ATÓLL. O substituto sustentável do CascaisVilla

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O apelidado ‘Titanic de Cascais’ começou finalmente a ser demolido, algo há muito desejado pelos habitantes. No seu lugar, nascerá uma zona residencial e comercial com assinatura do arquiteto britânico Norman Foster. O ATÓLL, como vai chamar-se, ‘é pensado para quem valoriza a ligação à natureza’ e vai unir sustentabilidade, criatividade e bem-estar.

Há muito que os habitantes de Cascais pediam uma solução para o centro comercial CascaisVilla, inaugurado em 2001 debaixo de grande polémica. Construído em leito de cheia e em terrenos inundáveis, a obra, apelidada por muitos como ‘Titanic de Cascais’ pela sua forma de barco vai, finalmente, ‘afundar’. A promessa já tinha sido feita há três anos, em 2022, por Carlos Carreiras, presidente da autarquia que dizia, nessa altura, ter sido precisa muita «teimosia» para conseguir a retirada desta obra. E agora cumpre-se. E há muitos que já consideram que este é um momento «histórico» para a vila.
Os trabalhos já começaram e «a demolição vai durar cerca de 10 meses, e vai ser absolutamente criteriosa para favorecer a economia circular e a sustentabilidade, uma vez que os materiais vão ser reutilizados na construção do novo edifício», garantiu Nuno Piteira Lopes, vice-presidente da autarquia.


Aqui, vai nascer um projeto com a assinatura do arquiteto inglês Norman Foster que concebeu um projeto destinado a área residencial e comercial, utilizando materiais reciclados do CascaisVilla.


«A zona onde vai nascer este projeto de Norman Foster foi recentemente alvo da implementação do novo Terminal Rodoviário de Cascais, a par de uma profunda alteração na circulação rodoviária, que veio permitir uma maior fluidez no trânsito da entrada nascente da vila», adianta a Câmara de Cascais.


O presidente da autarquia esteve presente no início dos trabalhos de demolição e até pôs mãos à obra. Deitou abaixo uns azulejos de um pilar e explicou o projeto, deixando a garantia de que está a iniciar-se «a reconversão de um espaço nobre em Cascais no âmbito de uma reconversão e de uma requalificação maior ainda que é a entrada de Cascais». O futuro, nas suas palavras, terá «avenidas largas, esplanadas» e a «possibilidade de as pessoas se encontrarem, de conviverem». «Teremos um espaço público, completamente humanizado e que vai funcionar, inclusivamente não como barreira como era o Cascais Villa em relação ao centro da vila mas como catalisador para levar as pessoas para o centro da vila», defendeu Carlos Carreias, acrescentando que «o próprio comércio da vila vai beneficiar e muito com a nova intervenção».


O edifício vai ser demolido até ao piso zero e o estacionamento existente será reaproveitado e transformado num parque de estacionamento público gerido pela autarquia.

ATÓLL e a sustentabilidade
O novo projeto, chamado ATÓLL, promete redefinir a paisagem costeira da cidade. É projetado pela Foster + Partners, sob a liderança de Lord Norman Foster e financiado pela PRIME, fruto de um investimento de 100 milhões de euros. Assim, no lugar do CascaisVilla, vão nascer dois novos edifícios de habitação e lojas de proximidade. Em comunicado, Filippo Buffa e Federico Rosales, Managing Directors e cofundadores da Príme, garantem que este é um «projeto pensado para resistir ao tempo e para quem valoriza a ligação à natureza», sendo também «um projeto que une sustentabilidade, criatividade e bem-estar».


E levantam um pouco a ponta do véu. «Com terraços que se estendem sob a luz solar, jardins botânicos e tecnologia de última geração, o ATÓLL foi cuidadosamente desenhado para promover um estilo de vida saudável e consciente. Funcionando como um novo pulmão verde para Cascais e a sua linha costeira atlântica, este desenvolvimento deixará um legado positivo tanto para o meio ambiente como para a comunidade local».
O ATÓLL, diz a Prime, «alia a herança cultural à sofisticação contemporânea, oferecendo uma experiência incomparável a residentes e visitantes».
A obra deverá estar concluída em 2028.

A visão de Foster
Para Carlos Carreiras, é certo que «a visão arquitetónica de Lord Norman Foster e a dedicação de toda a equipa vão transformar a região num destino verdadeiramente único», sendo este um projeto que «irá enaltecer a beleza e o prestígio da cidade, reforçando também o compromisso de longa data com a sustentabilidade ambiental».


É que é mesmo isso que são os trabalhos de Norman Foster. É um dos principais nomes da arquitetura high-tech e foi construindo a sua reputação ao longo de mais de quatro décadas de trabalhos, utilizando o aço e o vidro em construções contemporâneas e aproveitando a iluminação natural de forma criativa e ousada.


O arquiteto tem projetos espalhados por todo o mundo e foi reconhecido com dezenas de prémios ao longo da sua carreira, incluindo o Pritzker, em 1999, considerado o ‘Nobel da Arquitetura’. A sua fama é conhecida mundialmente e não constrói apenas edifícios: é também conhecido por desenvolver viadutos, pontes, museus, estádios e até parlamentos.


Foster é responsável por projetos icónicos como o Vieux Port em Marselha, o Viaduto de Millau, o 30 St Mary Axe, conhecido como Gherkin, em Londres, a sede do HSBC em Hong Kong, o Carré d’Art em Nîmes, o Aeroporto de Pequim, o Apple Park em Cupertino ou Reichstag em Berlim.


Para cada projeto, Lord Norman Foster combina uma utopia futurista com um alto nível de compreensão do ambiente e do contexto.


Em Portugal há ainda destaque para o Living Lab que é um projeto liderado pelo DST group, em Braga, que pretende reformular o conceito de construção modular. Norman Foster é o autor desta microcidade que ainda não nasceu.