Numa altura em que se fala em revisões constitucionais e em redução do número de deputados, a primeira sessão desta legislatura não foi um bom cartão de visita. É comum dizer-se que a instituição de cada nova Assembleia da República se assemelha ao primeiro dia de aulas nas escolas por esse país fora. Mas convém que as semelhanças não sejam exageradas e, ultimamente é isso mesmo que parece.
Com três eleições em quatro anos e o quadro político nacional virado do avesso, há deputados eleitos que acham que podem brincar com o poder que lhes foi conferido pelo povo. É a única conclusão que se pode tirar do resultado da eleição dos vice-presidentes para a mesa da Assembleia. Mesmo admitindo que alguns deputados do Chega possam ter votado contra os seus próprios candidatos, é matematicamente impossível que vários deputados da bancada do PSD, o partido do governo, não tenham, escondidos no voto secreto, decidido pregar uma partidinha a André Ventura e ao líder da própria bancada, votando contrariamente ao que tinha sido negociado pelas direções partidárias.
Não sei se estes deputados, os do PSD, foram para casa na terça-feira à noite satisfeitos com a própria prestação e com a consciência de estarem a representar condignamente a confiança que os eleitores neles depositaram. Se foram, de facto, não estão no Parlamento a fazer nada e o nosso dinheiro é muito mal empregue nos seus salários.
Uma coisa é certa, a brincadeirinha cobarde, escondida no voto secreto, pode ter comprometido a estabilidade difícil de que este governo precisa para se aguentar. Para além de terem dado ao Chega um trunfo inesperado que Ventura agradece. Fica de reserva para o capital de queixa quando der jeito.
Outro triste espetáculo, que se repete eleição após eleição, são os deputados que depois de andarem semanas a pedir o voto dos eleitores, usando para tal o seu prestígio e a sua carreira profissional, desprezam os votos conquistados e anunciam que nem sequer vão tomar posse. Desta vez o caso mais mediático foi o de Fernando Araújo, o ex-diretor executivo do SNS, que andou ao lado de Pedro Nuno Santos toda a campanha como troféu dos socialistas para tentarem ganhar eleições. Como não chegou para ser ministro da saúde, os portugueses que se amanhem porque ele tem mais do que fazer do que ir para o Parlamento perder tempo.
Conheço bem o Parlamento e o trabalho, muitas vezes oculto, que os deputados fazem. Não alinho facilmente na demagogia de que os deputados ganham muito e fazem pouco. Mas reconheço que a qualidade humana dos ocupantes da casa da democracia se tem vindo a degradar a cada legislatura que passa. O problema é incomparavelmente mais grave nas bancadas dos maiores partidos: PSD, PS e Chega. De facto, se é para fazerem de corpo presente e terem atitudes irresponsáveis como a que vimos neste primeiro dia, muitos destes deputados não fazem falta e podem ser dispensáveis. Talvez tenham ajudado a ditar a sua sepultura na próxima revisão constitucional.
2 – As eleições presidenciais estão ao virar da esquina. Gouveia e Melo, Marques Mendes e António José Seguro, são os três nomes que até ao momento se posicionaram para a sucessão de Marcelo Rebelo de Sousa. São três bons candidatos. Cada um com as suas características próprias, os três têm um curriculum e um passado capaz de nos deixar tranquilos no que à presidência diz respeito. Aguardemos para ver o que vêm acrescentar novas candidaturas.