Ainda sem perceber o que lhe aconteceu no domingo, o Partido Socialista agita-se à procura do caminho a seguir na era pós Pedro Nuno Santos, que abandona a liderança já no próximo sábado, dia da Comissão Nacional do partido, convocada para tomar decisões sobre o futuro.
Apesar de muitas vozes, principalmente as da ala mais centrista do PS, como Francisco Assis, Sérgio Sousa Pinto e Álvaro Beleza terem passado os últimos dias a pedir calma, reflexão e o adiamento da escolha de um novo líder para depois das eleições autárquicas, o aparelho já seguiu em frente e já se ocupa com a escolha de candidatos à liderança, que devem ir a votos em julho. Carlos César enviou uma nota à comunicação social esta quinta-feira a comunicar que vai propor eleições imediatas no partido, depois de ter consultado alguns dos nomes apontados para a liderança.
Sem decisões tomadas, os nomes mais falados para a sucessão têm vindo a posicionar-se. José Luís Carneiro, mostrou disponibilidade para avançar, menos de vinte e quatro horas depois da serem conhecidos os resultados eleitorais. O socialista que foi adversário de Pedro Nuno Santos nas últimas eleições diretas e que conseguiu 38% dos votos diz ter recebido vários telefonemas, assim que sairam as primeiras projeções de resultados. Face à inevitável demissão de Pedro Nuno Santos, Carneiro, que não esteve no Hotel Altis na noite de domingo, começou de imediato a preparar-se para ser o senhor que se segue. Na segunda-feira, anunciava na CNN a sua disponibilidade para estar ao serviço do partido, no que foi entendido como um anúncio de candidatura.
Mas os últimos dias mostraram que a candidatura do ex-ministro da Administração Interna, que já foi a votos com Pedro Nuno Santos, não reúne consenso dentro do partido.
Costistas em busca de candidato
Há um ano, José Luís Carneiro surgiu como o candidato preferido do ainda primeiro-ministro e dos mais próximos de António Costa. Agora esse grupo está empenhado em encontrar uma candidatura alternativa.
Fonte próxima do antigo ministro disse ao Nascer do SOL que nas poucas horas decorridas entre o anúncio dos resultados e a entrevista em que Carneiro assumiu estar disponível para se candidatar, houve sondagens do próprio junto de duas mulheres socialistas que poderiam querer avançar: Alexandra Leitão e Marta Temido. As duas fizeram saber que não era sua intenção candidatarem-se e Duarte Cordeiro, outra possibilidade que se colocou, afastou qualquer hipótese de uma candidatura logo na noite de domingo. Foi só depois de estar certo de que estes nomes não pretendiam avançar que José Luís Carneiro tomou a decisão que anunciaria na segunda-feira à noite na CNN.
Desde então, «o grupo do Costa começou a tentar empurrar a Mariana Vieira da Silva», diz-nos a nossa fonte que explica que um dos que mais estão a incentivar uma candidatura da antiga ministra e braço direito de António Costa é Fernando Medina. O ex-ministro das Finanças é o eterno candidato à liderança, mas este não é o seu timing, até porque a hecatombe do PS surge numa altura em que Fernando Medina decidiu sair do parlamento, facto que limitaria a sua ação á frente do partido.
Ao longo da semana várias figuras de proa do PS, incluindo a própria Mariana Vieira da Silva, multiplicaram-se em entrevistas, onde marcaram terreno, mas não anunciaram decisões finais, remetendo tudo para a reunião de sábado.
Uma coisa é certa, o anúncio da disponibilidade de José Luís Carneiro para suceder a Pedro Nuno Santos, não é uma solução que agrade a muitas das figuras que nas últimas eleições internas estiveram ao seu lado. Porquê? Fontes contactadas pelo nosso jornal sublinham a importância da escolha do candidato presidencial a apoiar pelo partido. Os herdeiros de António Costa querem evitar a todo o custo a possibilidade de o PS apoiar uma candidatura de António José Seguro e sabem que essa não é a posição de José Luís Carneiro. Segundo uma fonte próxima do antigo ministro e potencial candidato, «só se Augusto Santos Silva, que foi o seu primeiro apoiante nas últimas eleições, assumisse uma candidatura, é que poderia hesitar no apoio a Seguro».
Uma solução à Papa Prevost
Processos e calendários estão em aberto até ao final da reunião da Comissão Nacional, data a partir da qual Carlos César assume a liderança interina, até à escolha de um novo secretário-geral.
Depois dos resultados das eleições, em que o PS desce pela primeira vez na história dos 51 anos de democracia, para terceira força política, o partido tem consciência de que há muito mais a mudar do que apenas o líder. Um socialista deixa o alerta, «temos de olhar para o PS como olhávamos para o PCP, não há um jovem a votar no PS». É também nisto que tem insistido a ala mais moderada, representada por Francisco Assis, Sérgio Sousa Pinto e Álvaro Beleza, que chegam mesmo a admitir a hipótese de só escolher um novo secretário-geral, depois das eleições autárquicas. Impossível dizem-nos vários responsáveis do partido, «é preciso um líder para fazer campanha», apesar de serem eleições locais e muito centradas nos candidatos, é importante o apoio da liderança. «Os candidatos autárquicos vão ter uma voz determinante quanto ao que se deve fazer e quanto a calendários».
As autárquicas são neste momento a grande prioridade para os socialistas, que depois de passarem para terceira força política no parlamento, não querem perder a liderança da Associação Nacional de Municípios e da Associação Nacional de Freguesias. O risco de novos estragos é grande, se os resultados de domingo se replicarem, pelo menos em parte, nas eleições autárquicas.
É neste quadro de crise e indefinição sobre o caminho a seguir que, sabe o Nascer do SOL, têm sido feitos vários telefonemas para um nome que não surge nas listas de potenciais secretários-gerais, mas que poderia ser uma solução ideal, para tentar recentrar o partido: Álvaro Beleza. O próprio tem dito não estar disponível, mas, segundo fontes próximas, se lhe for colocado o cenário de ser uma solução para fazer pontes e trazer alguma estabilidade, depois do rombo que o partido sofreu, «não pode recusar». Os defensores desta solução sublinham a intervenção pública e moderada que Álvaro Beleza tem tido e ainda o facto de ser o Presidente da SEDES.
Pedro Nuno Santos e o aparelho
No discurso em que anunciou a demissão no domingo à noite, Pedro Nuno Santos deixou no ar a ideia de um regresso no futuro, «como disse Mário Soares, só é vencido quem desiste de lutar e eu não desistirei de lutar. Até breve.» A frase deixou no partido a sensação de que a despedida do líder é temporária. Como e quando irá regressar, é uma incógnita, mas, como nos disse um socialista, «ele é novo, só sabe fazer política e vai voltar depois da travessia do deserto».
Apesar de estar fora da disputa pela liderança, «as distritais continuam com Pedro Nuno Santos» e esse é um fator que vai pesar e muito no que sair da Comissão Nacional em relação ao futuro do partido. Sabe-se que o ainda líder não vê com bons olhos uma candidatura de José Luís Carneiro, mas também não se revê nos nomes que têm surgido da ala mais costista.