Sou um fã assumido dos Monty Python, embora já não reveja os clássicos há alguns anos, mas fiquei com a sensação de ter assistido a um remake de A Vida de Brian quando vi a entrevista de José Sócrates à CNN, bem como as reações de alguns socialistas à mesma. O homem faz lembrar o Messias, embora a rapaziada se esqueça que o antigo primeiro-ministro que quase levou o país ao abismo, que responde perante acusações gravíssimas de corrupção – que já se tinha livrado do caso Freeport e Face Oculta sabe lá Deus como –, tem a distinta lata de surgir em público como uma virgem impoluta, procurando apontar o caminho para o PS voltar a recuperar a força do seu tempo. Apesar de ter combinado dar a entrevista só para falar de política, Sócrates, como é óbvio, aproveitou a ocasião para desancar na Justiça, reclamando, pela milésima vez, a sua inocência, com a complacência de um jornalista que ficou embevecido com uma ou duas recordações do legado do Governo de Sócrates. «É a maior das mentiras, é o maior dos embustes», ‘gritou’ o animal feroz para negar que alguma vez a sua defesa tenha usado manobras dilatórias para tentar fazer prescrever o processo. A lata de Brian, perdão, Sócrates, é tanta que se recusa a aceitar que o seu julgamento começa no próximo dia 3.
Nas redes sociais foram muitos os que falaram no regresso do estadista, um homem capaz de anular o Chega, de arrasar António Costa, entre tantos outros disparates. Vejamos o que escreveu João Soares, um homem que deve ter ficado confuso com a sua recente viagem a Paris: «Sócrates ontem na CNN. Só agora consegui ver. Convicto, inteligente e arguto. Não é pouco depois de tanto tormento por que passou. Ele não é, como eu, da geração francófona mas posso dizer-lhe em francês: ‘chapeau’». Parece ou não a história do personagem Brian que levou os seus ‘seguidores’ a pensarem que era o salvador da humanidade, quando não passava de uma fraude? Surreal.
Continuando no mundo surreal, recordo alguns jogos de futebol que fiz há muitos anos. Quando a equipa adversária era muito fraca, havia o hábito de se dar uns golos de avanço a essa equipa – digamos que o jogo começava com o marcador a registar cinco golos para o oponente, já que o encontro só terminava aos 12. E foi isso que Gouveia e Melo me fez lembrar esta semana quando anunciou ao mundo que o seu mandatário nacional dá pelo nome de Rui Rio. O antigo líder do PSD, e ex-presidente da Câmara do Porto, aproveitou a ocasião para se deliciar com um discurso de mais de 20 minutos, onde ‘repetiu’ o programa de governo que defendeu quando era líder social-democrata. Achei tudo tão insólito que tive de beber um copo de água para perceber que não estava a delirar. Mas se o homem é mandatário de Gouveia e Melo, que concorre à Presidência da República, e não à liderança do Governo, qual a intenção de Rui Rio em pôr-se em bicos de pés, até parecendo que a partir de janeiro o poder passa para Belém, local onde, na sua cabeça, terá a seu cargo a vice-presidência? Numa sondagem local, percebi rapidamente que, entre cinco apoiantes da candidatura do almirante, quatro afirmaram logo que jamais votarão em Rui Rio, perdão, em Gouveia e Melo.
O que terá levado um homem que diz querer a união do país a optar por um incendiário da política nacional para mandatário? Rui Rio sonha com o dia em que conseguirá ‘abocanhar’ a Justiça e a comunicação social. Gouveia e Melo, ao nomeá-lo mandatário, passa a ideia de que pensa o mesmo. Marques Mendes e António José Seguro – um dos alvos preferidos dos socráticos – ficam com mais margem de progressão nas intenções de voto.
Telegramas
AR: Um tiro no pé
O chumbo da eleição de Pacheco de Amorim e de Filipe Melo para vice-presidente e para vice-secretário da mesa, respetivamente, da AR, foi mais um episódio ‘grandioso’ para o Chega. Se o partido de André Ventura tinha tudo combinado com a AD – e o PS – e só a aliança e o Chega têm 150 votos, como foi possível Pacheco de Amorim ter-se ficado pelos 115 votos, a um da maioria? É óbvio que alguns deputados da AD quiseram fazer o Chega provar do mesmo veneno que usou no ano passado mas, com parvoíces destas, o partido de Ventura parece cada vez mais o balão de Manuela Bravo…
O Brasil está a morrer
O humorista brasileiro Léo Lins foi condenado a 8 anos e 3 meses de prisão por uma juíza ter considerado preconceituosas e ofensivas ‘anedotas’ «sobre negros, LGBTQIA+, idosos, portadores do vírus HIV, homossexuais, evangélicos, judeus, indígenas, pessoas com deficiência, nordestinos e obesos», segundo o DN. Conclusão: é mais grave dizer umas piadas do que roubar milhões aos cofres do Estado, pensará Lula da Silva…