‘Quem entra Papa sai Cardeal’ e ‘A um Papa gordo, segue-se um magro’, são duas expressões que muito se têm repetido nos últimos tempos. Tudo a propósito da especulação sobre quem é o escolhido para se centrar no trono de São Pedro e suceder a Francisco. Mas vale notar que, embora os provérbios tenham sempre o seu quê de verdade, a história recente diz-nos que afinal não é bem assim.
Afinal, há quem entre e saia Papa da Capela Sistina. Foi o caso de Bento XVI, favorito a suceder a João Paulo II antes mesmo de os cardeais se fecharem ‘com chave’ [tradução de conclave] para escolherem o 265.º Sumo Pontífice da Igreja.
O próprio Papa Francisco também já estava na lista dos favoritos para assumir o testemunho de Bento XVI quando este renunciou em 2013. Jorge Bergoglio terá sido, aliás, o segundo mais votado no conclave anterior, de onde Joseph Ratzinger saiu como líder da Igreja, em 2005.
O mesmo não se pode dizer de João Paulo II. Poucos arriscariam dizer que o fumo branco no dia 16 de outubro de 1978 seria por causa do polaco Karol Wojtyła, o primeiro não italiano a sentar-se no trono de São Pedro em mais de 450 anos.
Agora, quase 47 anos e três Papas depois, será que haverá nova surpresa? Sublinhe-se que o conclave acontece num momento de grande incerteza, com vários conflitos geopolíticos, mas também tensões internas dentro da própria Igreja.
O mundo está cada vez mais secularizado e a Igreja tem de perceber como lidar com esse desafio. O caminho passa por promover uma imagem mais moderna ou por reafirmar os valores tradicionais?
O novo Papa pode ajudar a chegar a uma resposta, mas pelas diferenças que existem entre os 22 cardeais que constituem a lista dos papabili divulgada no site ‘Colégio dos Cardeais’, uma plataforma criada por uma equipa internacional de jornalistas e investigadores católicos, quem quer seja o novo Santo Padre não terá uma tarefa fácil e vai enfrentar críticas.
Se atendermos ao segundo provérbio inicial, a Francisco seguir-se-ia um Papa mais conservador. Mas a história, também recente, diz-nos novamente que nem sempre é assim, e mais uma vez o exemplo chega de João Paulo II e Bento XVI, ambos defensores de valores tidos como tradicionais na Igreja.
Resta esperar pelo fumo branco do conclave. Até lá, conheça melhor o perfil de cada um dos 22 favoritos ao trono de São Pedro.
Nota, os nomes estão separados por continentes e dentro de cada um por idades, do mais novo ao mais velho. Atenção que a idade limite para ser eleitor é de 80 anos.
Europa
José Tolentino Mendonça
Portugal
59 anos

Prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação na Cúria Romana. Criado cardeal há seis anos, é poeta e teólogo. Tinha uma estreita afinidade com o Papa Francisco e é considerado como pertencendo à ala ‘progressista’ da Igreja.
Jean-Marc Aveline
França
63 anos

Arcebispo de Marselha e cardeal desde 2022, Aveline é conhecido pelo seu compromisso com os migrantes e pela defesa do diálogo inter-religioso. As suas posições são tidas como da ala mais progressista da igreja. É fluente em italiano e tem se destacado no cenário europeu .
Matteo Maria Zuppi
Itália
69 anos

Arcebispo de Bolonha e presidente da Conferência Episcopal Italiana, Zuppi é conhecido por defender uma maior inclusão e pelo seu trabalho em prol da paz, tendo servido como enviado papal para a guerra entre Rússia e Ucrânia. Foi criado cardeal em 2019 por Francisco.
Pietro Parolin
Itália
70 anos

Atual Secretário de Estado da Santa Sé, Parolin é um diplomata experiente e moderado. Foi criado cardeal em 2014 pelo Papa Francisco, de quem era considerado o braço direito. Atualmente está à frente na maioria das bolsas de apostas online para ser o novo líder da Igreja e é visto como um nome que daria continuidade às reformas do atual pontificado.
Willem Jacobus Eijk
Países Baixos
71 anos

Arcebispo de Utrecht, na Holanda, o cardeal Eijk é defensor da doutrina tradicional da Igreja, especialmente em temas como eutanásia, casamento e sexualidade. É considerado influente principalmente entre os bispos europeus mais conservadores. Foi criado cardeal pelo Papa Bento XVI em 2012.
Péter Erdő
Hungria
72 anos

Arcebispo de Budapeste, é considerado conservador mas manteve sempre boas relações com o Papa Francisco. Mesmo quando não concordava era discreto na discórdia. É um nome com peso na Igreja e bastante respeitado pelos pares eclesiásticos, tendo sido relator do Sínodo dos Bispos da Família em 2014 e comandado a Assembleia Geral dos Bispos no mesmo ano.
Kurt Koch
Suíça
74 anos

Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, Koch é conhecido pelo seu trabalho ecuménico e no diálogo inter-religioso. Foi criado cardeal em 2010 por Bento XVI.
Anders Arborelius
Suécia
74 anos

Primeiro cardeal da Escandinávia, Arborelius é bispo de Estocolmo e membro da Ordem dos Carmelitas Descalços. Pertence à ala menos progressista da Igreja, não vendo com bons olhos a ordenação de mulheres ou a bênção de casais homossexuais. Destaca-se pelo ecumenismo e pela promoção do diálogo inter-religioso. Foi criado cardeal em 2017 por Francisco .
Fernando Filoni
Itália
76 anos

Ex-prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos e atual Grão-Mestre da Ordem do Santo Sepulcro, Filoni tem uma vasta experiência diplomática e missionária. Foi criado cardeal em 2012 por Bento XVI .
Gerhard Ludwig Müller
Alemanha
77 anos

Ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Müller é um teólogo tido como conservador, sendo crítico de algumas reformas pós-Concílio Vaticano II. Foi criado cardeal em 2014 por Francisco.
Angelo Bagnasco
Itália
81 anos (não é eleitor)

Arcebispo de Génova e ex-presidente da Conferência Episcopal Italiana, Bagnasco é uma figura influente na Igreja italiana. Foi criado cardeal em 2006 por Bento XVI.
Mauro Piacenza
Itália
80 anos (não é eleitor)

Ex-prefeito da Congregação para o Clero e atual penitenciário maior, Piacenza é conhecido por sua dedicação à formação sacerdotal. Foi criado cardeal em 2007 por Bento XVI. As suas posições são conservadoras, embora seja discreto na crítica às reformas.
Ásia
Pierbattista Pizzaballa
Itália/Jerusalém
60 anos

Nasceu em Itália mas é Patriarca Latino de Jerusalém. Foi nomeado pelo Papa Francisco em 2023. É Considerado moderado, acredita que a Igreja deve estar aberta a todos, mas faz a ressalva de que “não deve pertencer a todos”.
Luis Antonio Gokim Tagle
Filipinas
68 anos

Arcebispo de Manila e ex-prefeito do Dicastério para a Evangelização, Tagle partilhava com o Papa Francisco a ideia de uma igreja missionária focada na defesa dos marginalizados, ganhou a alcunha de “Francisco asiático”. O seu nome já tinha referido como um dos favoritos aquando da nomeação de Francisco em 2013. Foi nomeado cardeal por Bento XVI em 2012.
Charles Maung Bo
Myanmar
76 anos

É o primeiro cardeal de Mianmar e tem sido considerado um dos prelados mais importantes da Ásia. É presidente da Federação das Conferências Episcopais da Ásia. Foi criado cardeal em 2015 pelo Papa Francisco.
Albert Malcom Ranjith Patabendige Don
Sri Lanka
77 anos

Arcebispo de Colombo desde 2009, Ranjith é conhecido por ter posições conservadoras, sendo contra a bênção de casais homossexuais ou a ordenação de mulheres. Foi criado cardeal em 2010 por Bento XVI e é membro dos dicastérios para o Culto Divino e a Evangelização dos Povos.
África
Fridolin Ambongo Besungu
República Democrática do Congo
65 anos

Arcebispo de Kinshasa e presidente da Conferência Episcopal Nacional do Congo, Ambongo é conhecido por sua luta contra a corrupção e defesa dos pobres. Tem posições consideradas conservadoras, como o facto de ser publicamente contra a bênção a casais homossexuais e a favor da continuidade do celibato obrigatório dos padres, ao mesmo tempo que defende uma maior democratização da Igreja e a preocupação com as mudanças climáticas. Foi criado cardeal em 2019 pelo Papa Francisco.
Stephen Brislin
África do Sul
68 anos

Arcebispo da Cidade do Cabo, Brislin é conhecido por seu compromisso com a justiça social e os direitos humanos. É talvez o cardeal mais liberal da lista de papáveis, não é contra a ordenação das mulheres nem contra o fim do celibato obrigatório dos padres. Foi criado cardeal em 2015 por Francisco.
Robert Sarah
Guiné
80 anos

Ex-prefeito do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Sarah é conhecido por suas posições conservadoras, foi uma das vozes mais críticas às eventuais reformas promovidas pelo Papa Francisco. Foi criado cardeal em 2010 por Bento XVI.
América
Daniel Fernando Sturla
Uruguai
61 anos

Arcebispo de Montevidéu e presidente da Conferência Episcopal do Uruguai, Sturla é conhecido pela sua postura pastoral e pelo compromisso com os mais pobres. Foi criado cardeal em 2018 por Francisco.
Raymond Leo Burke
EUA
76 anos

Prefeito Emérito do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica, Burke é considerado um dos mais conservadores da lista de favoritos à nomeação do novo Papa. A par do cardeal Sarah, do Congo, foi uma das vozes mais críticas e públicas a algumas das posições do Papa Francisco. Foi criado cardeal em 2010 pelo Papa Bento XVI.
Marc Ouellet
Canadá
80 anos

Foi prefeito do Dicastério para os Bispos durante mais de dez anos. É uma figura influente na Igreja, mas nem por isso imune a controvérsias ou acusações, tendo havido uma decisão de um tribunal civil francês contra si, no caso que envolveu uma freira expulsa da sua ordem religiosa. A Santa Sé criticou publicamente a decisão francesa. Foi criado cardeal em 2003 por João Paulo II.