(R)evolução

Aqui há tempos, falava sobre isto com um amigo e dizia-lhe “só me apetece emigrar!” — e ele respondeu, “mas para onde?” E estava cheio de razão. A direita está no poder em toda a parte: Espanha, Itália, Alemanha, França (Marine Le Pène está cada vez com mais força), Estados Unidos, Brasil e por aí…

Querida avó,

Cá estamos nós a celebrar os 51 anos de Abril.    

Como já referimos, inúmeras vezes, nunca é de mais celebrar esta data e sublinhar a importância da mesma para a nossa democracia.

Cada vez oiço mais pessoas a relativizarem a forma como se vivia, em Portugal, antes do 25 de Abril, de 1974.

Isto não pode ser repensado, branqueado, relativizado, simplificado, desvalorizado…!

Recentemente até ouvi dizer que o que existiu não foi uma Revolução, mas sim uma evolução, imagina.

Há uma grande diferença entre revolução e evolução. Os dois conceitos tratam de transformação, é um facto.  No entanto, a grande diferença é ó que revolução é uma mudança radical, que destrói o que existia antes (que foi o que aconteceu); enquanto evolução é um movimento progressivo, que soma acontecimentos ao que já existia.

Para que a história não tenha novas interpretações, as gerações mais velhas devem continuar a relatar os factos sucedidos às gerações mais novas.

Recentemente, na Biblioteca Municipal de Pombal, vi dois belíssimos livros (sobre este tema) para leitura intergeracional:

“Maria Lamas, amor, paz e liberdade” que narra a vida da tua prima. Neste livro Maria Lamas vive a Revolução dos Cravos com a alegria de uma criança. Na verdade, foi adulta ainda menina, mas sempre menina enquanto adulta. Guardou dentro de si uma curiosidade gigante, a felicidade das coisas simples e a vontade apaixonada: por uma ideia, por uma pessoa, por um sonho, pela vida.

“José Mário Branco, ser solidário” “ A história do homem que transforma em canções aquilo que o seu corpo sente e aquilo que a sua cabeça pensa. O que os seus olhos veem quando se abrem ao mundo e como ele nos vê olhar para o mundo.

Histórias e personalidades que viste na primeira pessoa, e que não podem ser esquecidas!

Baril, baril, são os livros de Abril.

Viva a Liberdade!

Bjs

Querido neto,

É verdade! Celebramos os 51 anos de abril (de uma forma atípica) e estamos em contagem decrescente para eleições legislativas, uma vez mais.

De novo eleições…

E lá temos de novo as mesmas esperanças, as mesmas angústias, as mesmas horas que têm todas muito mais que 60 minutos, até sabermos os resultados.

O Presidente da República falou muito bem quando as anunciou ao país — mas eu confesso que tenho um certo medo do resultado.

A direita está com muita força.

Aqui há tempos, falava sobre isto com um amigo e dizia-lhe “só me apetece emigrar!” — e ele respondeu, “mas para onde?” E estava cheio de razão. A direita está no poder em toda a parte: Espanha, Itália, Alemanha, França (Marine Le Pène está cada vez com mais força), Estados Unidos, Brasil e por aí fora.

E, para além disto, os nossos candidatos (mesmo os de esquerda) deixam muito a desejar. Que confiança temos neles, para pormos o nosso destino nas suas mãos? De resto, como acontece sempre, vão aparecer partidos que estiveram sempre calados e só falam nestas alturas.

Lembro-me, há muitos anos, de um partido que só aparecia nestas alturas, e claro que tinha de explicar ao que vinha, porque as pessoas já não se lembravam dele.  Mas o tempo de antena não era muito. Então o cabeça de lista prometia isto e mais isto e mais aquilo, e rematava:

“Nós prometemos tudo!”.

Tenho impressão de que, lá bem no fundo, todos os candidatos gostariam de dizer o mesmo — mas, vá lá, não se atrevem.

Então esperemos pelo dia 18 maio.

E que toda a gente vá pôr a cruz no papelinho, pois foi para isso que lutamos pela democracia.

No último trimestre do ano seremos novamente chamados para voltar. Nessa altura para Eleições Autárquicas.

No próximo ano teremos Eleições Presidenciais. Para bem da democracia, e da nossa sanidade mental, espero que estejamos alguns anos sem voltar a ser chamados para ir às urnas.

Viva a Liberdade.

Bjs