Tolentino Mendonça entre os 22 magníficos

Qualquer um que seja batizado pode ser eleito Papa, mas quem não é cardeal pode esquecer esse desejo. Já quanto aos favoritos, não há memória de alguém que tenha entrado Papa no Conclave e não tenha saído cardeal

Nota prévia. Não há memória de alguém ter entrado Papa no conclave e não ter saído cardeal. Ou, por outras palavras, os favoritos à liderança da Igreja Católica nunca são eleitos. Para se ter uma ideia, poucos ou nenhuns acertaram, em 1978, no nome de Karol Wojtyla, que viria a ser o Papa João Paulo II. Como também só poucos, muito poucos, terão pensado em Bergoglio para Papa. Mas o cardeal argentino conseguiu ser eleito por cardeais da dita ala conservadora. Quem diria que Francisco ficaria na história como um dos mais ilustres representantes do Concílio Vaticano II?

Independentemente de os nomes mais falados nunca chegarem a Papa, as casas de apostas, bem como sites especializados, que contam com muitos jornalistas, teólogos e mesmo padres, fazem as suas listas, e há 22 nomes que parecem estar na linha da frente – o português Tolentino de Mendonça é um deles.

Mas recuemos a agosto de 2023 e à ‘aula’ que Francisco deu aos jesuítas em Lisboa. «Deixem que vos conte uma coisa. Quando era arcebispo, gostava de ir à villa miseria. Um dia fui lá, o Papa João Paulo II estava muito doente. Apanhei o autocarro para uma das villas e, quando cheguei, disseram-me que o Papa tinha morrido. Celebrei a missa com as pessoas e depois parámos para conversar. Uma senhora idosa perguntou-me: ‘Pode dizer-me como se elege um Papa?’ Eu expliquei… ‘E tu, podem fazer de ti Papa?’ Eu disse: ‘Podem fazer de qualquer pessoa Papa’. E ela respondeu: ‘O meu conselho é: se o fizerem Papa, compre um cãozinho’. ‘Porquê?’, perguntei-lhe. ‘Primeiro, dê de comer ao cãozinho’, respondeu ela. A velhota era pobre, de uma villa miseria, mas entendia sobre assuntos de Igreja…».

Como se percebeu, qualquer um que seja batizado pode ser nomeado Papa, mas não consta que o futuro chefe máximo de Igreja Católica não seja cardeal. A luta será entre os conservadores, com os EUA à cabeça, e os progressistas, liderados pela Alemanha. Na Igreja diz-se que é uma luta entre a extrema-esquerda e a extrema-direita, mas é muito mais do que isso, como defendem vários teólogos. Há várias causas em jogo, desde logo se a Europa com os seus 53 cardeais conseguirá voltar a eleger um Papa europeu, com os italianos na linha da frente do desejo. Depois é preciso  saber se os mais novos vão conseguir passar a mensagem e eleger um dos seus. Depois é a guerra entre continentes. Os americanos, os mais conservadores, que contam com alguns aliados no Brasil, e não só, tudo farão para travar o processo sinodal e acabar com as modernices do fim do celibato dos padres, das mulheres diaconisas ou da bênção entre pessoas do mesmo sexo. Se os americanos vencerem, então as missas em latim poderão regressar em força.

Já se for a escola a alemã, então tudo será ao contrário e os conservadores precisarão de ter muita fé para não enlouquecerem.

Na ala dos ultra conservadores destacam-se  Gerhard Ludwig Muller, Robert Sarah ou Leo Burke.  Mas aquele que reúne maior consenso é Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, havendo quem diga que seria a continuação do legado de Francisco. O liberal italiano Matteo Zuppi e o conservador húngaro Péter Erdõ também estão na lista dos favoritos. Pierbattista Pizzabala , patriarca  latino de Jerusalém, também está muito bem cotado, embora se diga que o preferido de Francisco para lhe suceder fosse Jean-Marc Aveline. Em África há um nome que se destaca, falando-se na possibilidade do primeiro Papa negro: Fridolin Ambongo Besungu, bem como o já citado Robert Sarah.

Já o cardeal Tolentino de Mendonça, que tem desempenhado cargos de elevada responsabilidade no Vaticano, é apresentado como «poeta, estudioso da Bíblia e educador no seu país natal, Portugal, e um prelado muito ligado à ala ‘progressista’ da igreja, com uma estreita afinidade com o Papa». 

O site O Colégio dos Cardeais destaca o percurso de Tolentino, que foi escolhido pelo Papa em 2018 para orientar os exercícios espirituais para a Cúria Romana, tendo depois sido nomeado arquivista e bibliotecário da Santa Sé.

«Tolentino atraiu considerável controvérsia durante a sua vida sacerdotal, nomeadamente por simpatizar com abordagens heterodoxas e tolerantes à homossexualidade (embora nunca se tenha pronunciado publicamente contra o ensinamento da Igreja nesta área)», lê-se no site.

O Colégio dos Cardeais destaca os 22 nomes, ver infografia, mas depois não é muito explícito sobre o que pensa cada um deles sobre temas fraturantes. Para se ter uma ideia, sobre diaconisas, sabe-se que nenhum é a favor, que 13 são contra, cinco têm uma resposta ambígua e não se sabe o que pensam sobre o assunto quatro desses cardeais. O mesmo se passa com a as bênçãos a homossexuais, sabendo-se que há dois a favor e nove contra. O fim do celibato dos padres só recebe um voto favorável, mas as missas em latim têm três adeptos. Quanto aos acordos coma China, que muitos consideram uma cedência ao Estado chinês em detrimento dos católicos perseguidos, três cardeais são a favor. E dez estão a favor de uma Igreja Sinodal, quatro contra… 

As contas de Ginés

Já o jornalista Pablo J. Ginés fez uma escolha um pouco diferente começando por excluir os mais velhos, perto dos 80 anos e aqueles que têm menos de 60. Logo aqui ficaram de fora 35. Depois excluiu os cardeais  mais exóticos e desconhecidos, que são de dioceses pequenas. O terceiro diz respeito à impossibilidade de se seguir outro Papa hispano-americano ou sul-americano.

Excluiu de seguida os quatro cardeais jesuítas, e os americanos também tiveram o mesmo destino, pois a mentalidade da nação mais rica do mundo não pode ser seguida no Vaticano.

Por estes e outros fatores, Ginés fez a sua lista: em primeiro, Péter Erdo, o húngaro, e em 12.º, e último, Fridolin Ambongo Besungu. Para este especialista, Tolentino não entra nas contas.