“Em cada dois contratos  assinados, um é com um estrangeiro”

O presidente da Associação Nacional de Proprietários não prevê uma redução dos preços e diz que há oferta no mercado para arrendar, mas não para o bolso dos portugueses que enfrentam a concorrência dos estrangeiros ricos e dos imigrantes.

Como vê o mercado de arrendamento?
O mercado de arrendamento funciona normalmente. Tirando um pico que há de incumprimento no pagamento das rendas, mas que já vem de há uns tempos para cá. O dinheiro não estica e não há dia nenhum que não haja queixa dos associados de que os arrendatários deixaram de pagar a renda.

Deve-se à perda de apoios do arrendamento?
Também por isso, mas por outro lado, também vimos outros que têm apoios e que não deviam ter. E num cenário de incumprimento o que é que o senhorio faz? Como é evidente promove o despejo.  Faz cessar o contrato de rendimento só que depois cria uma série de chatices porque há muitas pessoas que não têm para onde ir, não saem e ficam até que se proceda ao despejo.

Há perspetivas de haver alguma redução nos valores cobrados?
Redução não vai haver de certeza, pode haver uma acalmia. Por exemplo, em Lisboa, um quarto custa entre 400 e 500 euros e ouço pessoas a exigirem uma casa a 50, 100, 200 euros, mas só a Câmara Municipal é que tem esses preços. A autarquia de Lisboa conta com 25 mil inquilinos, mas 12 mil não pagam e não lhes acontece nada então como é que uma casa com dois ou três quartos e uma sala pode custar menos do que um quarto? É evidente que em Lisboa é impossível arranjar uma casa por mais pequena que seja por menos de mil euros. E depois também há outra coisa muito importante. O preço por metro quadrado de construção não para de subir e já ninguém faz uma casa por menos de dois mil e tal euros o metro quadrado, além do preço do terreno. Neste momento não faltam casas para arrendar não há é provavelmente pessoas com capacidade financeira para pagar os valores.

Por terem salários baixos…
O ordenado mínimo em Portugal são 870 euros e com esse valor é impossível arrendar uma casa. Se calhar conseguem se for um casal, pois já são 870 mais 870 ou se tiverem duplo emprego. Mas garanto que o mercado continua a funcionar e com quem? Neste momento, por cada dois contratos de arrendamento que se fazem diariamente um deles é feito com um cidadão estrangeiro ou com uma família estrangeira, nomeadamente norte-americanos, ingleses, etc.

Conseguem pagar rendas mais altas…
Os portugueses são confrontados com dois tipos de estrangeiros, os que têm poder de compra e os estrangeiros imigrantes. E nenhum proprietário arrenda uma casa a um casal ou uma pessoa que não lhe dê garantias. Por outro lado, também não se aluga uma casa que não tenha um esquentador ou um termoacumulador ou que não tenha um fogão ou uma placa, etc. Tudo isso custa muito dinheiro e depois quem é que paga?  Tradicionalmente a pessoa quer independentizar-se e quer uma casa tem de fazer sacrifícios. Isto é, tem de fazer poupanças, é renunciar a uma série de coisas. Muitos podem dizer que o ordenado é baixo e que não conseguem poupar então aí tem de ser o Estado a resolver esse problema. O artigo 65 da Constituição diz que todos os portugueses têm direito a uma casa mas não diz que são os privados que têm de dar a casa.

O que é que espera do  próximo Governo?
Espero o mesmo que esperava desde Governo que saiu que é zero. Não acredito em milagres. Este Governo  tinha um programa muito bonito que dizia que ia revogar todas as medidas do Mais Habitação e não revogaram nada. A única coisa que foi revogada foram duas ou três coisas do alojamento local porque o o lobby é fortíssimo. Em relação ao proprietário vulgar e que tem uma casa ou um prédio ficou tudo na mesmo com todo o grau de injustiças que se tem praticado.