Banca. 5 maiores lucram 13,3 milhões por dia

Comissões voltam  a engrossar as receitas dos bancos. A aposta em custos mais controlados de trabalhadores e de agências continua a ditar tendência.

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Os cinco maiores bancos a operarem no mercado nacional – Caixa Geral de Depósitos, BCP, Santander Totta, novobanco e BPI – lucraram 1.219,5 milhões de euros nos três primeiros meses do ano, o que dá uma média de 13,3 milhões de lucro por dia. Um resultado que ficou ligeiramente abaixo de igual período ano passado, altura, em que apresentaram lucros de 1.251,5 milhões de euros, influenciado, em parte pela descida das taxas de juro. O aumento das comissões e estruturas mais reduzidas ­ – tanto balcões como trabalhadores – continuam a influenciar resultados (ver infografia).

 Ao Nascer do SOL, o presidente do Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQTB) tem admitido que «do ponto de vista da cidadania é bom ter empresas que estejam bem» e em relação à redução do número de trabalhadores reconhece que terão chegado ao fim «as restruturações, pelo menos, de forma violenta».

Caixa lucra menos 2 milhões

A Caixa Geral de Depósitos apresentou um resultado líquido de 393 milhões de euros nos três primeiros do ano, uma queda de 2 milhões face a igual período de 2024. A atividade doméstica contribuiu com 358 milhões de euros para o resultado consolidado, enquanto a atividade internacional foi responsável pelos 34,5 milhões de euros, tendo sido «impactada negativamente pelo reforço de provisões e imparidades do BCI em Moçambique, o que provocou uma quebra de 12,9 milhões de euros no seu contributo para o resultado líquido do grupo Caixa».

Ainda assim, Paulo Macedo, presidente da comissão executiva da Caixa, acredita que a perspetiva é de crescimento e diz-se animado com os resultados.

A margem financeira (diferença entre juros cobrados nos créditos e juros pagos nos depósitos) consolidada registou uma diminuição de 80 milhões (-11,2%), alcançando 636,2 milhões de euros.

As comissões subiram para 147 milhões, embora a Caixa não tenha atualizado o preçário pelo terceiro ano, mas foi a reversão de provisões e imparidades para o risco do crédito a contribuir para a estabilização do resultado final, com um contributo de 53 milhões.

Os custos de estrutura subiram para 308 milhões, mais 3,3% em comparação com o mesmo período do ano passado. O volume de negócios aumentou 6% para 167 mil milhões de euros, dos quais mais de 76 mil milhões correspondem a depósitos de clientes, representando uma quota de mercado de 23%. E a carteira de empréstimo subiu 2,7% para 48,9 mil milhões com os empréstimos para a compra de casa a aumentarem 2% (em linha com o mercado) para 25,95 mil milhões de euros.

Nos primeiros três meses, as entregas ao Estado atingiram 244 milhões de euros. O valor inclui 15 milhões de custos regulamentares, 176 milhões em impostos e 34 milhões nas contribuições específicas do setor bancário. E antevê um pagamento de IRC em 2025 na ordem dos 700 milhões de euros.

Resultado do BCP volta a subir

O BCP registou um lucro de 243,5 milhões de euros no primeiro trimestre, um aumento de 3,9% face ao mesmo período de 2024. Só o resultado líquido da atividade em Portugal fixou-se em 218,9 milhões de euros, correspondendo a um aumento de 7,6% em relação ao período homólogo do ano anterior. Trata-se, de acordo com o CEO da instituição financeira, de resultado líquido «bastante razoável», tendo em conta a «situação geopolítica bastante difícil».

A margem financeira da instituição financeira liderada por Miguel Maya subiu 3,6% para 721,1 milhões de euros, enquanto as comissões aumentaram 2,1% para 201,4 milhões.

O BCP superou em 100 mil milhões de euros os recursos de clientes, registando um crescimento de 6%, onde estão incluídos os depósitos (85,1 mil milhões) e recursos fora de balanço (18 mil milhões). Já a carteira de crédito subiu 2,2% a nível do grupo, sendo que em Portugal cresceu 1,3% para 38,9 mil milhões.

Os custos operacionais dispararam mais de 10% para 339,7 milhões de euros, influenciados sobretudo pelo aumento das despesas com pessoal, que passaram de 165,7 milhões em março do ano passado para 188,1 milhões no mesmo mês de 2025.

Santander lucra menos

No final do primeiro trimestre, o Santander Totta registou um resultado líquido de 268,8 milhões de euros, uma descida de 8,7% quando comparado com os 294,4 milhões registados no período homólogo.

Entre janeiro e março, a margem financeira caiu 19,6% para 354,2 milhões de euros, num momento de redução gradual dos juros acompanhando a queda das taxas de juro do Banco Central Europeu (BCE).

O crédito total a clientes (bruto), no montante de 50,7 mil milhões de euros, registou um crescimento homólogo de 8,7%, «suportado na elevada originação de novos créditos à habitação e a empresas», revelou a instituição financeira liderada por Pedro Castro e Almeida

Os recursos de clientes ascenderam a 46,3 mil milhões de euros (mais 6,9% face ao final de março de 2024), com crescimento tanto em depósitos de clientes (+6,7%) como em recursos fora de balanço (+14,8%).

As comissões líquidas mantiveram-se praticamente estáveis, variando apenas 0,6% para 121,7 milhões de euros. Já os custos foram de 130,3 milhões de euros no primeiro trimestre, mais 1% do que em termos homólogos. Dentro destes, as despesas com pessoal cresceram 3,2% para 72,5 milhões de euros.

Novobanco também em queda

O novobanco registou lucros de 177,2 milhões de euros no primeiro trimestre, menos 1,9% face ao período homólogo. «Os resultados do primeiro trimestre de 2025 estão em linha com as nossas expectativas e confirmam a força e a resiliência do nosso modelo de negócio», disse Mark Bourke.

A margem financeira desceu 6,7% para 279,1 milhões, enquanto as comissões aumentaram 12,3% para 84,3 milhões de euros.

O produto bancário comercial caiu 2,8%, fixando-se nos 363,4 milhões de euros (uma descida de 10,6 milhões). Já o produto bancário total, que inclui os resultados de operações financeiras e outros resultados de exploração, cresceu 0,4%, para 373,2 milhões.

O crédito a empresas subiu 5%, para 16,4 mil milhões, enquanto crédito a particulares cresceu 24,6%, atingindo 1,9 mil milhões e os empréstimos para a compra de habitação aumentaram 3,1%, ultrapassando os dez mil milhões de euros.

Os custos de operação fixaram-se em 125,2 milhões de euros. Os gastos com pessoal foram de 68,4 milhões, 1,2% acima do ano passado.

BPI com 137 milhões

O BPI obteve um resultado líquido de 137 milhões no primeiro trimestre, uma subida de 13% face aos 121 milhões registados no mesmo período do ano anterior. A atividade em Portugal contribuiu com 98 milhões de euros, uma diminuição de 13%.

«Os resultados deste trimestre confirmam o forte dinamismo da atividade comercial do BPI, refletido no crescimento de 7% na captação de poupanças e no aumento de 5% na concessão de crédito, com destaque para o crédito à habitação, onde registámos quase 1.000 milhões de euros em novas operações no trimestre», disse João Pedro Oliveira e Costa, CEO do banco.

A margem financeira sofreu um decréscimo de 9% para 223 milhões de euros, apesar do volume de crédito ter subido para 31,5 milhões de euros.

O produto bancário caiu 8% para 292 milhões de euros, com as comissões a darem mais 2% para 75 milhões, o que acabou por atenuar ligeiramente a quebra da margem. Já as comissões bancárias subiram 2% para 75 milhões, enquanto os custos da instituição financeira mantiveram-se praticamente estáveis ao crescer 1% para 126 milhões de euros.

Quanto ao crédito concedido registou-se um aumento de 5%, de 30,1 mil milhões de euros para 31,5 mil milhões de euros, com especial destaque para o crédito concedido a empresas (mais 4%) para 12 mil milhões, e no crédito à habitação, de 8% para 15,7 mil milhões de euros.

Créditos com garantia pública vão somando

No 1º trimestre, os contratos de crédito habitação com recurso à garantia pública – medida destinada a jovens até aos 35 anos – representaram 9% do número total de novos contratos e 13% do montante de novos contratos. De acordo com os dados do Banco de Portugal (BdP), o montante médio dos empréstimos contratados por mutuários que recorreram à garantia foi de 190 mil euros, contra 173.000 nos créditos contraídos por mutuários elegíveis mas que não recorreram à garantia.

Entre as regiões mais destacadas estão as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, nomeadamente os municípios de Sintra, Vila Nova de Gaia e Seixal.

O Santander Totta já veio dizer que, até ao final dos três meses do ano, foram feitos mais de 1.300 contratos com jovens e que o valor total desses empréstimos ascende a mais de 250 milhões de euros.

Também o BPI revelou que, até final de abril, houve 4.760 pedidos para crédito à habitação com garantia pública e foram concedidos empréstimos no valor total de 240 milhões de euros. «A percentagem de aprovação e rejeição é semelhante a outros produtos de crédito à habitação no banco e normalmente baixa», explicou, João Pedro Oliveira e Costa.

Já o BCP recebeu 5.700 pedidos de clientes equivalentes a 1,1 mil milhões de euros, tendo sido aprovadas operações no valor de 280 milhões de euros. Miguel Maya disse ainda estar convencido que a utilização da garantia pelos bancos para serem ressarcidos do crédito «vai ser muito baixa e que os clientes vão pagar os seus créditos normalmente».

Por seu lado, a Caixa recebeu 6.800 pedidos para empréstimo para compra de casa com garantia estatal no valor total de 1.300 milhões de euros. Destes, foram contratados ou estão em fase final de contratação 2.800 créditos que totalizam 530 milhões de euros.

De olho no novobanco

A apresentação de resultados dos bancos coincide com o processo de venda do novobanco. E depois de o ministro das Finanças ter revelado que «é do interesse do país que não haja uma excessiva concentração do setor bancário de bancos de um único país, como é o caso de Espanha», também Paulo Macedo revelou que «não é saudável para Portugal ter 50% da banca em mãos espanholas».

Quanto à possibilidade do banco público poder vir a entrar na corrida, o CEO  explicou que só pode ficar com uma parte do negócio por questões de concorrência. «Se há outras alternativas [a ficar com todo o banco] iremos vê-las», referindo que «a separação [do Novobanco] seria muito complexa».

 Já o presidente do BCP voltou a admitir que a compra da instituição financeira só seria interessante se trouxesse valor ao banco e que neste momento não tem essa confiança, nomeadamente devido ao preço. «Não estamos preocupados quem compra ou não compra, se fica maior o banco A ou o banco B, não é esse o nosso tema. O nosso tema é concorrer por merecer a confiança dos clientes e criar valor para sociedade e acionistas», disse.

Também o Santander Totta já descartou essa possibilidade de compra. «Não está no nosso radar fazer aquisições», admitiu Pedro Castro Almeida considerando «estranho» que a Caixa Geral de Depósitos  possa vir a ficar com o quarto maior banco em Portugal e com um terço de quota de mercado, mas acredita nas autoridades da concorrência para avaliar a operação.

Opinião contrária terá o dono do BPI. De acordo com a imprensa espanhola,  o Caixabank contratou o Morgan Stanley como assessor na avaliação de uma possível aquisição do novobanco e terão de  decidir se avançam para uma compra que lhe permitiria ter em Portugal uma dimensão de 90 mil milhões de euros em ativos.