Transformar hotéis em apartamentos pode ser uma das soluções para responder à crise da habitação que afeta Portugal e não só. Apesar de parecer uma ideia tentadora nem sempre é fácil de executar. Vários responsáveis do setor ouvidos pelo Nascer do SOL admitem alguns entraves. «Se por um lado, quem põe uma unidade hoteleira à venda pretende atrair investidores para continuarem a apostar na mesma área, por outro, mesmo que estejam a pensar nessa ideia não se podem esquecer que a transformação desse espaço para habitação exige uma série de requisitos, desde a alteração de projetos, à obtenção de licenças e até a obras de requalificação e de adaptação. Isto é, têm pela frente um processo de burocracia e exige um investimento que poderão tornar essa ideia pouco atrativa», salientam.
E os números falam por si. De acordo com fonte oficial do idealista, «a elevada atratividade dos imóveis turísticos para investimento tem-se refletido numa absorção significativa da oferta disponível no mercado». Refere que, ainda assim, no final de março de 2025 existiam 131 estabelecimentos turísticos à venda em Portugal, o que representa uma redução de 28% face ao mesmo período de 2024, ou seja, menos 51 unidades hoteleiras.
E lembra que metade da oferta nacional concentra-se em apenas três distritos: Faro (com 34 unidades), Porto (16) e Lisboa (15). «Ainda assim, a hotelaria continua a apresentar oportunidades de negócio em quase todo o território nacional, incluindo nas ilhas, com pelo menos um estabelecimento disponível para venda em praticamente todos os distritos. A única exceção é Bragança, onde não foi registado qualquer anúncio de hotel à venda neste período», salienta
Já entre março de 2024 e março de 2025, verificou-se uma redução da oferta de edifícios turísticos para venda na maioria dos distritos e ilhas do país, com quebras em 13 das 20 distritos e ilhas analisado. «Destacam-se as descidas nos distritos do Porto (-12 unidades), Setúbal (-7) e Lisboa (-6), bem como nas regiões da Madeira e Portalegre (ambas com -5). Em Évora, Coimbra e Vila Real, a oferta manteve-se estável. Por outro lado, apenas quatro distritos registaram um aumento de imóveis turísticos no mercado: Guarda (mais 4 unidades), Aveiro (mais 3), Beja (mais 2) e Castelo Branco (mais 1)», refere.
Apostar no arrendamento de longa duração
Outra das hipóteses para aumentar a oferta do mercado de habitação, nomeadamente em matéria de arrendamento passa por converter os imóveis, até aqui destinados ao alojamento local, em arrendamento de longa duração. Uma alteração que tem cativado alguns proprietários contactados pelo Nascer do SOL e há quem opte mesmo por vender os imóveis a famílias que estão à procura de casa.
Ter um rendimento mensal fixo tem voltado a atrair senhorios que durante alguns anos estiveram rendidos ao turismo. «Quando apostava no alojamento local dependia das oscilações da procura e dos preços que praticados em determinadas alturas do ano e apesar do rendimento ser mais alto, nem sempre era rendia o valor que estava à espera porque cheguei a ter a casa totalmente fechada durante semanas, o que significava que não recebia qualquer valor nesses dias», confessa uma proprietária.
A somar à oscilação do mercado turístico há que contar ainda com as despesas associadas a quem destina os seus imóveis a este setor. «Estava sempre preocupada com os gastos associados ao uso do imóvel, desde a limpeza ao arranjo de qualquer material ou eletrodoméstico, sem falar na dor de cabeça sempre que havia uma reunião de condomínio porque havia sempre queixas do barulho ou simplesmente porque alguém se enganava na campainha. Essas preocupações ficaram para trás. Agora recebo menos, mas tenho mais tranquilidade e um rendimento fixo», revela.
É certo que esta atividade continua a ter peso no mercado nacional. De acordo com os últimos dados divulgados pela Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP), há cerca de 120 mil registos, mas nem todos estão ativos. «A maior parte são pequenos operadores e são os próprios que fazem toda a gestão do negócio. São pessoas qualificadas, 91% tem formação superior e são eles que contactam os hóspedes, ou seja, valorizam a própria oferta turística. O alojamento local foi fundamental não só para servir de base pilar para o crescimento do turismo, como também trouxe diversidade e fortaleceu o destino».