Portugal nunca foi apenas o retângulo à beira-mar plantado que conhecemos. Portugal é uma ideia viva, feita da coragem, do trabalho e da determinação de milhões de portugueses que, apesar da distância, mantêm acesa a ligação à sua pátria. E foi precisamente essa força que a nossa diáspora demonstrou nas eleições legislativas de 2025, deixando uma marca indelével na configuração política do país.
Mais de 352 mil eleitores no estrangeiro participaram no ato eleitoral, demonstrando que Portugal é muito mais do que as suas fronteiras físicas. Cada voto enviado do exterior foi uma afirmação de pertença, de identidade, de compromisso com o destino coletivo da nação. Não foram apenas boletins preenchidos; foram gestos de vínculo e de responsabilidade para com o futuro do nosso país.
Mas este entusiasmo esbarrou numa realidade preocupante: mais de 113 mil votos foram anulados. Esta taxa de anulação é um sinal claro de que o processo eleitoral para a nossa diáspora precisa de ser repensado e modernizado. Não é a primeira vez que a participação eleitoral da diáspora gera polémica. Muitos destes votos nulos resultaram de erros administrativos, instruções pouco claras, falhas na comunicação e burocracias desnecessárias. Não podemos aceitar que tantos votos se percam quando cada um deles representa um pedaço do nosso Portugal espalhado pelo mundo.
A diáspora foi decisiva para a definição da liderança da oposição, mas também nos lançou um alerta: é urgente garantir que todos os portugueses, independentemente do local onde residem, possam exercer plenamente os seus direitos cívicos. É essencial simplificar os procedimentos de votação, clarificar instruções e investir em soluções tecnológicas que tornem o processo mais seguro e acessível.
Portugal é muito mais do que o que cabe nas fronteiras do continente e das ilhas. Somos uma nação global, construída pela coragem dos que partiram e pela esperança dos que ficaram. A nossa diáspora é feita de histórias de superação e de sucesso, de empresários que levam o nome de Portugal além-fronteiras, de jovens que estudam e trabalham no estrangeiro, de comunidades que preservam a língua e a cultura portuguesa com orgulho.
É a todos estes portugueses que devemos gratidão e reconhecimento. São eles que projetam Portugal no mundo, que mantêm viva a nossa identidade, que continuam a contribuir, mesmo de longe, para o desenvolvimento do nosso país. É por isso que o seu voto não pode ser desvalorizado nem desrespeitado.
A participação da diáspora nas eleições é mais do que um ato simbólico: é uma manifestação inequívoca de que Portugal é construído por todos, onde quer que estejam. É a prova de que somos um povo unido, resiliente e com um profundo sentido de comunidade.
Devemos, por isso, transformar esta lição em ação. Melhorar o processo de votação para os portugueses no estrangeiro não é apenas uma questão técnica — é uma questão de justiça e de respeito. É garantir que cada voz conta, que cada cidadão tem o seu lugar na construção do futuro de Portugal.
Portugal é, e sempre será, uma nação sem fronteiras. Uma nação feita da força e da vontade da sua gente. É tempo de honrar essa verdade e de construir uma democracia que valorize todos os seus cidadãos, estejam onde estiverem.