‘É preciso ver como a diplomacia do Vaticano se vai dar com os EUA’

É jesuíta desde 2004 e sacerdote desde 2016, estando atualmente no México a terminar a sua formação. Já passou pelos EUA, Inglaterra e Moçambique, e tem uma grande esperança no atual Papa, que viveu quase 20 anos no Peru.

Há leituras contraditórias sobre o novo Papa. Há quem diga que está longe de Francisco e quem diga que está próximo.Em primeiro lugar, foi o Papa Francisco que o fez cardeal e que o nomeou para liderar o Dicastério dos Bispos. Isso demonstra que tem de haver alguma proximidade com Francisco. No dia da eleição, na varando de S. Pedro, citou o Papa Francisco várias vezes, e não só com questões secundárias, inclusivamente falou sobre o sínodo e a sinodalidade. Parece-me que são sinais de que haverá uma continuidade.

Tendo em atenção que o processo sinodal foi prolongado até 2028…
Sim, o processo devia ter sido finalizado e não foi. O que quer dizer que o Papa Leão XIV tem interesse em que o processo do sínodo continue a avançar.

Há quem diga que este Papa está a seguir um caminho mais profundo do que Francisco, apostando mais na doutrinação.Se alguém diz isso é porque não percebeu nada do que se passou na Igreja nos últimos 12 anos. Isso até é uma forma desonesta de tentar afirmar que o Papa Francisco tinha preocupações morais ou sociais, mas que não eram espirituais ou religiosas. É de uma injustiça, ou melhor, é falso, é mentira.

O que vai ser curioso seguir nos próximos tempos neste papado?
Perceber como é que a diplomacia do Vaticano se vai relacionar com a diplomacia dos Estados Unidos. Parece-me que nos próximos tempos não vamos ver nem aproximação, nem afastamento do Papa em relação aos EUA. Mas a diplomacia do Vaticano pode demonstrar aproximação ou afastamento. E isso é uma coisa muito interessante.

Haverá aqui alguma semelhança, mesmo que muito ténue, em relação à nomeação de João Paulo II e o comunismo?
Em que sentido?

No sentido em que a diplomacia do Vaticano se fizer um corte com o Governo americano, e isso implicará um corte com boa parte da Igreja americana, estará a fazer o mesmo que o Vaticano fez no tempo de João Paulo II com o comunismo.
O que me interessa mais perceber se vai acontecer não é se vai haver afastamento, mas é se vai haver aproximação. O afastamento é aquilo que as notícias mostram do passado, do cardeal Prevost, na questão da imigração, por exemplo, ou do que significa a caridade e o amor ao próximo, coisa diferente daquilo que é prática na atual administração americana. Seria interessante perceber que aproximações são possíveis e em que áreas da vida, da sociedade, da cultura… Os EUA têm uma quantidade enorme de católicos que levam a sério a sua vida, social, política e económica, etc., e é preciso reconhecer o bem que aí também existe.

O comum dos mortais quer saber se o novo Papa vai apostar no fim de celibato dos padres, na ordenação de mulheres e por aí fora.
Essa pergunta está a ser feita há mais de dez anos, desde a exortação Amoris Laetittia, e aquela famosa nota de rodapé. Compreendo que as pessoas queiram uma resposta, mas o que a Igreja tem feito nos últimos 12 anos é um caminho honesto, de fazer essas perguntas e dar tempo para que a resposta chegue sem ser de modo apressado. E por causa disso lançou-se o sínodo para a Amazónia, o sino sobre a sinodalidade

Não acha que há o perigo de os alemães esticarem a corda? Li algures que foi o Papa Leão XIV que conseguiu ‘acalmar’ a Igreja alemã durante a crise do caminho sinodal.
Também li isso. Mas uma semana depois da eleição de um novo Papa o que precisamos é de tempo, e é de serenidade, calma e deixar que o Papa dê à Igreja o que tem para dar, e deixar que a Igreja receba do Papa aquilo que tem para receber.

Vejo que está com esperança no novo pontificado.
Sim, imensa esperança.