Sardinhas. As cinco vencedoras deste ano

O concurso tem vindo a captar cada vez mais a atenção não só de portugueses, mas também de estrangeiros, atingindo este ano um número recorde de participantes: mais de três mil, representado por 75 países.

Os Santos Populares chegaram e com eles surge mais uma edição do Concurso Sardinhas – uma iguaria que aparece de mão dada a esta época. Este ano, a iniciativa da EGEAC integrada nas Festas de Lisboa bateu recordes: 6.013 propostas enviadas por mais de três mil participantes, representando 75 países, 3.582 propostas portuguesas e 2.431 estrangeiras.
O objetivo mantém-se igual ao das edições anteriores: encontrar as sardinhas mais originais, resultando em cinco vencedoras. O mote deste ano foi ‘Faz, Refaz e Envia’ e muitos optaram por recriar alguns pontos culturais do país. «As cinco Sardinhas vencedoras da 15.ª edição do concurso vieram de Lisboa, São Domingos de Rana, Porto e, além-fronteiras, de São Paulo, no Brasil», esclarece a EGEAC.


Mas o que dizem os vencedores? Sónia Correia de Sousa responsável pela ‘Sabão Sardinha’ acena com «Sabão Sardinha, o cheiro a festa pró menino e prá menina!», enquanto Mirjam Siim da sardinha ‘Tantas casas, mas nenhum lugar para viver’ aponta para a crise da habitação que afeta Lisboa. «Um homem com uma mala está entre muitas casas, mas nenhuma é sua. São demasiado caras ou estão alugadas para turistas. Esta ilustração reflete a luta silenciosa de encontrar um lar numa cidade que já não parece sua».
Já Sofia Junqueira autora do ‘Entre os Pingos da Chuva’ afirma que «esta sardinha surge como resultado dos vários dias chuvosos do início de 2025, em que, não podendo sair de casa, foi possível dar asas à criatividade. Esperando que a chuva se afaste durante os Santos Populares, fica assim uma forma de relembrar estes meses mais cinzentos».


Por seu lado, Vasco Figueiredo com a ‘Encalcetada’ faz uma alusão à calçada portuguesa que é tão típica da cidade. «Quis trabalhar uma parte essencial da cidade de Lisboa, que transmitisse o valor de ‘tradição’. Desenhei esta sardinha como se estivesse ainda a ser construída pelo seu próprio calceteiro. O jogo com o espaço negativo, de forma irónica, alude para uma trinca dada no peixe que é agora reconstruído. À medida que ia preenchendo o pavimento, dei por mim a ser também um calceteiro, o que deixou uma sensação de proximidade não só com a criação, como com os passeios por onde todos os dias passo».


Por fim, Ruivo autor da ‘Sardinha Bordada: A Tradição em Cada Ponto’ apostou nos bordados nacionais, uma cultura tão nossa. «Uma sardinha que homenageia a arte do bordado tradicional português, trazendo à tona a delicadeza e a riqueza dos motivos florais e geométricos que representam a essência cultural de regiões como Viana do Castelo e Madeira. Com cores vibrantes e formas subtis, esta criação celebra a herança artesanal de Portugal, traduzindo sua beleza em um símbolo simples, mas repleto de significado e história».

Como tudo começou
A primeira sardinha associada às festas de Lisboa surge em 2003, desenhada pelo Atelier Silvadesigners, num desafio lançado pela EGEAC. Em 2009, o ateliê convida ilustradores e artistas plásticos para desenhar sardinhas: André Carrilho, Bela Silva, Henrique Cayatte, João Maio Pinto, Nuno Saraiva e Pedro Proença revelam a sua visão pessoal da sardinha.
E até ganhar o seu espaço não foi preciso muito. «Consolidada como uma marca património de Lisboa, a sardinha inundou a cidade para publicitar as múltiplas iniciativas das Festas como Outras Cenas e Rotas & Rituais, ou o teatro e a música nos elétricos, comboios e metro de Andar em Festa», chegou a dizer à Luz a EGEAC.


Em 2010 a multiplicação criativa da marca continua com uma nova geração de ilustradores editoriais: André da Loba, Bernardo Carvalho, João Fazenda, José Feitor, Madalena Matoso, Tiago Albuquerque e Yara Kono. Aparecem aos milhares, em faixas para colocar nas típicas varandas alfacinhas, e distribuídas em ações de rua, as chamadas ‘Sardinhas de Guerrilha’.
No ano seguinte, a EGEAC lança o concurso de criatividade ‘Sardinha Festas de Lisboa’, desafiando qualquer um a criar as sardinhas das festividades populares. Com o mote ‘A sardinha é minha!’ recebeu milhares de propostas de todo o mundo. «Deu-se assim início à democratização da criação da sardinha que, ano após ano, insiste em superar todas as expectativas. Em apenas cinco anos, mais de 25 mil sardinhas, digitais e tridimensionais, de autores consagrados e virtuosos amadores, com temas políticos, históricos, simplesmente gráficas ou abstratas, lisboetas e do mundo, as sardinhas e os seu autores mostram a riqueza e a diversidade dos imaginários, de todos e de cada um. Uma legião de fãs e o ritual de criar, colecionar e ver sardinhas criaram a força e o crescimento exponencial desta marca, que vai muito além de qualquer estratégia, transformando a sardinha na Love Brand de Lisboa».


Mas é em 2014 – ano do lançamento oficial da marca Sardinha – que a entidade promotora passou a desafiar várias marcas e várias empresas a desenvolverem produtos próprios e a associarem-se a este fenómeno. Desde aí, não pára. E os números falam por si.