Algures por estes dias estive num muito simpático almoço de aniversário de um amigo de muitas décadas. Palavra puxa palavra e era fatal como o destino: a conversa desagua nas eleições legislativas cujos resultados surpreendentes deixaram o PS em estado comatoso.
Lá disse umas larachas, contrariando uma opinião maioritariamente de que o povo tinha virado à direita, arguindo eu que se limitou a expressar uma revolta sobre realidades comezinhas com que diariamente se deparam, a última das quais, a greve da CP a escassos dias das eleições.
Um dos grandes erros dos nossos políticos é deixarem-se enfeudar a estigmas de décadas, por isso enraizados nos seus raciocínios e não se conseguirem libertar para dizerem o que realmente sentem, acobardados pelos receios do ‘politicamente correto’. Até que surgiu Ventura a dizer o que ‘N’ pessoas gostam de ouvir porque convivem diariamente com o que consideram ser injustiças e votam nele, mandando as ideologias às malvas.
Começou sozinho no Parlamento, subiu para 12 deputados, depois 50, nestas 60 e veremos se fica por aqui. Ansiando chegar as primeiro-ministro, o seu discurso não se irá alterar, carregando no que o distingue dos outros partidos, jamais entrando em querenças de ideologia sob risco de perder votos.
Das legislativas às autárquicas foi um pulinho na conversa, sendo dado o mote por um dos convivas ao referir o caso de Loures, onde frases baseadas no sendo comum sobre problemas concretos da habitação com que se debate, o seu presidente do Município (Ricardo Leão) foi verberado pelo seu próprio partido (PS), porque os dogmas esquerdistas eram postos em causa. Nestas eleições, esse presidente não foi esquecido e o PS teve excelente votação ganhando o Concelho.
Pegando neste exemplo, tranquilizei e talvez assustei alguns dos presentes ao referir que não acredito que o Chega tenha grandes resultados nas autárquicas, até dando exemplos de municípios onde o Chega ganhou mas em que acredito que o trabalho dos atuais presidentes certamente lhes garantirá a recondução. Estas eleições autárquicas têm pouco de ideologia, prevalecendo a imagem (ou carisma) e trabalho dos autarcas, vindo em segundo plano a cor política dos mesmos, mas determinante se aqueles fizerem mau trabalho.
Devo confessar que as minhas teses não acolheram bem nos convivas deste almoço, passando-se a casos bem concretos. Lisboa e as probabilidades de Moedas ser eleito, surgindo a socialista Alexandra Leitão que pode claramente unir a esquerda pela abrangência ideológica como provável ‘salvo-conduto’ de Moedas para a eleição. As incógnitas do Porto ou Sintra foram debatidas sem consensos, prevalecendo convicções sobre a possível predominância do Chega em múltiplas zonas do Algarve ou Alentejo, sempre comigo a discordar, dando o exemplo de Setúbal onde acredito na vitória de Maria das Dores Meira.
Os almoços de amigos e de amigos dos nossos amigos têm estas vantagens: tudo se discute, por vezes acaloradamente, mas nada de grave subsiste e que resista a um brinde à saúde do aniversariante. Fora destes almoços é que os problemas ficam por resolver. Os governos minoritários são uma das chagas que as eleições nos deixam, pela imaturidade dos políticos nacionais, incapazes de ultrapassar questiúnculas, quantas vezes medíocres, para prevalecerem as vistas curtas. Nem com a Alemanha aprendem. Veremos o que as autárquicas nos reservam.
Economista