Passavam poucos minutos das 17h desta quinta-feira, quando o fumo branco saído da chaminé da Capela Sistina fazia anunciar a eleição do novo Papa. A ‘fumaça’ deixou as milhares de pessoas presentes na Praça de São Pedro, em Roma, em êxtase. O anúncio oficial foi depois feito pelo cardeal protodiácono Dominique Mamberti, que proclamou o tradicional «Habemus Papam!» da varanda da Basílica de São Pedro, revelando o nome do novo pontífice: Robert Francis Prevost.
Nascido em Chicago, nos Estados Unidos da América, o cardeal Robert Francis Prevost, de 69 anos, ficou conhecido como o “pastor de duas pátrias” pela sua longa missão no Peru, onde se tornou bispo e cidadão naturalizado. Antes de ser nomeado, ocupava o cargo de prefeito do Dicastério para os Bispos, onde participou ativamente na nomeação de bispos ao redor do mundo.
À primeira vista, um papa norte-americano nem sempre é a aposta mais óbvia – Prevost será o primeiro da história –, mas a sua relação próxima com o Papa Francisco e o papel central na administração do anterior pontífice posicionou-o na lista dos favoritos a Papa, segundo alguns especialistas. Tal como referiu o analista do Vaticano Marco Politi ao The New YorkTimes, ainda antes da eleição, «se ele não fosse americano, era automaticamente um pontificável (possível candidato a Papa), com certeza.»
Um papa que deseja a paz e o diálogo
Poliglota, moderado, reservado e «construtor de pontes» – um atributo crucial para liderar uma igreja dividida –, o novo Sumo Pontífice aproxima-se de Francisco em alguns temas fraturantes, como a emigração, a pobreza e o ambiente. O padre Michele Falcone, de 46 anos, sacerdote da Ordem de Santo Agostinho (anteriormente liderada por Prevost), descreveu o seu mentor e amigo como o «meio-termo digno».
No seu primeiro discurso como Papa, Leão XIV recordou o seu predecessor: «Ainda guardamos nos nossos ouvidos aquela voz frágil, mas sempre corajosa, do Papa Francisco, que abençoava Roma e o mundo naquela manhã de Páscoa. Permitam-me dar seguimento a essa mesma bênção.»
No entanto, noutros temas, Leão XIV distancia-se do progressismo de Francisco. Num discurso em 2012, Prevost lamentou que a imprensa ocidental e a cultura popular fomentassem «simpatia por crenças e práticas que estão em desacordo com o evangelho» e citou o «estilo de vida homossexual» e «famílias alternativas compostas por parceiros do mesmo sexo e seus filhos adotivos.»
Outra pedra no sapato do novo Papa são as alegadas acusações de encobrimento de casos de abuso sexual na igreja. Uma mulher de Chiclayo, no Peru, afirmou ter sido abusada sexualmente por dois padres. muito antes de Prevost ser bispo, e acusou-o de conduzir mal a investigação e de não impedir um dos padres de continuar a celebrar missas.
Leão XIV: o que nos diz o nome escolhido?
A escolha do nome do Papa é o primeiro sinal do que podemos esperar relativamente ao próximo papado. A tradição centenária da escolha de um novo nome é uma homenagem a legados de papas anteriores, a santos da Igreja ou a apóstolos de Jesus Cristo.
A partir de agora, Robert Francis Prevost será conhecido como Leão XIV, nome escolhido por si. O nome “Leão” foi escolhido por mais de uma dezena de papas, principalmente em referência a São Leão Magno, o primeiro papa a adotar esse nome e conhecido por ser um homem de doutrina, que soube harmonizar o Ocidente com o Oriente.
Antes de Prevost, foi Gioacchino Pecci, em 1878, o último a selecionar o nome Leão como marca de um papado que terminou a 20 de julho de 1903. Leão XIII foi um papa inovador para a sua época, que tentou sempre conciliar a tradição da Igreja com os desafios do mundo moderno. Durante os seus 25 anos de papado, ficou conhecido como o “Papa dos Trabalhadores”. e, em 1981, publicou a encíclica Rerum Novarum, considerada o marco inaugural da Doutrina Social da Igreja.
Um legado que o novo Papa parece querer continuar, até pelas palavras usadas no seu discurso inaugural enquanto Sumo Pontífice: «Devemos buscar juntos como ser uma igreja missionária, que constrói pontes de diálogo, sempre aberta a receber, como esta praça, a todos, a todos que precisam da nossa caridade, da nossa presença, de diálogo, de amor», declarou, ao relembrar as últimas palavras do falecido pontífice, na Páscoa, um dia antes da sua morte. “O mundo precisa de pontes com diálogo, encontro, unindo-nos todos para ser um povo em paz».