«Ninguém se importava com quem eu era até colocar a máscara», dizia uma das personagens do filme O Cavaleiro das Trevas Renasce, da trilogia Batman. Nas últimas duas temporadas, a frase foi resgatada para o mundo do futebol. O responsável por isso chama-se Viktor Einar Gyökeres, internacional sueco de 26 anos que ingressou no Sporting no verão de 2023. Sagrou-se o maior goleador em Portugal nas últimas duas épocas, tornou-se ídolo dos adeptos e tem o célebre festejo como imagem de marca.
Por um total impressionante de 96 vezes, os sportinguistas foram agraciados com a já famosíssima ‘máscara’ de Gyökeres, a colocar as mãos à frente da boca após marcar golos, que correu mundo e é replicado pelos vários setores da sociedade.
O fenómeno do exímio goleador, que conquistou todos os corações dos adeptos leoninos e convenceu todo o mundo do futebol – até mesmo os maiores rivais –, atrai atenções dos tubarões europeus, com a saída a ser um cenário mais que provável.
Contudo, Gyökeres não teve uma carreira fulgurante, como Ronaldo, Messi, Mbappé ou Lamine Yamal. O Sporting foi a primeira equipa de nível continental que representou, tendo estado longe da ribalta até aos 25 anos.
Tardou em vingar
Natural de Estocolmo, Gyökeres iniciou a carreira sénior no Brommapojkarna, um clube modesto da capital sueca, antes de ingressar no futebol inglês, através das equipas sub-23 e sub-21 do Brighton, pois na equipa principal fez só oito partidas.
Pelo meio, foi ainda emprestado aos alemães do St. Pauli, na altura afundado pelo segundo escalão, e aos britânicos do Swansea City, igualmente afastados da elite de Inglaterra. Gyökeres tardava em vingar, longe de números bons para um avançado.
Seguiu-se uma cedência ao Coventry City, que, apesar de registos também pouco convincentes, acabaria por contratá-lo em definitivo, o que se revelou finalmente uma boa aposta já em 2021/22. Gyökeres esteve dois anos e meio no clube, tendo contabilizado 43 golos em 116 aparições e chamado a atenção do clube lisboeta.
Já com 25 anos e meio perdido em clubes longe dos radares europeus, as dúvidas chegaram a emergir, mas rapidamente foram dissipadas. Gyökeres nem ofereceu espaço a críticas e começou de imediato a faturar. E desde então não mais parou.
A primeira vez
Se a primeira temporada ao serviço do Sporting foi fenomenal, com 43 tentos em 50 encontros disputados, a segunda ultrapassou todas as fasquias possíveis e até imaginárias: são 53 golos marcados em 51 jogos, à média superior de um por jogo.
Não é de estranhar que os adeptos leoninos peçam estátuas em homenagem ao ponta de lança sueco, que, em duas épocas equipado de verde e branco, deu um contributo decisivo para o bicampeonato sportinguista, algo que já não acontecia há 71 anos.
«A primeira vez foi tão boa que o tivemos de fazer duas vezes», escreveu Gyökeres nas redes sociais. A máquina nunca esteve tão bem oleada, numa época de várias contrariedades no clube, em que até o avançado passou momentos complicados.
Após a saída do treinador Ruben Amorim para os ingleses do Manchester United, a onda de lesões tomou conta do plantel leonino e Gyökeres não escapou à sina. Entre janeiro e fevereiro, o sueco quebrou, mas reergueu-se ainda mais forte.
‘O melhor da Europa, talvez do mundo’
Melhor marcador do campeonato, com 39 golos e uma impressionante margem de 20 golos de vantagem sobre os segundos classificados, Pavlidis e Samu, referências dos rivais no capítulo ofensivo, Gyökeres somou vários recordes à sua lenda nos leões.
Em apenas uma temporada na Liga dos Campeões, o dianteiro igualou Liedson na liderança dos melhores marcadores da história do Sporting no principal torneio de clubes europeu, com seis golos em oito encontros disputados na prova milionária.
A época foi tão prolífica que Gyökeres lidera mesmo a corrida à Bota de Ouro, um prémio para o goleador máximo da Europa, embora com regras que favorecem as cinco melhores Ligas europeias, porque multiplicam por dois os respetivos golos.
Numa contagem que apenas insere os golos no campeonato, Gyökeres soma 39, somando 58.50 pontos, uma vez que a Liga portuguesa multiplica apenas por 1,5 vezes. Seguem logo atrás Mbappé, com 29 golos (58.00), e Salah, com 28 (56.00).
O francês, do Real Madrid, e o egípcio, do Liverpool, ainda não concluíram os seus campeonatos, pelo que podem roubar o troféu individual a Gyökeres, embora, em números absolutos, não se conseguem aproximar sequer dos 39 golos apontados.
«É o melhor da Europa, talvez do mundo», disse o treinador leonino. O avançado sueco figura agora nos topos de máximos goleadores numa só época em Portugal, sendo o melhor dos últimos 20 anos, no pós-Mário Jardel.
Somente Peyroteo (43 golos em 19 jogos, 1946/47), Eusébio (42 golos em 25 jogos em 1967/68 e 40 golos em 30 jogos em 1972/73), Yazalde (46 golos em 29 jogos em 1973/74) e Jardel (42 golos em 30 jogos em 2001/02) conseguiram faturar mais.
Segue-se a final da Taça de Portugal, face ao Benfica, que pode ficar marcada pela despedida do sueco. O Arsenal é o destino mais falado para a máscara imparável.