Até ao momento temos a certeza de duas candidaturas: Almirante Gouveia e Melo e do Dr. Marques Mendes; a incerteza da do Dr. André Ventura e do Dr. António José Seguro; e a ambição da de muitas outras, mas ainda desconhecidas.
Na habitual “catalogação do espaço político” o Almirante Gouveia e Melo, uma candidatura militar, espontânea, independente, voluntariosa, transversal, a do Dr. Marques Mendes, preparada ao longo dos anos, nos meios de comunicação social, no espaço político do centro direita, a do Dr. António José Seguro, no centro esquerda e a do Dr. André Ventura na da direita radical populista, parecem ocupar todo o espaço político nacional.
As eleições legislativas do passado dia 18, foram identificadoras e clarificadoras quanto ao preenchimento do referenciado espaço, aparentemente reduzindo o número de candidatos presidenciais.
André Ventura vai ter de desistir da sua candidatura, não se pode querer ser Primeiro-ministro e simultaneamente Presidente da República.
O Chega fundado em 2019, durante a governação do socialista de António Costa, pareceu na altura ser o resultado de “génios” a “bênção dos deuses”, uma apólice de seguro, na governação socialista. Porém, em apenas cinco anos, assume na Assembleia da República o estatuto de maior partido da oposição, e simultaneamente, coloca o PS nos “cuidados intensivos”.
André Ventura acalenta legitimamente o sonho de vencer as próximas eleições legislativas e de ser Primeiro-ministro. A vertiginosa ascensão parece indiciar, em breve, que o sonho irá virar realidade. O Chega já sabe quem dos candidatos presidenciais vai apoiar e não parece ser a de Marques Mendes e muito menos qualquer candidatura do centro esquerda.
Obviamente, por efeito dos resultados das eleições legislativas, as candidaturas foram reduzidas a três, tendo até ao momento apenas sido assumidas duas. António José Seguro ainda não passou da ponderação e ainda bem. Quando tudo indiciaria a sua disponibilidade o PS ficou nas encolhas, agora está-se mesmo a ver o desejo dela.
No espaço político do centro esquerda, reduzido a um terço do eleitorado, o PS continua determinante. Existem personalidades mobilizadoras, mas qualquer delas, depois das eleições legislativas, parece estarem inevitavelmente condenadas ao insucesso eleitoral. E a esta situação não foi indiferente António Costa.
A história do legado de António Costa no PS e respetivas consequências políticas no centro esquerda ainda tem muito para refletir e contar, embora seja pessoalmente um sucesso. No resultado eleitoral não foi indiferente a governação socialista de oito anos, um elevado custo político para o PS, para o regime democrático e para a democracia portuguesa. A brutal derrota não foi só de Pedro Nuno Santos.
O PS precisa de sair do “túnel da morte” em que caiu e reencontrar o caminho da luz. De que forma? Saindo do estado de negação em que muitos o mergulharam.
Uma profunda derrota muito para além do expectável, a afetar os alicerces de um partido fundador da democracia, mesmo nas dificuldades não podemos deixar de ser otimistas, devemos transformá-las em oportunidades. Há males que vêm por bem.
Na persistência da continuidade, esticar parte do elástico partido, recorrendo a narrativas circunstanciais, por mais brilhantes que possam até ser, contribui para o prolongamento da agonia e da dor, diria, ao negarem a própria negação, culminará num estado de choque, cuja falta de atempado tratamento, o moribundo pode morrer, tal qual foi a morte do PS em França, Itália e Grécia. Esperar o milagre sem que haja milagreiro, confundir o fim com o princípio, só pode ser falta de senso e cegueira.
A situação atual só é comparável a um outro tempo, o do pior resultado eleitoral de sempre do PS, que levou Cavaco Silva a duas maiorias absolutas. Nesse tempo, o trabalho de “formiguinha” de António Guterres, quando secretário nacional da organização, depois Secretário-geral, retirou o PS do limbo e conduziu-o a grandes vitórias eleitorais.
No atual momento o PS precisa mais que o País de António José Seguro, o mesmo que depois da troika, nas circunstâncias que muitos socialistas conhecem, com trabalho de formiga, aprendeu com Guterres, conseguiu reerguer o PS e vencer eleições autárquicas e europeias.
Se apresentar a candidatura presidencial, sem a menor dúvida, como muitos outros, apoiá-lo-ei empenhadamente, mas “fora da caixa” estou convicto que o PS mais uma vez precisa muito de António José Seguro.
Sem azedume, sejamos no PS humildes como ele sempre foi.
Ex-deputado