Vendo e ouvindo o que diz a extrema-esquerda portuguesa, chego a pensar que há um fascista em cada esquina e que o futuro se avizinha tenebroso, com suásticas nas escolas e em todos os estabelecimentos públicos, com a devida instauração de uma ditadura. Nunca como hoje houve tantas certezas e tantos julgamentos populares, parecendo até que a criminalidade está a disparar, quando há uns meses os mesmos que agora gritam que o ‘fascismos não passará’, eram os mesmos que diziam que vivíamos no paraíso. Não sei se a história de agressão ao ator Adérito Lopes partiu de um bêbado ou se foi uma atitude ‘fascista ou racista’, embora tenha dificuldades de associar racismo a uma agressão entre duas pessoas da mesma cor. Como vivemos num país de medíocres, nada como esclarecer que abomino extremos, sejam eles de direita ou de esquerda e que a violência me causa uma enorme repulsa. E entendo que as polícias devem estar muito atentas aos fenómenos extremistas e não permitir que cresçam e espalhem o seu ódio pelas redondezas. Segundo o nosso jornal, estão identificados 11 grupos de neonazis, que deverão ser umas dezenas ou centenas de bestas que querem espalhar o ódio e a violência por onde passam.
Mas rapaziada que vê um fascista, racista e xenófobo em cada esquina devia ser obrigada a ler a entrevista do xeique David Munir ao Público – que curiosamente nem uma breve fez como chamada de capa. O imã da Mesquita Central de Lisboa explica tim tim por tim tim, como deve ser o comportamento dos imigrantes muçulmanos que escolheram Portugal para refazer a sua vida. Antes, revela como ficou magoado por ser acusado por um energúmeno, e a expressão é minha, de traidor e que «esta não é a tua pátria», quando participou no Encontro Nacional de Homenagem aos combatentes, em Belém. «Fiquei mais triste por isto ter sido dito no local aonde vou há 25 anos, para uma oração inter-religiosa em memória das pessoas que deram as suas vidas pela nossa pátria».
Munir percebe muito bem quais são as desconfianças da maioria dos portugueses em relação ao tipo de imigração que estamos a ‘receber’, além de ter explicado como se ‘espalha’ o discurso do ódio, de ambos os lados, nas redes sociais. Vejamos o que diz o xeique Munir sobre a integração dos imigrantes. «Costumo dizer aos muçulmanos: ‘Meu caro, se você não está satisfeito num país que te deu toda a liberdade, não venha impor a sua cultura. Se você não está satisfeito, imigra. Vá para outro país ou volte para o seu país, com todo o respeito». Para que não restem dúvidas, repito, a resposta que está a bold é do xeique Munir. E qual foi a pergunta seguinte do Público? «Esse discurso islamofóbico recente em Portugal relaciona-se com a identificação de algumas zonas da cidade, nomeadamente em Lisboa? É possível fazer o Benformoso de outra forma?». Tirando o insólito de a perguntar insinuar que Munir é islamofóbico, eis a resposta do líder dos muçulmanos de Lisboa: «É possível, mas temos que trabalhar em conjunto. Não foi por falta de aviso. As pessoas podem viver lá desde que cumpram as leis, desde que saibam respeitar o próximo, desde que saibam integrar-se e conhecer a língua. Agora, quando uma pessoa que sai de um país onde 90% da população é muçulmana e vem para um país novo, tem de se habituar. Tem de saber respeitar o outro, tem de saber os costumes e as tradições. Há uns tempos falaram que queriam fechar a campanha eleitoral com o espeto de porco na rua do Benformoso. Desde que a autoridade o permita, façam-no. Não vai incomodar nenhum muçulmano. Querem andar com a cruz, simbolizar o cristianismo, tudo bem. Não incomoda nenhum muçulmano. Desde que o façam de acordo com as normas e as leis do país». A mim só me ocorre dizer, obrigado xeique Munir pela lucidez das suas respostas.
Telegramas
Um Mundial para papalvos
O Campeonato do Mundo de Clubes está a dar na DAZN, mas quem é assinante do canal pode não conseguir ver na televisão, pois precisa de descarregar a aplicação no telemóvel ou computador. Será que os responsáveis do canal já perceberam a quantidade de assinantes que excluíram com esta modernidade?
Lamentável.
O mundo está louco
A moda de ver fascistas em todo o lado está em todo o lado. Esquecendo o trocadilho, diga-se que emVeneza anunciaram-se manifestações para contestar o casamento de Jeff Bezos, que se realizará na igreja mais emblemática do local. «Fascista, vai para tua terra», gritou-se. Também as vítimas do excesso de turismo se mostram contrárias a mais publicidade. Isso percebe-se…
Avança camarada
Augusto Santos Silva, uma das criaturas mais irritantes – para ser simpático – da vida portuguesa, está contra a candidatura presidencial de António José Seguro. Por que não avança, caro ex-ministro socrático? Seria um domingo bem animado!!