega.
Confrontado com as críticas ao programa do Chega, Ventura respondeu: “Se o nosso programa é irrealista, o do PSD é estratosférico”.
Sobre as portagens, Ventura sublinhou o facto de em Espanha não se pagarem e defendeu o seu fim.
“Nós queremos acabar com as portagens – mil milhões de euros – porque passamos a fronteira em Vilar Formoso e não se paga. São estradas que já pagámos 40/50 vezes”.
Para o líder do Chega, as portagens “servem para alimentar uma classe política que se acoplaram a estas empresas. Nós pagamos e eles vivem à nossa conta. Não precisamos de uma classe política parasitária”, sublinhou.
A terminar, e confrontado com as críticas de um programa economicamente pouco prudente e demasiado otimista, o primeiro-ministro lembrou que, no ano passado, “toda a gente se enganou”, quando duvidava do excedente económico do seu executivo.
Por último, lembrou que o programa eleitoral do Chega apresenta um impacto de 40 mil milhões de euros. “Precisa de dizer onde vai buscar a sustentação do programa económico”, afirmou.
Ventura respondeu: “O nosso é muito mais próximo do Conselho das Finanças Públicas do que o do PSD”. “O PSD prevê que as exportações vão crescer 4.4% num mundo em completa desordem”. “Isto é imaturidade é não saber de economia”. “O Chega prevê um crescimento entre 2.2. e 2.4 quem é o adulto na sala?”, questionou.