Depois de muitos dias, muitos debates e muitos discursos, em que as pensões e reformas estiveram na boca dos líderes políticos, particularmente dos dois candidatos a primeiro-ministro, Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro, foi Pedro Passos Coelho que chegou com estrondo à campanha a falar da necessidade de reformas.
Conhecido por saber escolher o momento e a hora em que quer aparecer e o que quer dizer, Passos Coelho escolheu juntar-se à campanha de Montenegro e, mais uma vez, decidiu não ser meigo.
Quando chegou ao Governo em 2011 não foi só com a bancarrota que o PSD se confrontou. Depois dos investimentos europeus feitos nos anos 80 e 90 para modernizar o país e o colocar a par com os parceiros europeus, pouco ou nada mais evoluiu ou mudou em Portugal.
As bases do estado social: saúde, educação, segurança social, habitação, justiça, está tudo na mesma desde o final do século passado. Governo após Governo, o horror a reformar fosse o que fosse, com medo da contestação das diversas corporações instaladas, resultou numa derrocada dos serviços que deixaram o país sem armas para se defender em tempos mais difíceis. Ao que se soma o envelhecimento da população.
Quando Passos Coelho chegou ao Governo, o pior não era estarmos falidos, o pior foi herdar um Estado gordo e ineficaz, incapaz de enfrentar os desafios. Foi por isso que a horrível troika exigiu reformas em troca de empréstimos. Porque sabia que o principal problema do país não era a falta de dinheiro. Leis anacrónicas, serviços inúteis ou mal-organizados, uma administração pública desadequada das necessidades, uma segurança social a caminho da insustentabilidade, estes é que eram os problemas de fundo.
A lei das rendas é um exemplo paradigmático do que se passava na altura. O país vivia há décadas, desde os tempos de Salazar, com rendas congeladas que deixaram grandes manchas do território com casas fechadas e degradadas. Foi uma herança do Estado Novo de que a democracia teve medo de se livrar. A troika impôs a mudança e o país mudou. Os centros urbanos escuros e abandonados, tornaram-se zonas reabilitadas e cheias de vida e de turistas também. Foi uma das poucas reformas que se conseguiu fazer e que até hoje é usada pela esquerda como arma de arremesso e motivo de acusações sobretudo pelos partidos à esquerda. E agora o Bloco de Esquerda quer voltar aos tetos de renda e ao princípio do senhorio pagador.
Vem tudo isto a propósito das reformas que é preciso fazer, se queremos continuar a pagar reformas em Portugal. O país precisa de mudanças de alto a baixo, nos hospitais, nas escolas, nas empresas, nas universidades, na administração pública, em todo o lado. Continuar tudo como está, vai conduzir-nos a uma indigência ainda maior. A rutura no Serviço Nacional de Saúde, na educação e na habitação devem-se sobretudo à falta de coragem que os políticos tiveram para fazer a tempo as mudanças que se impunham. Tivemos até um primeiro-ministro, António Costa, que se dizia alérgico a reformas. Eu acho que a alergia de Costa era a enfrentar problemas e contestações que lhe poderiam causar danos eleitorais. Passos Coelho teme que o seu PSD vá pelo mesmo caminho, por isso fez questão de deixar o aviso no dia dos 51 anos do partido. Não sei se foi uma crítica ao atual primeiro-ministro, mas espero que tenha eco em Luís Montenegro.