Terminadas três semanas de intensos debates televisivos entre os vários líderes políticos, a campanha segue para a estrada já este fim de semana, apesar de domingo e segunda-feira ainda serem dias de debate com todos os partidos com assento parlamentar.
Numa altura em que o quadro parlamentar se pulverizou em várias forças políticas que entraram recentemente na Assembleia da República, e em que os cenários de quase empate entre os dois principais partidos se tornaram cada vez mais prováveis, os quartéis generais das campanhas trabalham em cima de mapas que procuram tirar o máximo partido das vantagens e desvantagens da contagem de votos em método de Hondt.
O sistema, se bem aproveitado, pode fazer a diferença na conquista de mandatos, conforme os círculos eleitorais, para partidos grandes e pequenos. Na verdade, Chega, Livre e Iniciativa Liberal, e no passado o Bloco de Esquerda, apostaram todas as fichas nos grandes centros urbanos de Lisboa e Porto, para conseguirem entrar no parlamento. A razão é simples: são os círculos maiores, que elegem mais deputados e em que é possível eleger com um menor número de votos em urna.
A vida dos partidos complica-se quando atingem uma dimensão nacional. Aí é preciso avaliar bem quais as melhores apostas a fazer, e as contas não são simples.
É neste jogo de luz e sombras que o roteiro das campanhas é desenhado, já não só pelos pequenos partidos, mas, desde as últimas eleições, em 2024, onde PS e PSDficaram separados por apenas 54 mil votos, tendo o resultado nas regiões autónomas da Madeira e dos Açores sido decisivos para a vitória da AD.
A surpresa que pode vir das ilhas
Tal como aconteceu em 2024, as surpresas na noite eleitoral de 18 de maio podem chegar do Atlântico. As sondagens que têm sido divulgadas, apesar de incluírem entrevistas nas duas regiões autónomas, o número de inquéritos não é suficiente para detetar alterações mais específicas daqueles eleitorados.
O caso mais emblemático é o da mais que provável entrada do Juntos Pelo Povo (JPP) no parlamento nas próximas eleições. O partido que tem ganho influência nas sucessivas eleições que se registaram na Madeira, é agora a segunda força mais votada na região e a maior parte dos especialistas acredita que a eleição de um deputado é praticamente certa, roubando aos socialistas um dos dois mandatos que normalmente consegue em eleições nacionais.
Mas as novidades podem não ficar por aqui, quer na Madeira, quer nos Açores, a ADacredita que é possível recuperar mandatos ao Chega. O caso que envolveu o deputado Miguel Arruda do Chega, eleito pelo circulo eleitoral dos Açores pode fazer mossa e se assim for a AD deverá ser a força beneficiada.
Na Madeira, onde as eleições de março não deram a maioria absoluta a Miguel Albuquerque por uma unha negra, bastando-lhe juntar-se ao CDS para o conseguir, a expectativa é que os resultados em eleições nacionais não sejam muito diferentes. Se assim for a AD/Madeira tem hipótese de eleger mais um deputado o que levaria a que o Chega não repetisse a conquista de um mandato do total de seis que estão atribuídos à região autónoma.
AD e IL cruzam estratégias
No roteiro definido pela direção de campanha da AD a prioridade é apostar em círculos eleitorais onde nas últimas eleições não elegeu deputados por poucos votos. A estratégia é conseguir o dois em um: eleger deputados com poucos votos a mais e retirar deputados, sobretudo ao PS e ao Chega.
O Nascer do SOL pediu ajuda a João Telhada, Professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, para perceber quais os círculos em que, de acordo com o objetivo traçado, Luís Montenegro deverá apostar prioritariamente. São seis distritos em que relativamente poucos votos podem converter-se em mais deputados:Guarda, Castelo Branco, Viseu, Lisboa, Vila Real e Portalegre. Em todos estes distritos, a conquista de um deputado reverte-se em menos um eleito pelo Chega (na Guarda e em Portalegre), ou pelo PS (em Castelo Branco, Viseu, Lisboa e Vila Real).
Do lado da Iniciativa Liberal as apostas também estão bem definidas. O partido concentra a campanha onde os votos na ILnão são desperdiçados e onde podem somar a uma melhor votação na AD. As sondagens têm revelado que as duas forças políticas podem, pelo menos, vir a somar mais deputados do que os partidos da esquerda todos juntos e, num cenário otimista, podem mesmo chegar a uma maioria absoluta. Para o conseguirem os estados gerais das duas formações políticas têm de procurar maximizar resultados sem se prejudicarem mutuamente.
É um verdadeiro crochê eleitoral com que os dois partidos esperam conseguir chegar à noite das eleições em condições ideais. Rui Rocha e Luís Montenegro não escondem que estão disponíveis para entendimentos e, do lado da AD, a intenção é que um acordo de governo possa mesmo existir sem que para isso tenha de haver uma maioria absoluta.
Passada a fase de debates em que Rui Rocha foi aproveitando para apresentar as condições para aceitar juntar-se a um governo da AD, agora é tempo de cada um ir para a estrada tentar arrecadar votos e deputados.