Energia nuclear pesa na Europa mas é tema tabu em Portugal

Paulo Santos que gere as centrais nucleares de Ascó e Vandellós II na província de Tarragona, na Catalunha, acena com níveis máximos de segurança e compara este setor ao que se assiste na aviação civil

As energias renováveis têm um peso cada vez mais importante na produção de energia, seguidas dos combustíveis fósseis e da energia nuclear. No entanto, a percentagem de cada uma delas é diferente em cada país da União Europeia (UE). E os dados falam por si. A UE produziu 2.572 TWh (terawatt-hora) de eletricidade. Mais de 45 % provieram de fontes renováveis. Os combustíveis fósseis representaram 31,7% e a eletricidade nuclear quase 23%. O gás foi o principal combustível fóssil usado para produzir eletricidade (17%), seguido do carvão (11,7%), revelam os dados da Comissão Europeia.

O peso do nuclear depende, acima de tudo, das opções políticas. Portugal é um desses exemplos ao continuar de costas voltadas a esta fonte de energia, admitem os especialistas ouvidos pelo Nascer do SOL  que recordam que o nuclear em Portugal teve um momento decisivo em 1976, quando o Governo ponderou a construção de uma central nuclear em Peniche para reduzir a dependência energética do país. Aideia tinha ganho força devido à crise petrolífera de 1973, agravada pelo segundo choque de 1979. No entanto, o projeto encontrou forte oposição popular e política, levando ao seu arquivamento até aos dias de hoje.

Testemunho de um português

Apesar de algum receio que ainda existe em torno da insegurança das centrais nucleares, Paulo Santos, CEO da Associatión Nuclear Ascó-Vandellós II (ANAV) que gere as centrais nucleares de Ascó e Vandellós II na província de Tarragona, na Catalunha, afirma que as centrais nucleares funcionam com o máximo de segurança e admite que tem mais receio que algum dos trabalhadores sofra um acidente no local de trabalho do de um acidente nuclear. 

Quanto ao receio que continua a existir justifica com o desconhecimento, comparando o setor nuclear com o da aviação civil no que diz respeito à troca e partilha de informação e às melhorias que são feitas de forma regulada.  «Quando há um acidente de aviação há imediatamente um sentimento de medo, em que as vendas de bilhetes acabam por ser afetadas, pois há pessoas que ficam com medo e não querem viajar. Tudo isso exige uma investigação muito rigorosa e chega-se a uma conclusão que pode passar, por exemplo, por uma modificação de desenho de alguma componente de um determinado modelo de avião, tornando essas alterações obrigatórias a todos os operadores que tenham esse modelo. Com as centrais nucleares é  a mesma coisa», diz.

É certo que a crescente eletrificação da economia e o aumento da procura de energia por parte de setores como a inteligência artificial, os data centers e a computação de alto desempenho têm levado gigantes tecnológicos a considerar fontes de energia mais estáveis e previsíveis, como o nuclear. E empresas como a Microsoft e a Google já demonstraram interesse em pequenas centrais modulares para garantir fornecimento energético contínuo e sem emissões.