Muita gente o julga demasiado sério, até carrancudo. Mas Pedro Nuno Santos, de 48 anos, garante que “é simpático, bem-disposto e bom rapaz”. Aliás, em jovem, quando estudava no Lisbon School of Economics and Management (ISEG), chegou a ser eleito “mister simpatia”. Depois, ao entrar para o universo político, viu-se obrigado a levar as coisas “muito mais a sério”, talvez até “muito à defensiva”. Com o passar do tempo, foi “acalmando”, encontrando alguma leveza no seu trabalho. “Somos fruto das nossas circunstâncias (…) Às vezes nós levamos tão a sério que ficamos muito conscientes quando estamos a fazer as coisas”, afirmou numa entrevista à TVI em abril.
Além disso, defende que liderança e projeto são duas faces da mesma moeda: “As ideias não estão desligadas da pessoa, a forma de governar e lidar com os outros tem muita a ver com a personalidade do líder”. E, por isso, apesar de no passado não ter pensado dessa maneira, agora admite que até a forma com que os candidatos se relacionam com os amigos, com a profissão e com a família, diz muito sobre a forma como querem liderar uma equipa e “tomar conta do país”. Quer ser sobretudo um primeiro-ministro “próximo das pessoas e empático”: “Na realidade, nós fazemos bem o nosso trabalho quanto maior for a nossa capacidade de perceber e sentir os problemas dos outros”, acredita. E, na política, a sua bagagem já é muita.
Sempre muito politizado Nasceu a 13 de abril de 1977, em São João da Madeira. Apesar de muitos o considerarem “betinho”, garante que não o é nem nunca foi. Foi um dos primeiros do seu grupo de amigos a tirar a carta e a ter carro, diz que dava boleia a toda a gente e não esconde o orgulho pelas suas raízes. “É o concelho mais pequeno do país, mas uma terra que conseguiu desenvolver-se com muita luta e muito trabalho”, afirmou numa entrevista ao Alta Definição no ano passado, lembrando que esta cresceu com a indústria chapeleira, que entrou em decadência “quando os homens deixaram de usar chapéu. “A cidade conseguiu reinventar-se (…) Começou a fazer sapatos (…) Aprendi muito esta capacidade de nós conseguirmos criar, cair, voltar a criar”, partilhou.
Segundo o líder do PS, a sua família trabalhava muito e a sua infância foi confortável. O pai seguiu o legado do avô e é sapateiro. O patriarca da família, possuía uma “pequena fabriqueta” em casa, mas era tudo “muito manual”. Já o pai trabalhava numa fábrica, mas acabou por abrir uma empresa e o negócio acabou por crescer. Pedro Nuno Santos garante que esse ensinamento, essa “luta para se conseguir o que se tem”, esteve sempre presente na sua educação enquanto homem.
Também a política esteve na base da sua educação, não tivesse o pai sido militante ativo a seguir ao 25 de Abril. Conversavam e debatiam muito sobre a área em casa, às vezes com “alguma dureza”. E talvez tenha sido esse bichinho que o fez, desde cedo, querer assumir cargos importantes na escola: foi delegado de turma e presidente da Associação de Estudantes no secundário. “Provavelmente compensando a fragilidade noutros campos da vida jovem e infantil”, admitiu na conversa com Daniel Oliveira. Pedro Nuno Santos nunca foi bom em desporto, por exemplo. Mas gostou muito de fazer rádio.
Enquanto estudava Economia no ISEG, foi ainda presidente da Mesa da RGA e membro do senado da Universidade Técnica de Lisboa. Já em 2001 desenvolveu atividade no CISEP – Centro de Estudos sobre Economia Portuguesa, na área da Economia da saúde. Acabados os estudos, ingressou no grupo empresarial da família, Grupo Tecmacal, SA., grupo de empresas de serviços e comercialização e desenvolvimento de equipamentos industriais.
No que toca à política, foi presidente da assembleia de freguesia de São João da Madeira, deputado da assembleia municipal, presidente da federação de Aveiro da Juventude Socialista e secretário-geral da JS entre 2004 e 2008. Depois disso – com a entrada no Governo -, seguiram-se os mais variados cargos. Desempenhou, por exemplo, funções de deputado na X e XII Legislaturas, tendo sido vice-presidente do grupo parlamentar do PS e coordenador dos deputados do PS na Comissão de Economia e na Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso BES. Foi ainda Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares no XXI Governo, de novembro de 2015 a fevereiro de 2019 e ministro das Infraestruturas e da Habitação nos XXI e XXII Governos Constitucionais.
Orgulho na terra e amor pelo desporto Ao contrário de Pedro Nuno Santos, o líder da AD, de 52 anos, está quase sempre com um sorriso na cara e sempre foi bom em desporto. Escolhe bem as palavras e nota-se bem, em algumas delas, o seu sotaque do Centro-Norte. Diz não ter medo da transparência política e acredita possuir uma grande capacidade de adaptação. Em casa chamavam-lhe pelo segundo nome, Filipe, já que convivia muito com os primos e um deles também tinha o nome de Luís. Os amigos apelidaram-no de “ervilha”, por andar sempre vestido com uma fato de treino verde.
O atual primeiro-ministro nasceu a 16 de fevereiro de 1973 no Porto, mas cresceu em Espinho, rodeado de oliveiras, laranjeiras, macieiras e vinhas. Para si, tal como afirmou no ano passado também no Alta Definição, “a política é sobretudo a arte da sedução e da adesão”: “Nós temos de saber comunicar aquilo que pensamos, para sabermos ter connosco o apoio que precisamos para nomeadamente governar”, defende. Segundo o próprio, gosta muito de ouvir, ouve “mesmo” e pondera muito aquilo que ouve, mas também toma muitas decisões sozinho.
Tal como escreveu a LUZ na semana passada, filho de pai transmontano e de mãe com raízes no Douro, a sua infância foi passada com muitas brincadeiras de rua, onde jogava futebol, voleibol e andebol com os amigos. A partir dos 16 anos, tornou-se nadador-salvador dos Socorros a Náufragos da sua terra. Este foi o seu primeiro trabalho e Luís Montenegro garante que se divertia e ainda ganhava dinheiro. Além disso, trabalhou num bar de praia com o nome “Última Instância”.
Nessa altura, começou a tratar o futebol com maior seriedade. Jogou a nível federado e era ponta-de-lança. Ainda teve vida futebolística no Futebol Clube de Espinho, mas lesionou-se. Além disso, praticou ginástica e trampolins, onde aprendeu a dar “mortais”.
Tal como Pedro Nuno Santos, o líder da Aliança Democrática sempre admirou o seu pai que era advogado (faleceu com 67 anos). Aliás, já revelou que foi com ele que aprendeu os valores firmes não só da honestidade, trabalho e respeito pelos outros, como da intervenção (apesar de o pai nunca ter sido político, gostava de ser ativo e participativo).
Decidiu seguir o seu legado e prosseguir estudos em Direito, licenciando-se na Universidade Católica Portuguesa (Centro Regional do Porto), em 1996. Anos mais tarde, voltou à mesma universidade para realizar um curso pós-graduado em Direito da Proteção de Dados Pessoais. Em 1998 foi admitido no Conselho Distrital do Porto da Ordem dos Advogados.
A primeira vez que teve um cargo político foi aos 20 anos. Porém, a sua irmã já partilhou que na escola primária Luís Montenegro já queria ser primeiro-ministro. Ou seja, tal como o seu adversário, o fascínio pela política apareceu desde muito cedo. Começou a sua vida política na sua terra. “Com 24 anos já era membro da Câmara, com 28 candidato a presidente da Câmara e com 29 deputado na Assembleia da República (durante 16 anos). Isto aconteceu tudo muito rapidamente”, confessou este que foi o líder parlamentar social-democrata que mais tempo ocupou o cargo entre 2011 e 2017. Concorreu pela primeira vez à liderança do partido em 2020, tendo perdido contra Rui Rio. Foi ainda presidente da Assembleia Municipal e vereador na Câmara de Espinho e deputado na Assembleia Metropolitana do Porto. Nas eleições de 2024 conseguiu tornar-se primeiro-ministro.
Filhos, música e cozinha Apesar dos filhos terem idades bastante díspares – o filho do líder do Partido Socialista tem apenas 8 anos, enquanto os dois filhos de Montenegro já atingiram a maioridade – ambos têm bastante consciência do fardo que é “ser familiar de um político”. Numa entrevista no mês passado à TVI, o primeiro-ministro falou sobre a forma como a família tem reagido à polémica com as empresas e à queda do governo. “A minha mulher e os meus filhos têm sido de facto muito afetados, não apenas ao longo desta campanha, mas de uma vida inteira, porque comecei muito novo (…) Temos falado muito, naturalmente. Neste período acabei por partilhar com eles mais do que é costume. Sou um bocadinho solitário na forma de gerir a vida política no sentido em que não gosto de levar para casa as minhas preocupações. Eles já têm de ouvir tanta coisa sobre aquilo que o pai ou o marido faz, que ir discutir esses assuntos para casa já é um bocadinho exagero”, explicou. Recorde-se que este chegou a mudar os filhos de escola pelo bullying que sofriam devido ao trabalho do pai. Já o líder do PS viu-se acusado de usar a imagem de Sebastião quando, num congresso do Partido Socialista, a criança subiu ao palco para o abraçar. “Foi por iniciativa dele. Para ele era o pai que estava ali! Não era o político nem o líder do PS (…) Eu não instrumentalizei o meu filho, ele faz parte da minha vida!”, esclareceu numa conversa recente com Júlia Pinheiro, lamentando o facto de não estar tão presente como gostaria, tal como Luís Montenegro já o fez no passado.
Tal como na política (ver páginas 6 a 9), música e na comida, os dois líderes partidários distanciam-se. Enquanto Pedro Nuno Santos gosta de ouvir Arctic Monkeys e apesar de gostar de comer, come pouco, Luís Montenegro escolhe os Coldplay e um dos seus hobbies preferidos é precisamente cozinhar.
*Com Daniela Soares Ferreira