No passado dia 6 de maio, em plena campanha eleitoral para as legislativas do próximo domingo, Luís Montenegro, líder do Partido Social Democrata, primeiro-ministro em funções e novamente candidato ao cargo, promoveu um almoço comemorativo do aniversário do partido. Convidou, para o repasto, os anteriores líderes. Ao ato faltaram apenas o Francisco Pinto Balsemão e Rui Machete, por motivos de saúde; Durão Barroso, ausente no estrangeiro; e, Marcelo Rebelo de Sousa, por razões relativas ao exercício do cargo de Presidente da República.
Se as ausências se compreendem, há uma presença que se estranha: o já anunciado candidato presidencial Luís Marques Mendes.
Marques Mendes tem uma longa carreira política. Com 19 anos já era vice-presidente da Câmara Municipal de Fafe. Depois de 10 anos no governo com Cavaco Silva, esteve também no governo com Durão Barroso. Já não esteve no governo com Santana Lopes, sucedendo-lhe na liderança do partido, entre 2005 e 2007.
Ainda que nunca tenha sido verdadeiramente uma referência de primeira linha da política nacional, nunca venceu uma eleição fora do partido, mas, perante o cenário de fragilidade dos quadros políticos nacionais, com todos os ex-chefes de governo fora da corrida (António Guterres, Durão Barroso, José Sócrates, Pedro Passos Coelho ou António Costa), Marques Mendes passou a estar nas cogitações para Chefe de Estado: é alguém que há muitos anos anda por aí. Nessas ‘esquinas da vida’, teceu uma teia de relações que potencialmente o favoreciam, numa corrida desprovida de ‘águias’.
Marques Mendes esforçou-se. Tutelou a comunicação social quando esta era apenas pública. Participou na criação das televisões privadas. Manteve-se comentador, escrito e televisivo. São décadas de favores trocados e relações positivas, mas, também, de ódios de estimação, que agora se pagam com ‘língua de palmo’, grande parte deles no seu próprio partido, a que se soma o ‘efeito covid’.
A pandemia trouxe crises profundas, sobretudo a económica e a social, mas em Portugal trouxe um novo herói, o Almirante Henrique Gouveia e Melo. Na minha opinião, caso os ‘águias’ da política nacional não estivessem ausentes, dificilmente Gouveia e Melo teria condições para ganhar uma eleição para Presidente da República. Todavia, perante a ausência destes, a que se soma o facto do Povo não querer ver um candidato de baixo perfil em Belém, abriu-se o espaço para Gouveia e Melo, que já disse que será candidato.
A larga maioria dos portugueses já perceberam para ‘que lado sopra o vento’, e Marques Mendes, politicamente experiente e tarimbado, já está noutra. A sua corrida já não é para Belém, mas para manter as relações políticas que fazem a sua vida.
Caso a vitória na corrida para Belém fosse ainda encarada como uma possibilidade séria, Marques Mendes não estaria naquele almoço, quereria demonstrar distanciamento do seu partido e conquistar independência política, da qual acabou de abdicar. Percebeu que não seria ator principal, foi figurante no almoço e será figurante até ao fim.
Depois das legislativas de domingo, teremos ainda eleições autárquicas. A corrida presidencial começou cedo, cedo demais, diriam alguns. Marques Mendes foi o primeiro a avançar e foi o primeiro a abdicar (ainda que não o tenha feito formalmente). Falta saber se se cansou sozinho, se foi cansado pelas circunstâncias.