Duas ou três coisinhas que penso saber sobre o Algarve

Ao longo dos anos políticas publicas contrariam o desenvolvimento do turismo regional. Apesar disso, o Algarve passa de uma das regiões mais pobres do País a segunda do Continente no PIB per capita. Deve isto a ser o mais importante destino regional do País em proveitos do Turismo.

1.Uma criança inocente grita a verdade: “o Rei vai nu”. Tenho oitenta anos e há muito renunciei a todas as ambições exceto a de funcionar em contacto com a realidade. E grito que o Algarve, coberto pelo “manto diáfano da fantasia”, caminha para destino medíocre com ilhas de qualidade que, a prazo, a perderão.

2.Como chegámos aqui?

i)Ao longo dos anos políticas publicas contrariam o desenvolvimento do turismo regional. Apesar disso, o Algarve passa de uma das regiões mais pobres do País a segunda do Continente no PIB per capita. Deve isto a ser o mais importante destino regional do País em proveitos do Turismo.

ii)Desde 1970, a legislação do Alojamento Turístico combate a inovação que o Algarve representou. A ignorância gera cultura e política de combater a “imobiliária” (alojamentos para utilização própria) e “camas paralelas” (o seu arrendamento turístico). Estudos ditos ‘científicos’ e CCRA/CCDRA empolam o número das “camas paralelas”. Van Gelder adquire Vale do Lobo com 80 hectares, mas para criar o resort de 480 hectares tem de o desclassificar como Aldeamento Turístico.

iii)Desde o III Plano de Fomento a Política Pública defende a diversificação da Economia Regional e define instrumentos de desenvolvimento Regional que não apoiam o turismo ou até o combatem. Exceções e algum dinamismo recente não escondem o falhar desta Política e a incapacidade de reconhecer que falhou. A prioridade inicial dada ao turismo do Algarve dá lugar a corrigir os desequilíbrios regionais.

iv)Desde o início, o Estado nunca construiu as indispensáveis infraestruturas publicas necessárias ao Turismo. O Plano Regional de Ordenamento do Território quase proíbe resorts fora dos perímetros urbanos, leva à densificação absurda destes, falha nos 400 milhões de contos prometidos, reforça o ambientalismo radical de fachada científica. Permite a degradação do território pela acumulação de erros de dezenas de anos.

v)A elite do Algarve não gosta do turismo, não tem orgulho na obra feita e é passiva face à degradação em curso. Serra o ramo da árvore em que está sentada.

3.Temos de mudar o essencial de modo a que não fique tudo na mesma.

i)A sustentabilidade económica, social e ambiental do destino turístico e da Região começa com forças vivas a libertarem-se da fantasia, a assumirem a sua responsabilidade e a obrigarem Estado e Municípios a, por uma vez em dezenas de anos, cumprirem o que o País exige.

ii)Estado e Região definem duas instituições regionais ligeiras, ligadas à realidade do turismo do Algarve e exclusivamente dedicadas

-a promover, via Estado, Municípios e privados, a qualificação territorial no sentido lato – muito verde e porcaria zero, entre outros –, a redução da pegada ecológica e o fomento da economia circular,

-ao branding ligado a marketing & vendas da oferta privada na Europa e posicionar o Algarve na Costa Leste da América do Norte, como Salazar posicionou o Algarve no Norte da Europa.

iii)Só a qualidade da oferta pública e privada de turismo qualifica a procura.

iv)A estratégia de diversificação foca-se em atrair parceiro internacional que arraste outros para Território Inteligente fora de perímetros urbanos densificados, de modo a que a população residente cresça em 12.500 habitantes, com exportação de serviços.

4.Quem viver, verá!

Analista Sénior de Turismo e Transporte Aéreo