Papa Francisco

Agora é tempo de acompanhar o Papa Francisco até à sua última morada na terra. É tempo de nos ajoelharmos, agradecidos por tanto que recebemos

Já em Roma, cumpri aquela que era uma promessa feita a mim próprio e à minha Diocese de Setúbal, ir à Casa de Santa Marta, reencontrar-me com o nosso querido Papa Francisco.

Já estava a entardecer quando entrei no Vaticano. Os guardas estavam nos seus lugares habituais e lembrei-me de que o Papa Francisco nunca se esquecia de os cumprimentar, chegando mesmo a querer saber se as suas famílias estavam bem ou se precisavam de alguma coisa. Foi o primeiro momento em que me emocionei, imaginando o que cada um daqueles homens estaria a sentir perante a morte do seu Papa.

Atravessei as portas de Santa Marta e as memórias estavam por todo o lado. As vezes em que fui ao encontro do Papa, as vezes que almocei na mesma sala onde almoçavam todos os que ali vivem e trabalham, o dia em que ali levei um grupo de jovens e adultos que trabalharam na preparação da JMJLisboa2023.

À medida que ia avançando pelos corredores, achei que me estava a preparar interiormente, para aquele abraço que queria dar ao Papa, não o abraço físico que tantas e tantas vezes lhe pude dar, mas o abraço que se dá na distância do coração.

Mas ao entrar na pequena capela, que o mundo inteiro conheceu durante a pandemia, a capela onde o Papa rezava, ao ver o seu corpo sem vida, quieto, tudo se tornou muito doloroso, bem mais do que tinha pensado. A tristeza tomou conta de mim.

Quando temos a graça de conhecer de perto um homem como o Papa Francisco, quando temos a graça de o escutar, de lhe poder abrir o coração sem reservas, quando assistimos aos seus gestos, à sua coerência de vida, à sua entrega total a Jesus e à sua Igreja, quanto tudo isto acontece, apesar de sabermos que não estamos sós, que Cristo Vive, há um sentimento de vazio.

Bem sei que o nascer de um novo dia, vai trazer uma nova paz, a solidão será habitada pela beleza das memórias, pela leitura das suas palavras; que a tristeza será preenchida com a memória dos sorrisos e dos risos, de um padre argentino, que foi Bispo, Cardeal e Papa da Igreja que sirvo. Bem sei. Mas custa.

Agora é tempo de acompanhar o Papa Francisco até à sua última morada na terra. É tempo de nos ajoelharmos, agradecidos por tanto que recebemos. Na certeza de que o nosso querido Papa Francisco partiu na Páscoa, na grande festa da Ressurreição de Jesus, Aquele por quem o Papa deu a vida, até ao limite das suas forças. Agora é tempo de cantar Aleluia, Aleluia. Jesus está Vivo e o Papa Francisco já conhece o Seu abraço 

Cardeal, Bispo de Setúbal