Vamos mudar isto!

É preciso deixar de culpar as verdadeiras vítimas e parar de proteger os carrascos

Hoje saiu a sentença de Maurício Cavaco: «Pena suspensa e tratamento psiquiátrico» após ele e a sua mãe terem vivido uma vida inteira de violência doméstica às mãos do progenitor. O crime ocorreu em dezembro de 2023 na casa da família, na aldeia de Várzea do Vinagre, na freguesia de Santa Catarina da Fonte do Bispo, no distrito de Faro, quando o jovem, na altura com 20 anos, interveio em defesa da mãe, matando o pai, de 63 anos. Durante os últimos 10 anos, Maurício contou os constantes abusos, ameaças e humilhações que ele e a sua mãe sofreram às mãos do progenitor. A juíza presidente disse que, apesar do horror vivido por Maurício, foi dado como provado que ele matou o seu próprio ‘pai’, crime pelo qual deve ser responsabilizado porque não se pode fazer justiça pelas próprias mãos. Porém, tendo em conta o horror vivido por Maurício e o facto de as vítimas ficarem tantas vezes desprotegidas, foi proferida uma sentença única e de saudar em Portugal: «Pena suspensa e tratamento psiquiátrico». 

Sei que todos na aldeia conheciam o Maurício, conheciam o temperamento e as atitudes do seu progenitor e foram muitos os que se dispuseram a testemunhar em seu favor no tribunal para que ele não fosse outra vez vítima do seu progenitor, da justiça que falhou e do que o fez cometer este crime. Que seja sempre assim. Para que não se corra o risco, como acontece agora, de ter os dois jovens que, porque presenciaram as constantes agressões do progenitor à mãe, também são acusados de fazer «justiça popular» ou pelas próprias mãos. Como a verdadeira justiça tarda em chegar ou falha demasiadas vezes, e por isso, matam o seu próprio progenitor para defender a mãe. No entanto, os dois jovens que estão em prisão preventiva, podendo ser condenados a 25 anos de prisão, caso o juiz ou a juíza, os condene pelo crime, não tenha a sensibilidade extraordinária que teve a juíza presidente do caso de Maurício, prolongando o sofrimento destes jovens e da sua mãe até ao infinito.

É preciso deixar de culpar as verdadeiras vítimas, parando de proteger os carrascos que as levam a tomar ações extremas de defesa das mães que durante anos sem fim, foram trapos nas mãos dos agressores, causando transtornos psicológicos graves aos seus filhos. Não se deve perpetuar a sentença imposta pelo agressor com a falta de celeridade da justiça. É urgente defender de imediato as mães e os filhos, que são as verdadeiras vítimas destas histórias. Para que não haja mais jovens nestas situações, assinem a petição, pois também é deles, as eternas vítimas que presenciam o terror debaixo dos seus tetos, que falamos e cuidamos. Vamos mudar isto!