O programa do novo Governo de Luís Montenegro apresenta uma visão clara: colocar as empresas no centro da transformação económica do país. Uma visão que não parte de abstrações, mas da realidade concreta com que o tecido empresarial se confronta diariamente.
Os dados mais recentes de um inquérito do Kaizen Institute a empresários portugueses são elucidativos. Mais de metade das empresas identificam a transformação tecnológica como um dos maiores desafios, mas apenas 7% utilizam inteligência artificial nos seus processos principais. Dois terços estão focadas em melhorar a eficiência energética, mas esbarram frequentemente em dificuldades de financiamento e num enquadramento regulatório instável.
Este Governo acerta ao reconhecer que as empresas não precisam de discursos, mas de condições. A resposta política tem de estar alinhada com os desafios reais do setor produtivo. O reforço da digitalização e da inovação é assumido como prioridade, com um enfoque especial no apoio à adoção de inteligência artificial em contexto empresarial e na capacitação das PME para esta transição. Não se trata apenas de comprar tecnologia, mas de criar valor através dela. Portugal não pode ficar na cauda da Europa no que toca à produtividade e à competitividade.
O mesmo se aplica à transição energética. Com 66% das empresas a apostar em fontes renováveis e na eficiência, a política pública deve premiar este esforço e removê-lo da dependência da burocracia. A orientação dos fundos europeus para projetos que ligam sustentabilidade e competitividade será determinante para transformar intenções em impacto.
Mas os obstáculos não são apenas tecnológicos. São humanos. A dificuldade em reter talento jovem qualificado é uma realidade transversal a todos os setores. Quase 80% das empresas identificam este problema como um dos principais entraves ao seu crescimento. O Governo responde com a política de IRS jovem até aos 35 anos, sinalizando que o país quer e precisa de manter os seus quadros mais qualificados. É uma medida de justiça geracional e de incentivo ao investimento pessoal em Portugal.
Também o acesso ao financiamento é uma dor de cabeça para sete em cada dez empresas. O Banco de Fomento ganha aqui um papel reforçado, com novos programas de crédito desenhados para responder às necessidades das empresas que querem crescer, exportar e inovar. A integração da AICEP na tutela da Economia e da Coesão é igualmente um sinal de mudança. O objetivo é claro: alinhar a diplomacia económica com uma estratégia coerente de internacionalização, que vá além do turismo e aposte na diversificação da base exportadora portuguesa.
Num contexto internacional marcado pela instabilidade, que 86% das empresas identificam como a maior ameaça ao crescimento, Portugal não pode hesitar. A política económica tem de ser uma política de antecipação, de estímulo e de confiança. O novo Governo está consciente disso e apresenta um programa que privilegia o crescimento, a competitividade e a retenção de talento. A execução, como sempre, será o verdadeiro teste. Mas o caminho está bem traçado. E é, acima de tudo, o caminho certo.
Eurodeputada PSD