1. A Europa assinala, hoje, um marco histórico: os 75 anos da Declaração Schuman.Nestes 75 anos, a Europa tem acumulado conquistas extraordinárias. A paz, valor inestimável e frequentemente subestimado, tem sido uma constante no território da União. A par disso, o continente registou um dos maiores períodos de crescimento económico, e bem-estar social do mundo. A Europa tornou-se um exemplo global de equilíbrio entre desenvolvimento económico e coesão social, liderando na defesa dos direitos humanos, e na sustentabilidade ambiental.
Somos o maior bloco económico do mundo, com um mercado interno incomparável e com mais de 40 acordos comerciais globais. É aqui que a qualidade de vida é mais elevada, onde se garante mais proteção social, acesso à saúde, direitos laborais.
Mas 75 anos depois, o projeto europeu encontra-se numa encruzilhada. A invasão da Ucrânia pela Rússia reavivou os fantasmas do passado. A administração Trump representa uma visão isolacionista, pondo em causa décadas de uma aliança euro-atlântica estratégica.
Internamente, os perigos não são menores. Os populismos ganham terreno em vários Estados-membros, procurando destruir a Europa por dentro, atacando diariamente os pilares do Estado de Direito, alimentando ilusões perigosas e distópicas.
Perante isto, é imperativo reafirmar: nunca como hoje o projeto europeu fez tanto sentido e precisa tanto de ser aprofundado. Para isso, necessitamos de protagonistas corajosos e ambiciosos, como foi Schuman. Gente que não vacila perante as primeiras dificuldades e que afirme claramente que, para resolver os bloqueios atuais, a Europa precisa de se valorizar e assumir a sua vocação federal.
Todos os democratas devem inquietar-se com o presente e futuro da Europa e ser ativos na construção do caminho para os próximos anos. Isto inclui fazermos, também a nível interno, uma reflexão sobre o estado do país, no último ano.
2. É oficial: a economia portuguesa contraiu 0,5% no primeiro trimestre de 2025 – não acontecia desde 2014 (excluindo a pandemia), segundo o INE. Ao mesmo tempo, o Governo enviou a Bruxelas o relatório de progresso onde revê em alta o crescimento do PIB para 2025, apontando agora para 2,4% (face aos 2,1% previstos no OE). O Conselho de Finanças Públicas já classificou essa projeção como «não prudente». Miranda Sarmento afirmou que a contração do PIB «não deve surpreender muito». Com efeito, o truque das retenções na fonte de IRS que comprometeram os reembolsos deste ano, ajudaram a mascarar o último trimestre de 2024, cujo crescimento foi deliberadamente insuflado, mas como se verifica sem qualquer sustentabilidade.
O que realmente surpreende, para além da desfaçatez do Governo, é Portugal voltar a divergir da média de crescimento da UE e da Zona Euro, regressar à contração económica e, ainda assim, ver o Governo insistir numa narrativa política que compromete a credibilidade do país. A estimativa otimista do crescimento, que sustenta o cenário eleitoral da AD, contrasta com a realidade e o bom senso dos portugueses. É um embuste reincidente, com os mesmos protagonistas. Mais grave ainda: os resultados económicos da AD antecipam tempos difíceis para famílias e empresas. Quando a economia recua, também recuam as receitas que sustentaram o excedente orçamental, mas as despesas permanentes continuam. O que se segue é previsível: défices e novos sacrifícios. Depois de oito anos de convergência com a UE, o caminho da AD é irresponsável. É também isto que está em causa no próximo dia 18 de Maio. Que ambição queremos para Portugal: continuar a crescer acima da média europeia, como nos últimos anos, ou estagnar?