Querida avó,
No próximo domingo é Dia da Mãe. Recordo-me de em criança ir com a minha mãe à praia e ouvi-la dizer: «Aqui, tudo nos faz bem: a água, o sol, o contacto com a areia, o som relaxante e a brisa».
Quando chegava o homem dos gelados a praia ainda fazia melhor. Mas não havia nada que se comparasse às merendas que a minha mãe preparava, logo de madrugada.
Sempre vi a minha mãe a ser uma grande mãe. Saía de casa, de madrugada, para trabalhar na fábrica, de mão dada com um filho de cada lado. Em casa deixava o pequeno-almoço preparado para o marido… Chegava a casa, ao fim do dia, e tinha de cozinhar, limpar, cuidar da roupa e dos filhos.
A minha mãe (e as minhas avós) nunca teve grandes luxos. Nunca fez viagens distantes. O mais longe que viajou foi à Madeira, com os filhos, claro. O seu mundo foi sempre a casa (muitas vezes por opção). É através da televisão que descobre mais sobre o mundo.
Tem uma vida construída sobre a rotina simples de quem não precisa de mais do que o essencial: a casa, as mãos ocupadas a cuidar das flores (a sua terapia e o seu oxigénio) e a companhia da Violeta, a cadela com quem se entende muito bem.
Os filhos cresceram, fizeram as malas e foram embora. Tal como os pássaros saímos do ninho. Mas nunca saímos debaixo da asa da mãe. Falamos todos os dias, vemo-nos frequentemente. Recebe-nos com o abraço, e alegria, de sempre
Sempre me irritou aqueles que tratam as mães como “guerreiras”.
Não me parece que sejam guerreiras. Se elas não fizessem o trabalho, quem o faria?
A minha mãe tem sido incansável. Tem um coração enorme, um amor desmedido.
Sou muito feliz pela vida me ter dado a mãe que me deu.
Obrigado, mãe.
Bjs
Querido neto,
Como sabes, não tive ligação afetiva com a minha mãe. Ao longo da vida fui tendo outras referências femininas, que foram fazendo parte do meu crescimento pessoal.
Hoje gostaria de destacar a Maria Helena. Creio que já te falei dela.
Sempre me lembro de a tratar por Mãe Lena. Tinha um filho, colega dos meus irmãos no liceu e, por isso, andávamos sempre todos juntos e eu estava sempre caída em sua casa.
Adorava-me e eu adorava-a.
Teria eu os meus 13 anos quando comecei a namorar com o filho dela.
Os anos foram passando e, um dia, atravessou-se outro homem no meu caminho, e eu deixei o filho dela. Foi terrível! Ela sabia sempre onde eu estava e ia ter comigo e dizia que não podia ser, que nós íamos casar dali a dias, que até já tínhamos casa apalavrada, que eu pensasse bem…
Mas nada a fazer, claro.
E separei-me do filho dela, e ela deixou de me falar.
Entretanto fui para Paris e nunca mais nos vimos. E cada um fez a sua vida: o filho dela casou e foi para a Europa, eu estive casada com o meu outro namorado durante mais de 20 anos (até à morte dele, em 2002, e foi paixão até esse dia).
Um dia, tinha o meu marido morrido há dois anos, e estávamos na véspera de Natal. Eu estava com uma neura danada e decidi sair de casa, e ir beber uma bica no café em frente.
E o meu primeiro namorado estava lá! E a primeira pergunta que me fez foi «foste feliz com o teu marido? Valeu a pena teres-me deixado?». E quando eu disse que sim ele respirou fundo e disse «ao menos isso!».
Convidou-me para jantar no dia seguinte e, resumindo: ainda vivemos juntos durante 11 anos (até ele morrer). A Mãe Lena, já muito velhota, ainda se “aguentou” algum tempo – e voltou a gostar de mim.
Lembro-me sempre dela neste dia.
Também gosto muito da tua mãe. Como tu sabes e ela também.
No Dia da Mãe vou almoçar com o meu filho, claro. E com a minha nora, mães dos meus netos.
Bjs