O PS na encruzilhada!

É preciso encontrar, na sociedade civil e na área socialista, novos protagonistas que não vivam exclusivamente das quotas e dos sindicatos de voto.

Depois de, nas últimas eleições, ter sofrido a mais humilhante derrota da sua história, seria expectável que o PS estabilizasse para refletir sobre as causas de hecatombe e preparasse o novo ciclo que se iniciou no país.

Infelizmente, para o partido e para o regime, parece que não é isso que irá ocorrer!

Após a demissão do anterior líder, que, rapidamente foi transformado no bode expiatório da desgraça eleitoral, a direção partidária, usando uma espécie de ‘abuso do poder’ optou pela mudança mínima, para que a maioria dos atuais dirigentes se mantenham e não sejam escrutinados.

Não há notícias da realização de plenários de militantes, abertos a todos, e longe vão os tempos de Soares em que os socialistas eram chamados, diretamente, à discussão dos assuntos mais fraturantes, para que as direções de turno pudessem definir as suas políticas.

A opção foi mais simples e menos maçadora: fica tudo como está, arranja-se só um líder transitório conveniente, que possa ser responsabilizado, se as coisas correrem mal nas autárquicas, e que seja razoavelmente dependente se, por milagre, as coisas correrem bem.

Tudo isto, claro, com a cobertura do presidente do partido e da Comissão Nacional que, hoje, só representam o passado.

Com os bárbaros (salvo seja) à porta, já não se discute o sexo dos anjos, mas assobia-se alegremente para o lado, a ver se a culpa esquece.

Ora a prova evidente deste erro estratégico, que mais não é do que empurrar os problemas com a barriga, começa a ser notória em dois domínios essenciais para o futuro do Partido Socialista.

O primeiro é o das eleições Presidenciais.

Na lógica do interesse partidário, dificilmente se compreende o que se está a passar.

Havendo já um candidato assumido na área do socialismo (António José Seguro), cujo pensamento faz pontes e acolhe apoios noutras áreas políticas, não se compreende a ausência de apoio do partido, mas, sobretudo, a antipatia, a roçar o ódio, que lhe dedicam, no espaço público, alguns dirigentes no ativo.

Isto só é assim porque o PS se recusa a analisar as razões do seu fracasso e não quer identificar os verdadeiros responsáveis.

O outro domínio relevante é o do relacionamento com a atual maioria governamental.

O PS deve ser uma oposição, firme, esclarecida e responsável, pois é o partido que constitui a única alternativa ao atual poder, independentemente de circunstâncias aleatórias o terem colocado, transitoriamente, em representação parlamentar, atrás do partido populista.

Mas isso implica que os socialistas tenham entendido que com o inicio de um novo ciclo governamental a estabilidade, durante esse ciclo, é do interesse do país.

O confronto artificial com o executivo, a reboque da extrema esquerda, sobre a utilização da Base das Lajes, e a acusação de que o programa de governo plagiava medidas da oposição, não foi um começo brilhante.

Isto não significa que o socialismo abdique das suas causas ou desista de se preparar para assumir o poder.

Mas este ‘caderno de encargos’ necessita, agora, dum enorme esforço de renovação e de uma discussão franca sobre tudo, sem guetos, sem exclusões e sem o recurso ao divisionismo como método.

As gerações que fundaram e desenvolveram o PS estão agora, naturalmente, a sair de cena ou, pelo menos, a diminuir substancialmente a sua influência.

Foram substituídas nos últimos 20 anos por uma geração de jovens mal preparados, que pouco mais conhece da vida, para lá do ‘muito’ que aprendeu nas juventudes partidárias.

É preciso encontrar, na sociedade civil e na área socialista, novos protagonistas que não vivam exclusivamente das quotas e dos sindicatos de voto.

É difícil? É. Mas se fosse fácil não seria para os socialistas.

O ‘futuro’ não é já, mas não demora muito tempo.