O cordão umbilical que une a mãe e o bebé mantém-se e transforma-se de forma simbólica ao longo do tempo. De início mais curto e forte, representando a simbiose entre a mãe e o bebé, vai esticando com o tempo à medida que o bebé cresce e se desenvolve.
As mães assistem ao crescimento dos filhos, que lhes parece sempre demasiado acelerado. Ao longo deste processo, todos os marcos de crescimento deixam as mães num misto de sentimentos. Por um lado, deleitam-se ao vê-los crescer, celebram cada nova etapa, por outro custa-lhes. Custa-lhes muitas vezes. E às vezes custa-lhes muitíssimo. Custa-lhe quando os filhos entram para a creche porque sentem que eles deixam de ser só seus para passarem a ser das educadoras, dos amigos, do mundo. Porque já são crescidos, porque a separação à entrada da sala às vezes é dolorosa e regada de lágrimas, porque deixam de ser bebés para começarem a ser crianças. Mas também lhes custa quando saem da creche e vão para a escola dos crescidos, porque já não são tão pequeninos e vão passar metade do dia sentados. Mais tarde, claro, custa-lhes quando saem do 1.º ciclo para entrarem para o 2.º, porque vão para aquela escola enorme, onde se vão sentir perdidos de certezinha. É a confirmação de que a infância está prestes a terminar e com ela a inocência, as brincadeiras genuínas, a relação mais próxima, o início de uma maior independência. No 3.º ciclo as mães sabem que já têm pouca voz nas escolhas e decisões dos filhos e quando recebem uma resposta torta despertam na memória um tempo distante, quando tinham o seu bebé minúsculo ao colo e o mundo se apagava à sua volta. Quando brincavam juntos e tudo o que faziam era a melhor coisa do mundo, quando a sua presença era a mais importante de todas.
As mães sofrem de dores de crescimento, que são um processo que não se desenvolve em todas da mesma forma. Algumas sentem-nas com maior intensidade, outras mais tenuamente. São mais suaves ou inexistentes naquelas que vivem intensamente o presente e o futuro, que têm uma vida mais preenchida e independente dos filhos. E mais intensas naquelas que não resistem a olhar para trás. São tão mais intensas quanto a dedicação aos filhos as fez esquecerem-se de si próprias.
É saudável e expectável que haja um envolvimento grande entre a mãe e o filho. Que esta relação no início seja simbiótica e depois se mantenha próxima, inteira, bem vivida e regada. Mas, da mesma forma, é importante que as mães acompanhem o crescimento dos filhos fazendo o seu próprio ‘crescimento’. Que não se descomprometam consigo, com os seus interesses, com os seus projetos, com a sua vida, com a família, com os amigos e com o que as rodeia e lhes diz respeito. Que não se esqueçam do que gostam, do que lhes dá prazer e que deixaram de fazer quando os filhos ainda precisavam muito delas. Quanto maior for a distância consigo, quanto mais se desinvestirem para se ocuparem ‘só’ do papel de mães, quanto menor a capacidade de se reencontrarem e de reunir os dois mundos, o orgulho e alegria com que sentirão os filhos crescer dificilmente estará livre de uma pontinha de dor, fininha, solitária e silenciosa.
Por mais difícil que às vezes possa parecer, a certa altura as mães têm de se reencontrar e reorganizar, para que não se sintam sozinhas e perdidas quando a felicidade e bem-estar dos filhos já não depender só delas. Para que a sua felicidade germine também dos seus próprios interesses, dos seus sonhos, daquilo que as realiza. E para que ambos possam manter uma relação estreita, mas crescer e trilhar o seu caminho com autonomia e leveza.