Pronto, já está. A temida cimeira da NATO lá acabou por ter um bom desfecho esta semana em Haia. Pelo menos um desfecho que permitiu manter as aparências. Trump não só apareceu, como não se foi embora a meio, como acabou por dizer que partia satisfeito.
Encenação ou realidade? É a dúvida que fica, para quem assistiu aos preliminares e à conclusão. Os parceiros dos Estados Unidos na Aliança Atlântica acabaram por assinar o documento final onde ficou contido o objetivo de que todos aceitavam chegar ao objetivo de atingir os 5% do PIB em despesas de defesa, até 2035. Daqui a dez anos.
Mas é nos detalhes das conclusões que podemos entrever que o documento assinado a contragosto por todos os Estados membros não significa que os objetivos sejam mesmo para ser cumpridos.
Dos relatos que nos chegam dos bastidores da cimeira percebe-se que a diplomacia, e em particular diplomatas portugueses, tiveram um papel fundamental para conseguir chegar a um texto consensual. A nossa diplomacia, e em particular o diplomata que nos representa na Nato, Paulo Viseu Pinheiro, tem uma habilidade e influência muito superiores à dimensão e peso de Portugal na organização. Não é, por isso, de estranhar que o Secretário-Geral da NATO tenha recorrido aos nossos diplomatas para desatar o nó que poderia ditar um fiasco na cimeira, com consequências dramáticas, em primeiro lugar para a Ucrânia e por acréscimo para toda a defesa europeia. Em Haia ficou provado que a nossa já não é uma diplomacia do croquete. Muito longe disso. As nomeações de António Guterres e António Costa já o tinham provado.
E o que conseguiram então, Mark Rutte e os restantes líderes sentados à mesa com Donald Trump? Afagar ainda mais o ego do inquilino da Casa Branca que tem como principal prioridade olhar-se todos os dias ao espelho e dizer: és o maior e mandas em tudo! Permitir que Trump saísse de Haia satisfeito consigo próprio foi a prioridade assumida.
O Presidente dos Estados Unidos chegou à cimeira com uma demonstração de força no bolso (o ataque de bombardeiros às instalações nucleares iranianas e a imposição de cessar-fogo a Israel e ao Irão). Sair da cimeira com todos os parceiros da Nato a cumprir a sua vontade, ainda que com nuances que podem fazer toda a diferença, foi quanto bastou para Trump cantar vitória numa longa conferência de imprensa em que falou todo o tempo na primeira pessoa, atribuindo-se todos os créditos de homem providencial que vai fazer do mundo um lugar muito melhor.
No fundo, a cimeira desta semana em Haia foi uma produção ao estilo de Hollywood. Tudo parece perfeito e o impossível, possível. Como é que todos os líderes presentes conseguiram assinar um compromisso que sabem que não podem cumprir? Porque aceitaram representar um papel no filme da gloriosa epopeia do Sr. Trump, um homem extraordinário e fantástico. Parece infantil demais para governantes? Sim, mas nos dias que correm, ou jogamos este jogo com jeitinho e prudência (é aí que entra a diplomacia, ou os detalhes), ou o mundo pode bem ir pelos ares porque o Sr Trump amua.
Sendo assim mais vale perder a vergonha e não ter medo de afirmar, como nos últimos dias fizeram Netanyahu e Rutte: congratulations extraordinary mister Trump. Tudo isto esperando que em 2029 (ano em que o documento assinado em Haia vai ser revisto), o inquilino da Casa Branca seja pelo menos mais adulto.