A hora da responsabilidade

A Aliança Democrática soube vencer com dignidade. A oposição terá de saber assumir o seu papel, com humildade.

A Aliança Democrática venceu, de forma inequívoca, as eleições legislativas de 18 de maio. O Partido Socialista teve uma derrota clamorosa, a terceira pior da sua história, e pode tornar-se, pela primeira vez, a terceira força política no Parlamento. O Chega cresceu e colocou em causa o bipartidarismo alternante das últimas cinco décadas. A esquerda teve o seu pior resultado de sempre e nem no seu conjunto alcança a representatividade da AD. Este é o resumo superficial de uma noite eleitoral que tem motivado muitos comentários sobre o que nos trouxe até estes resultados.

Entre a prova de vida do PCP, com o anúncio de uma moção de rejeição do programa de governo condenada à partida, e o número mediático de Ventura e de um dito ‘governo alternativo’, passando pela fuga de Pedro Nuno Santos aos deveres de liderança do PS, tem faltado responsabilidade e maturidade no espaço público. Se é verdade que cada partido deve fazer a própria análise do impacto destas eleições, não é menos verdade que os tempos que vivemos exigem mais. É importante que todos os agentes políticos olhem mais para o que a sua representação parlamentar pode fazer pelo país que para as suas próprias agendas partidárias ou pessoais.
O que estes resultados nos dizem, de forma sintética, é que os portugueses aprovam a governação da AD e que querem continuar o rumo político que escolheram há pouco mais de um ano. Dizem-nos, também, que rejeitam o regresso a governos socialistas reféns de alianças oportunistas com a extrema-esquerda. E dizem-nos mais: que há hoje uma maioria social do centro para a direita do espetro político. Mas temos de ser honestos na análise e assumir que a votação expressiva num partido de protesto radical é um sintoma que não podemos ignorar. Fazer de conta que quase um milhão e meio de portugueses descontentes com o sistema não existe é um erro no imediato e uma irresponsabilidade a prazo. A resposta ao populismo é a boa governação, com resultados concretos na vida das pessoas. Para os alcançarmos, precisamos da disponibilidade e do compromisso de todos os partidos para concretizar as reformas e os investimentos que o país precisa.

A ‘maioria constitucional’ que existe na direita parlamentar tem estado na ordem do dia, mas muitos comentadores parecem esquecer que essa maioria é precisamente a mesma ao centro. A AD tem sido clara e coerente: ‘não é não’ quando se trata de coligações, mas o Parlamento terá as maiorias que os portugueses decidiram e aí todos os partidos são chamados a assumir as suas responsabilidades. A partir de agora, o Chega não se poderá esconder atrás de abstenções ou ausências e para chumbar as propostas da maioria PSD-CDS terá mesmo de se aliar à esquerda que tanto diz combater. Do Partido Socialista esperamos a responsabilidade de partido fundador do regime, neste momento definidor. O PS tem uma ideologia e um programa político diferente do Governo e tem agora a missão de o assumir como alternativa, mas as circunstâncias impõem uma postura política completamente diferente daquela que assumiu no último ano e meio. Há reformas essenciais que precisam de maiorias alargadas, há investimentos estruturais que precisam de estabilidade e previsibilidade para lá das legislaturas e há problemas sérios que exigem diálogo político e social.

A Aliança Democrática soube vencer com dignidade. A oposição terá de saber assumir o seu papel, com humildade. O futuro de Portugal assim o exige.

Eurodeputada PSD