Já está no terreno em pré-campanha nas autárquicas de Lisboa. A ex líder parlamentar dos socialistas rejeita depressões pós-eleitorais e acha que o partido deve andar para a frente.
Em que ponto estão as negociações para uma coligação mais alargada da sua candidatura?
Tem havido conversas informais e neste momento não posso antecipar mais. O ponto principal, tem a ver com o programa, com as linhas programáticas. Se houver acordo quanto a isso…
Mas há um deadline para esse processo?
Não estipulamos a nós próprios nenhum deadline. As listas terão de ser apresentadas até ao fim de julho, antes disso tem de haver novidades.
Tem-se apresentado como alguém que, se chegar a Presidente da Câmara, vai decidir em diálogo. O que isso quer dizer exatamente?
Quer dizer que o que sinto nos últimos quatro anos em Lisboa e que também foi a motivação para aceitar o desafio do secretário-geral, é que Lisboa é uma cidade parada. A Lisboa do Carlos Moedas é uma cidade adiada. É uma cidade em que inúmeras decisões importantes para o futuro da cidade foram adiadas. Houve vários exemplos: o plano de mobilidade não foi feito, o PDM não foi revisto; não houve decisão sobre os programas de renda acessível.
Mas esse é um problema que já vem do mandato anterior.
Não é bem verdade, o do Restelo eu conheço bem, porque é atrás da minha casa. Teve uma primeira volumetria que foi objeto de discussão pública, isto ainda no tempo de Fernando Medina, na sequência disso houve uma revisão do projeto para reduzir a volumetria e esse era o que avançaria. Entretanto houve eleições, mudou o executivo da Câmara e depois parou.
Vamos então falar de habitação, o que é que tem projetado para dar aqui um passo definitivo?
Várias linhas de ação do lado da oferta e do lado da procura. É preciso relançar os programas de renda acessível, também em parceria com privados. Para isso, é preciso que eles tenham alguma componente que também seja atrativa para que os privados tenham interesse. Isso pode, por exemplo, fazer-se misturando casas que são de renda acessível, com fogos que não são. Não tenho nada contra a parceria com privados, pelo contrário. Por outro lado, é preciso que a Câmara, quanto pode atuar – em imóveis devolutos que são muitas vezes até do próprio município e que devem ser qualificados primordialmente para habitação – o faça. Mas há ainda outro instrumento que é exercer mais vezes, dentro naturalmente das possibilidades orçamentais e financeiras, o direito de preferência. A Câmara tem direito de preferência e pode exercê-lo para que o imóvel, em vez de ser vendido para um hotel, em vez de ser vendido para outra coisa, exercer esse direito e destinar a renda acessível. Finalmente, há absolutamente que regular o alojamento local.
Para além da questão da habitação, o que é que já identificou como prioridade?
A questão dos transportes. Já avançámos com a proposta dos transportes gratuitos para todos os residentes em Lisboa. Neste momento havia até certa idade e a partir de certa idade, deixando de fora exatamente os trabalhadores. É uma medida que tem dois objetivos, de mobilidade e de justiça social. Outra área tem a ver com a criação de salas de estudo para estudantes do ensino superior. Nós temos muito poucas. As salas de estudo podem ser feitas de raiz ou que podem ser feitas em colaboração com universidades e até utilizando a rede que devia ser muito maior, mas que já existe alguma coisa, de bibliotecas municipais que podem prestar esse serviço durante a noite. Segunda nota, criar bolsas de estudo para estudantes do ensino superior carenciados, já existe noutros concelhos e também deve existir em Lisboa. Finalmente criar um cartão que se poderá apelidar de cartão Lisboa, que faz aqui uma ponte entre os jovens e a cultura e que é para que os jovens tenham a possibilidade de até um determinado montante que obviamente também tem de ser estudado, poderem usar esse cartão em espetáculos em Lisboa espetáculos culturais.
Se conquistar Lisboa é o primeiro passo para que o Partido Socialista possa começar a recuperar o seu papel de grande partido?
O PS, já de há muitos anos para cá, é o maior partido autárquico, eu acho que sim, ganhar as eleições autárquicas é muito importante em qualquer contexto e Lisboa, obviamente, sendo a cidade que tem o seu peso próprio, tem significado.
Se não ganhar as eleições, vai manter-se como vereadora?
Vou. Se não ganhar, ou se não ganhasse, assumirei o meu lugar de vereadora da oposição por todo o mandato.
O futuro líder do partido, que será eleito este fim de semana, tem posto como prioridade estar ao lado dos autarcas, mas ainda não esteve ao seu lado em campanha?
Não, na verdade ainda não calhou. Estará amanhã (quinta-feira) na secção da área urbana de Lisboa a apresentar a sua candidatura, onde eu estarei também a assistir. Foi conhecido que conversámos e tem sido muito profícuo, sinto-me apoiada.
Não lhe faz alguma confusão que estas eleições (no PS) tenham apenas um candidato?
Não me vou pronunciar sobre isso. É em Lisboa que estou focada, centrada nisto, na minha candidatura a Lisboa. É aí que eu acho que posso fazer o maior serviço pelo partido, pelo meu partido e pela minha cidade. E, portanto, acho que agora é preciso apoiar o futuro secretário-geral e colaborar com ele em tudo, porque isso é que é importante para que o Partido Socialista também possa fazer mais.
A situação em que estamos tem muito a ver com o passado recente. A Alexandre Leitão fez parte dessas decisões. Houve notícias de que, no núcleo duro do anterior secretário-geral, sobretudo na questão da votação da moção de confiança do Governo, houve desacordo quanto à decisão a tomar. Fez parte dos que discordaram?
As decisões são discutidas internamente. Há posições várias. Uma vez tomadas as decisões, somos solidários.
Mas então deixe-me perguntar-lhe: arrepende se de algumas decisões que foram tomadas neste último ano? Por exemplo na questão do próximo orçamento, acha que o PS deve repetir o guião?
A situação mudou. Uma coisa era a situação de 2024 com um empate em número de deputados, agora é diferente e, portanto, acho que não se tem de tomar as mesmas decisões.
Se chegar a presidente da Câmara de Lisboa, esse é um lugar tradicional, de onde se salta para outros voos mais altos, cargos de primeiro-ministro ou Presidente da República. É uma coisa que antevê?
Sei que vai achar uma resposta pouco imaginativa, mas não vejo o lugar de presidente da Câmara Municipal de Lisboa como um degrau ou um trampolim para outro cargo. É nisso que estou focada.
Mas reconhece que dá uma visibilidade e uma experiência útil para outras funções?
Que dá muita visibilidade e muita experiência a quem pode ter altos cargos, sim. É um cargo que permite, sobretudo, melhorar muito a vida das pessoas.