
Querida avó,
Amanhã é dia de reflexão, a designação dada, em Portugal, ao dia imediatamente antes daquele em que decorre o ato eleitoral, durante o qual está vedado às formações partidárias o apelo direto ao voto.
Se queres que te diga, nunca percebi bem para que serve este dia!
Não me parece que existam muitos portugueses a precisar de um dia para estarem a refletir em quem vão votar. A maioria dos votantes sempre soube em que irá votar. Os indecisos, que vão votar, decidem na hora.
Os portugueses votaram em massa há 50 anos nas primeiras eleições livres, que decorreram em maio de 1975, no pós-25 de Abril, em que se registou um recorde de participação (92%) e em que se formaram longas filas de pessoas para votar, um pouco por todo o país.
Tão diferente do que vemos atualmente, infelizmente.
A abstenção nas eleições em Portugal tem aumentado de forma consistente nos diferentes atos eleitorais.
Creio que se instalou um desagrado pelo sistema de votação e modelo de democracia atual. Muitos dizem desconhecer o programa dos partidos ou candidatos, não me parece que seja por falta de informação. No entanto, creio que é nas mesas de voto que devemos expressar a nossa indignação.
Tanto que lutaram por este direito!
Creio que este é o legado que as gerações mais velhas devem passar às mais novas.
Nas democracias, todos podem pensar como quiserem, dizer o que quiserem e estar com quem quiserem. Porque todos participam e decidem um pouco. Todos têm de participar. Todos têm de votar. Porque o voto é um direito, mas é também um dever. E, para isso, é muito importante que todos estejam bem informados e que todos zelem por todos.
A democracia é como um jogo em que TODOS devem participar. E está em jogo a liberdade.
Já votei antecipadamente, no passado domingo.
Como tal, hoje deu-me para refletir sobre tudo isto.
Aguardemos (pacientemente) pelos resultados de amanhã.
Bjs
Querido neto,
Não me fales de eleições. Em breve terminam as campanhas para as eleições legislativas. Em simultâneo, retomam o assunto dos candidatos às eleições presidenciais, que se realizam só no próximo ano, imagina.
Creio que é tudo isto que causa desinteresse nos votantes. Outros não votam por protesto ou descontentamento.
Ainda assim, os mais novos devem entender que o seu voto tem o poder de mudar o mundo! A democracia dá-nos esse poder. O poder do povo, que tanto ouviste dos teus avós.
Será que tudo isto importa assim tanto? Como funciona? O que é exatamente a democracia, afinal de contas?!
Creio que os jovens votantes deviam questionar-se sobre estes, e outros, temas.
Nas campanhas eleitorais ouvimos falar muito de esquerda e direita.
Acreditas que muitos votantes não sabem sequer distinguir as ideologias de cada partido? Nesse caso, efetivamente, é preferível nem votarem.
Todos somo iguais. Mas há coisas que nos tornam desiguais: a força, o poder, o dinheiro e a cultura. Há ricos e pobres, classes alta, média e trabalhadora. Existem pobres a votar nos chamados “partidos dos ricos”, imagina a falta de literacia política.
Nos últimos anos, as diferenças entre ricos e pobres aumentaram. Como podemos traçar um futuro mais justo? Devemos refletir sobre isto, votando.
Se tivesse tido um filho depois de abril de 1974, não sei se não teria colocado o nome de Liberdade. Trabalhei muito no antigo regime. Nos jornais fui muitas vezes vítima da censura. Acabei por tornar-me numa “Evangelizadora da Democracia”.
Não me recordo de ter chorado nos dias dos meus casamentos. Não sei se chorei quando os meus filhos nasceram. Não sei se chorei cada vez que o meu trabalho era censurado … Mas recordo-me, perfeitamente, que chorei a primeira vez que votei em Democracia.
Há coisas que são sagradas para mim.
Todos às mesas de eleições, por favor!
Bjs