O problema nem são as crianças, são os jovens: têm vergonha tudo. Vergonha de falar ao telefone, com desconhecidos, com os mais velhos, iniciar conversas, quebrar gelo nos elevadores, etc.. Enfiam a cabeça nos telemóveis, coram por todo e por nada fecham a cara assustados que um desconhecido fale com eles. Crescem assim, encolhidos nos seus mundos, sem interesse em sair dele. E com isso perdem o interesse. Tenho pena em dizer isto, mas cada vez há menos jovens interessantes. Têm pouco sentido de humor, pouco à vontade e pouca curiosidade. Pode ser por crescerem tarde mais, porque a covid os enfiou em casa e perderam as competências sociais ou por causa das redes sociais que têm as costas largas de todos os males do mundo. Mas não, acho só que é porque são literalmente mal educados. Não se educam as crianças e jovens para conversarem nem se criam momentos ou ocasiões para apanharem secas de horas a ouvirem conversas de crescidos. O mundo infantilizou-se e os educadores também.
A coisa mais constrangedora para um jovem imberbe é apanhar boleia de uma pessoa mais velha que conhece mal. A conversa esgota-se nos primeiros três quilómetros e requer um esforço brutal. Depois de esclarecidas as dúvidas sobre onde estuda e se gosta, acabou a conversa. Não há imaginação para mais. Os mais velhos acham que os mais novos são mal educados, os mais novos acham que os mais velhos são chatos. E todos têm razão.
O problema desta geração imberbe e até mais velha é que genuinamente não sabem conversar. Entre eles, domina o envio de mensagens e comunicam através das redes. Nem ao telefone se atrevem. Respondem a tudo com monossílabos e estão obcecados em não invadir o espaço alheio ou deixar que o seu seja invadido. Ao mesmo tempo que não se atrevem a conviver não se coíbem de partilhar tudo sobre as suas vidas nas redes. Parece um paradoxo mas não é. Requer algum treino e maturidade emocional para se estabelecer relações e apenas é preciso ter um telemóvel para partilhar a vida com milhares de pessoas e desconhecidos. Os nossos jovens estão assim.
Há uns anos, não muitos, era importante estabelecer relações pessoais e sociais para conhecer pessoas, crescer, aprender, aprofundar amizades, etc.. Depois, chegou a era da inteligência emocional e este comportamento naturalmente humano passou a ser definido como uma forma de inteligência. Por fim, chegamos à era das competências. Especializamos os nossos jovens da mesma forma que se dividem os cursos do ensino superior. A capacidade de relacionamento, passou para décimo plano.
Se dantes tínhamos a preocupação de não deixar os nossos filhos falarem com desconhecidos, hoje temos o problema de eles só falarem, e pouco, com conhecidos. Há quem chame a isto timidez. Acho que é malcriadez.